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Itália expulsa imigrantes romenos
Deportação é facilitada por decreto baixado na semana passada em resposta a morte de italiana
Prisão de romeno pelo crime gerou violência contra colônia; UE adverte Roma, que ouve protestos de Bucareste e do Vaticano
DA REDAÇÃO
A Comissão Européia -órgão Executivo da União Européia- lembrou ontem Roma de
que toda expulsão de um cidadão de um país-membro do
bloco europeu deve ser individual e permitir apelação judicial. A declaração diz respeito à
onda de expulsões que a Itália
começou a promover contra
imigrantes romenos. As medidas são respaldadas por um decreto baixado pelo presidente
da República, Giorgio Napolitano, na última quarta-feira.
O decreto facilita, em nome
da segurança pública italiana, a
expulsão de imigrantes procedentes de outros países da UE
que sejam maiores de idade e
que morem no país há menos
de dez anos. A lei, que visa expulsar imigrantes considerados perigosos, estabelece que,
para tanto, basta um juiz assinar uma ordem de expulsão,
sem necessidade de provas criminais ou julgamento do cidadão a ser expulso.
As principais vítimas do novo
decreto, que vale por 60 dias,
após os quais tem de ser transformado em lei pelo Parlamento, têm sido os imigrantes romenos. E foi um assassinato supostamente cometido por um
romeno o episódio que culminou na publicação do decreto.
Morte e espancamento
Na última terça-feira, a polícia encontrou, num fosso na
periferia de Roma, o corpo da
mulher de um oficial da Marinha italiana. O fosso é próximo
de um cortiço ocupado por ciganos romenos. Pouco depois
um cigano romeno de 24 anos
foi preso como suspeito do assassinato da mulher.
Na sexta-feira, um grupo de
homens mascarados espancou
quatro romenos nas cercanias
da capital italiana. A agressão,
assim como o decreto do governo italiano, foram criticados
pelo presidente da Romênia,
país recentemente admitido na
UE, Traian Basescu: "Nós
apoiamos a punição a qualquer
criminoso, mas não podemos
concordar com a humilhação
de milhões de romenos".
Com a decretação das medidas de segurança, a Itália começou a expulsar imigrantes romenos de seu território -segundo a BBC, autoridades milanesas mandaram embora
quatro na última sexta-feira, e
12 outras deportações já haviam sido autorizadas. A polícia
fez blitze em moradias de ciganos romenos em Roma, inclusive derrubando algumas.
A comunidade romena na
Itália é de cerca de 340 mil pessoas, segundo estatísticas oficiais. Mas a organização católica Cáritas afirma que esse número é de mais de 550 mil, ou
1% da população italiana.
Além do atrito diplomático
com Bucareste -que o premiê
italiano, Romano Prodi, nega-,
a decisão de Roma gerou reação
no Vaticano. No domingo, o papa Bento 16 lembrou que os
imigrantes têm deveres mas
também direitos. Além disso, a
Santa Sé emitiu ontem um documento exortando a sociedade a superar os preconceitos
contra os ciganos.
Apesar das críticas, o premiê
italiano, Romano Prodi, disse
ontem ao jornal "Il Messaggero" ter de "responder às exigências dos cidadãos que pedem
mais segurança", defendendo o
decreto. Prodi deve ir a Bucareste para se encontrar com
Basescu ainda nesta semana.
Coalizão fraca
O decreto de Napolitano foi
mais um fator a expor a debilidade da coalizão de centro-esquerda do governo Prodi. Alguns parlamentares de esquerda dizem que não aprovarão o
decreto, por o considerarem racista. A oposição, de direita,
também quer emendas ao decreto, por o considerar brando
em alguns aspectos.
Segundo o jornal "La Repubblica", Prodi espera que direita
aprove o decreto, que o premiê
considera "claríssimo". Com o
apoio da oposição, Prodi pode
se dar ao luxo de dispensar o
voto da esquerda supostamente aliada, embora isso lhe acarrete um custo político.
Com agências internacionais
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