|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Flórida latina rompe com republicanos
ANDREA MURTA
ENVIADA ESPECIAL A MIAMI
Na Flórida, a promessa de
Barack Obama de transformar o mapa eleitoral americano foi cumprida. Com o
apoio de hispânicos, que mudaram para o lado democrata
neste ano, e de negros, ele
venceu a apertadíssima disputa com John McCain por
uma diferença de menos de
200 mil votos (com 51% a
49% da preferência).
Nas últimas quatro décadas, a Flórida só preferiu democratas em duas outras
eleições: a de Jimmy Carter,
em 1976, e a de Bill Clinton
para o segundo mandato, em
1996. Em 2000, o republicano George W. Bush venceu
por 537 votos, depois de a Suprema Corte ordenar o fim
da recontagem manual após
erros e suspeita de fraude.
O resultado mais marcante de 2008 no Estado foi entre os latinos, que somaram
14% do total do eleitorado.
Contrariando histórico republicano local, eles preferiram Obama por 57% a 42%,
segundo bocas-de-urna.
Em 2004, enquanto os hispânicos votaram pelo democrata John Kerry nacionalmente (53% a 44%), latinos
da Flórida preferiram o republicano George W. Bush
por 56% a 44%.
A virada tem dois motivos
principais. O primeiro é a
queda da participação relativa dos latinos de origem cubana -mais republicanos-
na comunidade. Eles passaram de 46% em 1990 para
34% hoje. Já o número de
porto-riquenhos, de tendência democrata, cresce e soma
29% do voto latino hoje, segundo o Departamento Estadual de Eleições da Flórida.
A segunda razão é que,
mesmo entre os cubanos, o
apoio ao partido de McCain
está em risco. "A importância da oposição a Fidel Castro, que os levava a preferir
os republicanos, está caindo
devido à mudança geracional", afirmou à Folha Stephen Craig, diretor do departamento de política da
Universidade da Flórida.
"Cubanos da terceira e
quarta gerações, que nasceram na Flórida, querem soluções políticas diferentes
do embargo à ilha", completa
o analista David Colburn, diretor do instituto de política
e sociedade da mesma universidade. Por isso, segundo
ele, não se importaram em
votar em um candidato que
apóia conversas sem precondições com Havana. Latinos
locais de 18 a 29 anos -incluindo cubanos- preferiram Obama por 76% a 19%.
Stephen Craig afirma ainda que a tendência de derrocada republicana é geral. "O
partido está perdendo a capacidade de explorar o conservadorismo social dos latinos. Além disso, a oposição à
reforma migratória está prejudicando muito a imagem
republicana no grupo."
Miami em festa
Dos negros da Flórida, que
somaram 13% dos votos do
Estado, 96% preferiram
Obama, segundo a CNN.
Entre os brancos, que são a
grande maioria (71%) dos
eleitores da Flórida, John
McCain ficou na frente em
todas as faixas etárias e tanto
entre homens quanto mulheres. No geral, 56% preferiram McCain e 42%, Obama.
Essas diferenças, porém,
desapareceram na comemoração da vitória de Obama
ontem. Em Ocean Drive, a
pista foi tomada pela celebração durante a madrugada, com direito a buzinaço e
eleitores de todas as cores
juntos no coro de "sim, nós
podemos" ("yes we can) no
famoso distrito Art Deco de
Miami.
A festa só foi interrompida
pela chegada da polícia, que
ameaçou prender as pessoas
que não saíssem da avenida e
acabou usando carros para
interromper o trânsito barulhento dos que comemoravam o resultado democrata
do Estado neste ano.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Para negros, Obama é ápice do processo de inclusão política Índice
|