São Paulo, quinta-feira, 06 de novembro de 2008

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Na contramão, Moscou faz ataques frontais aos EUA

Em seu primeiro discurso do estado da nação, líder russo não cumprimenta Obama

Dmitri Medvedev anuncia que colocará mísseis de curto alcance em encrave no mar Báltico para neutralizar sistema norte-americano


MARCELO NINIO
DE GENEBRA

A Rússia demonstrou ontem que, ao contrário de boa parte do planeta, não está interessada em uma lua-de-mel com o novo governo americano.
Em seu primeiro discurso sobre o estado da nação desde que assumiu, em maio, o presidente Dmitri Medvedev fez ataques frontais ao EUA e anunciou que colocará mísseis de curto alcance em um encrave no mar Báltico, perto da Polônia, país que pertenceu à órbita soviética e hoje faz parte da Otan (aliança militar ocidental).
O objetivo, disse Medvedev, é "neutralizar" o sistema de defesa que os EUA pretendem estender ao Leste Europeu, com mísseis na Polônia e radares na República Tcheca. Embora o governo Bush diga que a finalidade é proteger os EUA e seus aliados de ataques de países como o Irã, a Rússia considera-se o alvo do programa e o vê como um ato de hostilidade aberta.
No discurso, feito poucas horas após a confirmação da vitória de Barack Obama, Medvedev não cumprimentou o presidente eleito, limitando-se a dizer que espera que o novo governo "opte por relações completas com a Rússia".
Em uma mensagem enviada mais tarde a Obama, ele diz que as relações entre Rússia e EUA "historicamente" sempre foram um fator de estabilidade para o mundo e que está aberto a um "diálogo construtivo".
No discurso, porém, o tom foi de confronto. Medvedev lamentou que "um evento local extraordinário" nos EUA tenha causado uma crise financeira global e culpou Washington pela guerra na Geórgia, em agosto. "O conflito no Cáucaso foi usado como um pretexto para enviar navios de guerra da Otan ao mar Negro", disse, atacando a "arrogância" da Casa Branca.
Para muitos analistas, o tom duro logo após a eleição não chega a ser surpresa. Apenas dão continuidade à estratégia ditada pelo premiê Vladimir Putin, que mesmo depois de deixar a presidência mantém enorme influência no Kremlin.
Antecipando-se a uma futura negociação com o novo governo americano, Moscou busca fortalecer sua posição e mostra que não está disposto a ceder terreno na Europa ao antigo inimigo da Guerra Fria.
"É uma resposta há muito esperada à tola decisão de Bush de estender o escudo antimísseis à Polônia e à República Tcheca", disse à Folha Walther Stützle, ex-secretário de Defesa alemão. Mas ele prevê que Obama promoverá uma distensão nas relações com Moscou ao integrar os planos de defesa americanos à estrutura da Otan. "Além disso, a tendência é que ele busque o diálogo."


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