São Paulo, quinta-feira, 06 de novembro de 2008

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Flórida latina rompe com republicanos

ANDREA MURTA
ENVIADA ESPECIAL A MIAMI

Na Flórida, a promessa de Barack Obama de transformar o mapa eleitoral americano foi cumprida. Com o apoio de hispânicos, que mudaram para o lado democrata neste ano, e de negros, ele venceu a apertadíssima disputa com John McCain por uma diferença de menos de 200 mil votos (com 51% a 49% da preferência).
Nas últimas quatro décadas, a Flórida só preferiu democratas em duas outras eleições: a de Jimmy Carter, em 1976, e a de Bill Clinton para o segundo mandato, em 1996. Em 2000, o republicano George W. Bush venceu por 537 votos, depois de a Suprema Corte ordenar o fim da recontagem manual após erros e suspeita de fraude.
O resultado mais marcante de 2008 no Estado foi entre os latinos, que somaram 14% do total do eleitorado. Contrariando histórico republicano local, eles preferiram Obama por 57% a 42%, segundo bocas-de-urna.
Em 2004, enquanto os hispânicos votaram pelo democrata John Kerry nacionalmente (53% a 44%), latinos da Flórida preferiram o republicano George W. Bush por 56% a 44%.
A virada tem dois motivos principais. O primeiro é a queda da participação relativa dos latinos de origem cubana -mais republicanos- na comunidade. Eles passaram de 46% em 1990 para 34% hoje. Já o número de porto-riquenhos, de tendência democrata, cresce e soma 29% do voto latino hoje, segundo o Departamento Estadual de Eleições da Flórida.
A segunda razão é que, mesmo entre os cubanos, o apoio ao partido de McCain está em risco. "A importância da oposição a Fidel Castro, que os levava a preferir os republicanos, está caindo devido à mudança geracional", afirmou à Folha Stephen Craig, diretor do departamento de política da Universidade da Flórida.
"Cubanos da terceira e quarta gerações, que nasceram na Flórida, querem soluções políticas diferentes do embargo à ilha", completa o analista David Colburn, diretor do instituto de política e sociedade da mesma universidade. Por isso, segundo ele, não se importaram em votar em um candidato que apóia conversas sem precondições com Havana. Latinos locais de 18 a 29 anos -incluindo cubanos- preferiram Obama por 76% a 19%.
Stephen Craig afirma ainda que a tendência de derrocada republicana é geral. "O partido está perdendo a capacidade de explorar o conservadorismo social dos latinos. Além disso, a oposição à reforma migratória está prejudicando muito a imagem republicana no grupo."

Miami em festa
Dos negros da Flórida, que somaram 13% dos votos do Estado, 96% preferiram Obama, segundo a CNN.
Entre os brancos, que são a grande maioria (71%) dos eleitores da Flórida, John McCain ficou na frente em todas as faixas etárias e tanto entre homens quanto mulheres. No geral, 56% preferiram McCain e 42%, Obama.
Essas diferenças, porém, desapareceram na comemoração da vitória de Obama ontem. Em Ocean Drive, a pista foi tomada pela celebração durante a madrugada, com direito a buzinaço e eleitores de todas as cores juntos no coro de "sim, nós podemos" ("yes we can) no famoso distrito Art Deco de Miami.
A festa só foi interrompida pela chegada da polícia, que ameaçou prender as pessoas que não saíssem da avenida e acabou usando carros para interromper o trânsito barulhento dos que comemoravam o resultado democrata do Estado neste ano.


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