São Paulo, terça-feira, 06 de novembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Itália expulsa imigrantes romenos

Deportação é facilitada por decreto baixado na semana passada em resposta a morte de italiana

Prisão de romeno pelo crime gerou violência contra colônia; UE adverte Roma, que ouve protestos de Bucareste e do Vaticano

DA REDAÇÃO

A Comissão Européia -órgão Executivo da União Européia- lembrou ontem Roma de que toda expulsão de um cidadão de um país-membro do bloco europeu deve ser individual e permitir apelação judicial. A declaração diz respeito à onda de expulsões que a Itália começou a promover contra imigrantes romenos. As medidas são respaldadas por um decreto baixado pelo presidente da República, Giorgio Napolitano, na última quarta-feira.
O decreto facilita, em nome da segurança pública italiana, a expulsão de imigrantes procedentes de outros países da UE que sejam maiores de idade e que morem no país há menos de dez anos. A lei, que visa expulsar imigrantes considerados perigosos, estabelece que, para tanto, basta um juiz assinar uma ordem de expulsão, sem necessidade de provas criminais ou julgamento do cidadão a ser expulso.
As principais vítimas do novo decreto, que vale por 60 dias, após os quais tem de ser transformado em lei pelo Parlamento, têm sido os imigrantes romenos. E foi um assassinato supostamente cometido por um romeno o episódio que culminou na publicação do decreto.

Morte e espancamento
Na última terça-feira, a polícia encontrou, num fosso na periferia de Roma, o corpo da mulher de um oficial da Marinha italiana. O fosso é próximo de um cortiço ocupado por ciganos romenos. Pouco depois um cigano romeno de 24 anos foi preso como suspeito do assassinato da mulher.
Na sexta-feira, um grupo de homens mascarados espancou quatro romenos nas cercanias da capital italiana. A agressão, assim como o decreto do governo italiano, foram criticados pelo presidente da Romênia, país recentemente admitido na UE, Traian Basescu: "Nós apoiamos a punição a qualquer criminoso, mas não podemos concordar com a humilhação de milhões de romenos".
Com a decretação das medidas de segurança, a Itália começou a expulsar imigrantes romenos de seu território -segundo a BBC, autoridades milanesas mandaram embora quatro na última sexta-feira, e 12 outras deportações já haviam sido autorizadas. A polícia fez blitze em moradias de ciganos romenos em Roma, inclusive derrubando algumas.
A comunidade romena na Itália é de cerca de 340 mil pessoas, segundo estatísticas oficiais. Mas a organização católica Cáritas afirma que esse número é de mais de 550 mil, ou 1% da população italiana.
Além do atrito diplomático com Bucareste -que o premiê italiano, Romano Prodi, nega-, a decisão de Roma gerou reação no Vaticano. No domingo, o papa Bento 16 lembrou que os imigrantes têm deveres mas também direitos. Além disso, a Santa Sé emitiu ontem um documento exortando a sociedade a superar os preconceitos contra os ciganos.
Apesar das críticas, o premiê italiano, Romano Prodi, disse ontem ao jornal "Il Messaggero" ter de "responder às exigências dos cidadãos que pedem mais segurança", defendendo o decreto. Prodi deve ir a Bucareste para se encontrar com Basescu ainda nesta semana.

Coalizão fraca
O decreto de Napolitano foi mais um fator a expor a debilidade da coalizão de centro-esquerda do governo Prodi. Alguns parlamentares de esquerda dizem que não aprovarão o decreto, por o considerarem racista. A oposição, de direita, também quer emendas ao decreto, por o considerar brando em alguns aspectos.
Segundo o jornal "La Repubblica", Prodi espera que direita aprove o decreto, que o premiê considera "claríssimo". Com o apoio da oposição, Prodi pode se dar ao luxo de dispensar o voto da esquerda supostamente aliada, embora isso lhe acarrete um custo político.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Curdos: Em reunião com premiê turco, Bush tenta adiar ação no Iraque
Próximo Texto: Chefe da Cosa Nostra é preso na Sicília
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.