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Fora do poder, republicanos vão ter de recompor as suas forças
Além de perder a Casa Branca, partido afunda no Congresso e não há clareza sobre quem serão seus líderes
Sigla precisará recuperar apoio de conservadores econômicos e tentar se adaptar a nova estratégia democrata de arrecadação
FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A PHOENIX
O Partido Republicano perdeu a Casa Branca, está reduzido no Congresso, fragilizado internamente e sem líderes definidos para conduzir a legenda
por um período de recomposição de forças. Ontem de madrugada, depois do discurso de
John McCain admitindo a derrota, o clima em Phoenix era de
velório entre assessores que
acompanharam o candidato
durante a campanha.
A legenda vai começar a travessia de um "deserto" que pode durar vários anos. O prazo
mínimo para começarem a
aparecer resultados práticos é
2010, data da próxima eleição
legislativa e nos Estados. Nos
EUA, os mandatos dos 435 deputados federais são de dois
anos. Os senadores são eleitos
por seis anos e há renovação de
um terço a cada 24 meses. Além
disso, 36 governadores enfrentam novas eleições em 2010, inclusive a agora estrela conservadora da sigla, Sarah Palin,
que comanda o Alasca.
Daqui até 2010, a tarefa dos
republicanos será principalmente reconstruir a aliança entre as três principais forças internas da legenda: 1) os conservadores econômicos (que defendem menos impostos e pouca presença do Estado na sociedade); 2) a direita religiosa (a
favor de causas como a criminalização do aborto); 3) os falcões da segurança nacional
(mentores do tom belicoso e
unilateral dos EUA).
"O problema é que o partido
perdeu muito dos seus conservadores econômicos. Os eleitores simpatizantes desse tipo de
política se distanciaram por
causa dos enormes gastos do
governo durante a presidência
de George W. Bush", disse à Folha o "falcão" Otto Reich, ex-embaixador dos EUA na Venezuela e assessor para assuntos
latino-americanos de McCain
na campanha deste ano. Quando Bush assumiu a Casa Branca, em janeiro de 2001, a dívida
estava em US$ 5,727 trilhões.
Ao entregar a cadeira para Barack Obama em 2009, o valor
estará perto de US$ 10 trilhões.
Os eleitores favoráveis a menos gastos públicos se sentiram
desatendidos pelo governo.
Com a escolha de McCain para
concorrer à sucessão de Bush, o
descontentamento cresceu. O
candidato sempre foi tido como
um nome mais à esquerda dentro do partido.
"Parece-me que agora a melhor saída para os republicanos
seria tentar privilegiar a política clássica deles, que é a economia de mercado", declarou à
Folha o cientista político e professor de Harvard David King.
Além das tarefas de médio
prazo, o Partido Republicano
tem desafios imediatos. O mais
urgente será encontrar um modelo para atrair eleitores mais
jovens e refazer sua máquina
de campanha eleitoral. A estratégia usada em eleições passadas mostrou-se obsoleta na
comparação com a "organização comunitária" comandada
por Obama e seus 3 milhões de
voluntários na internet.
Os republicanos se fiavam
antes num esquema montado
por Bush com a ajuda de seu assessor de longa data Karl Rove.
Eram os "rangers", grandes
empresários ou pessoas influentes num determinado
grupo da sociedade comandando legiões de pessoas doando
dinheiro para as campanhas do
partido. Agora, com o uso disseminado da internet, a estratégia se mostrou insuficiente.
Os republicanos tiveram menos dinheiro para gastar do que
os democratas, algo incomum.
Um exemplo é o investimento
na campanha de TV. Bush, em
2004, consumiu US$ 188 milhões, cifra recorde até então.
Agora, até o último dia 29, Obama já registrava um gasto de
US$ 292,8 milhões com veiculação de comerciais televisivos.
O tempo para consertar tanta coisa no partido, somado à
falta de liderança nítida no comandar do processo, tomará
talvez dois ciclos eleitorais de
quatro anos, diz a cientista política Pippa Norris, autora de
vários livros sobre estruturas
partidárias no mundo.
"Tem sido assim na política
dos EUA. Quando um partido
sofre uma derrota dessas, pode
passar oito anos fora da Casa
Branca. Mas você não deve desprezar as dificuldades que o novo presidente terá, pois o país
continua envolvido em conflitos armados e a economia enfrentará séria recessão", afirmou Norris à Folha.
Ela acredita que na falta de
nomes mais evidentes, "Palin
será certamente uma referência para os mais conservadores
do partido". Poderá ocupar os
espaços se o vácuo de grandes
nomes persistir.
Anteontem, no final do que
seria a festa da vitória de
McCain, Palin resolveu tirar
fotos com a família em frente a
uma bandeira norte-americana. Obama discursava naquele
momento em Chicago e poucos
deram atenção ao fato. Enquanto a governadora do Alasca fazia pose, um grupo de militantes ainda no local começou
a gritar "2012, 2012, 2012", numa referência à próxima disputa presidencial. Ela sorriu.
Otto Reich acha que Palin terá alguma dificuldade imediata
para se manter em evidência.
"É uma governadora com ainda
dois anos de mandato em um
lugar com um fuso horário
ruim para que possa influir nacionalmente. Talvez, mais
adiante. Mas ela pode ser a líder de uma facção", afirma.
Para Reich, o próprio
McCain estaria qualificado para ser um dos condutores da sigla, mas "muitos republicanos
ficarão descontentes com ele
por causa da atual eleição".
Uma possibilidade é que os
possíveis nomes acabem emergindo do Congresso, onde os
republicanos sobreviventes no
Senado têm perfil conservador.
A busca por novos nomes republicanos de expressão nacional será debatida com vigor já
na semana que vem, nos próximos dias 12 a 14, em Miami, na
Flórida. Nessa data, acontece
um encontro promovido pela
Associação de Governadores
Republicanos para discutir os
rumos da legenda.
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