São Paulo, sexta-feira, 06 de dezembro de 2002

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VENEZUELA

Comandantes de navios de transporte de petróleo se rebelam e incluem o setor vital do país na greve da oposição

Petroleiros desafiam Chávez e agravam crise

Leslie Mazoch/Associated Press
O petroleiro Morichal, um dos navios da estatal petroleira PDVSA que aderiram à greve geral da oposição, permanece atracado no lago Maracaibo.


DA REDAÇÃO

A greve geral convocada pela oposição venezuelana chegou ontem ao seu quarto dia com a paralisação de parte da indústria petrolífera do país, o que aumenta a pressão sobre o governo do presidente Hugo Chávez para que atenda às reivindicações de permitir a realização de um referendo sobre seu mandato.
Vários petroleiros que seriam carregados nos principais portos do país foram paralisados, com a adesão de grande parte dos funcionários administrativos da estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA) aos protestos.
Ao menos três navios foram atracados no canal de navegação do lago de Maracaibo, no norte do país, interrompendo parcialmente o tráfego marítimo na região, responsável por mais de dois terços da produção de petróleo da Venezuela.
O país é o quinto maior produtor de petróleo do mundo e supre cerca de 13% das importações americanas diárias do produto. As vendas do petróleo venezuelano representam cerca de 80% das exportações do país.
Com a adesão à greve de vários comandantes de petroleiros, Chávez ordenou à Marinha a retomada dos navios rebelados e a militarização da companhia para garantir a produção. Os militares começaram a tomar os navios no início da tarde.
Em um pronunciamento em cadeia de rádio e TV, pela manhã, o presidente denunciou um suposto "plano de desestabilização como o de abril", em referência à greve que antecedeu ao fracassado golpe que o tirou por dois dias do poder, entre 11 e 13 de abril.
Para Chávez, os "golpistas" teriam como objetivo, ao "sabotar" a PDVSA, forçar a privatização da companhia. "Querem dar um golpe no coração da Venezuela. Os que não quiserem trabalhar lá devem ser removidos simplesmente, para recuperarmos a plenitude das operações", disse.
O presidente classificou o ato de rebeldia do petroleiro Pilín León (batizado em homenagem a uma ex-Miss Mundo), primeiro a ancorar no lago Maracaibo, carregado com 280 mil barris de gasolina, de "um ato de pirataria".
A entrada da PDVSA na paralisação da oposição elevou o preço do barril de petróleo em Nova York em US$ 0,60, para US$ 27,31.
Chávez afirmou que daria garantias aos venezuelanos e a seus clientes internacionais -ele citou especificamente os EUA- de que usaria as Forças Armadas para manter a indústria petrolífera funcionando.

Passeatas
Em Caracas, chavistas e oposicionistas fizeram passeatas, iniciadas em duas sedes distintas da PDVSA. Com a militarização da cidade e a perspectiva de confrontos violentos, os organizadores da marcha oposicionista decidiram interrompê-la à tarde.
A greve foi iniciada na segunda-feira como forma de pressionar Chávez a aceitar um referendo que pergunte aos venezuelanos se o presidente deve renunciar ao mandato. No mês passado, a oposição entregou ao Conselho Nacional Eleitoral um abaixo-assinado com 1,5 milhão de assinaturas a favor da consulta.
No dia 28 de novembro, o órgão eleitoral decidiu que a consulta era válida e a marcou para 2 de fevereiro, mas a decisão foi anulada no mesmo dia pelo Tribunal Supremo de Justiça, que a considerou inconstitucional.
Chávez alega que a atual Constituição, aprovada por ele em 1999, só permite a realização do referendo a partir de agosto do ano que vem, quando seu mandato chega à metade. O atual mandato presidencial termina somente em 2007.

Atiradores
O presidente da CTV (Confederação dos Trabalhadores da Venezuela), Carlos Ortega, um dos organizadores da greve geral, acusou o governo de colocar franco-atiradores dentro de um prédio da PDVSA para atirar nos manifestantes da oposição.
O diretor da polícia política, Miguel Rodríguez Torres, por sua vez, disse que setores radicais da oposição estariam colocando os franco-atiradores para "provocar o caos em Caracas".
Os embaixadores de 22 países-membros da OEA (Organização dos Estados Americanos) emitiram ontem um comunicado de apoio aos esforços do secretário-geral da entidade, César Gaviria, que está em Caracas há um mês para tentar mediar um diálogo entre o governo e a oposição. A União Européia também expressou seu apoio a Gaviria.

Com agências internacionais


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