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Intelectuais negros dizem que agenda importa mais
Para eles, propostas valem mais que o simbolismo
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Co-autor do "Relatório
Anual das Desigualdades Raciais no Brasil", estudo de referência sobre a evolução de indicadores sócio-raciais, o economista Marcelo Paixão comemorou a vitória de Barak Obama, especialmente "pela saída
da extrema direita americana
do poder".
O professor do Instituto de
Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e coordenador-geral do
Laeser (Laboratório de Análises Estatísticas Econômicas e
Sociais das Relações Raciais)
disse que Obama, "para os padrões americanos, é um candidato mais à esquerda".
"Ele tem uma mensagem tolerante, progressista, representa a vitória de demandas sociais, a vitória de ações afirmativas, do direito das mulheres,
dos ecologistas. É uma coisa
maravilhosa, independentemente da cor da pele."
"Acho que Obama sendo candidato, portando essa agenda, é
que me deixa feliz. Porque se
fosse Condoleezza Rice substituindo Bush eu não estaria feliz", acrescentou.
O escritor e historiador Joel
Rufino dos Santos elogiou a democracia americana e afirmou
que a vitória de Obama representa uma espécie de "lição" e
de "modelo" para o Brasil.
"Acho que isso que a gente
chama democracia, onde tem
mesmo é nos EUA. Uma democracia mais avançada. Nesse
sentido, é um modelo para o
Brasil. Acho que o velho [filósofo e teórico do comunismo
Karl] Marx de vez em quando
tem que ser lembrado. Ali é onde pode ter um socialismo realmente democrático. Porque a
economia é mais desenvolvida,
o povo tem mais tradição de
respeito ao outro."
Um exemplo dessa tradição,
na opinião do autor de "O Que é
Racismo?" e "Gosto de África,
Histórias de Lá e Daqui", é a
questão do preconceito contra
os negros. "Há 40 anos, [nos
EUA] o negro não podia beber
água no bebedouro de branco.
Hoje, um negro com nome árabe é eleito presidente. Isso só é
possível onde há uma longa tradição de respeito ao outro."
Essa mudança de comportamento ao longo das quatro últimas décadas, evidenciada pela
eleição de Obama, poderá ter
reflexos no Brasil, estima Rufino dos Santos.
"Do ponto de vista ideológico, para nós brasileiros é muito
positivo, porque é uma lição de
democracia. Inclusive de democracia racial", concluiu.
O presidente da Fundação
Biblioteca Nacional, Muniz Sodré, prevê que a escolha do futuro presidente norte-americano pelo eleitorado não trará
mudanças significativas nas relações econômicas e internacionais dos EUA, mas que, para
o Brasil, "do ponto de vista simbólico", a eleição de um presidente negro "é muito importante".
"Importante porque joga luz
sobre uma discussão interna.
Os de pele clara já nascem com
vantagem patrimonial. Ainda
que seja pobre, isso é inegável.
Obama não precisa dizer que é
negro. Basta olhar para ele, para a mulher dele, para os filhos
dele. E os negros votaram em
massa nele. Raça não existe.
Raça é só para animal. A única
raça é a humana. Mas ela existe
na cabeça das pessoas, no imaginário", afirmou.
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