|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Putin é o verdadeiro alvo
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
O ataque de ontem, que ocorreu
dois dias antes da eleição legislativa russa, matou dezenas de pessoas e repôs na pauta da cena política do país a questão da república
secessionista da Tchetchênia, foi
grave, porém não constituiu o
pior pesadelo de Vladimir Putin.
Este tentará amanhã fortalecer
seu poder centralizador na Rússia, obtendo maioria folgada na
Duma (a Câmara Baixa do Parlamento), o que, na prática, o deixaria livre para buscar a aprovação
de qualquer projeto que venha a
apresentar ao Legislativo.
Ironicamente, Putin conseguiu
consolidar sua posição política
graças a uma onda de atentados,
atribuída à guerrilha tchetchena,
ocorrida em 1999. Com mão-de-ferro, o ex-chefe da FSB (sucessora da KGB) lançou uma violenta
ofensiva contra os rebeldes na república caucasiana, exterminando qualquer veleidade de resolver
pacificamente a questão.
Com isso, paradoxalmente,
também colocou sua administração (à época, ele era premiê do então presidente, Boris Ieltsin) numa situação delicada, já que provocou a radicalização do conflito.
Por outro lado, tornou-se o político mais popular da Rússia, obtendo uma fácil vitória na eleição
presidencial de março de 2000.
Esmagados em sua terra natal,
os guerrilheiros tchetchenos, que
defendem a criação de um Estado
islâmico na república caucasiana
e refutam a acusação de ter ligação com terroristas internacionais, decidiram agir em outras regiões, cometendo atentados onde
quer que tivessem oportunidade.
Essa radicalização dos rebeldes
levou o terrorismo a Moscou. Assim, em outubro de 2002, guerrilheiros tchetchenos tomaram um
teatro na capital, fazendo cerca de
700 reféns. Na retomada do teatro
pelas forças russas, 129 reféns e 41
rebeldes tchetchenos morreram.
Em julho último, duas terroristas
suicidas mataram 15 pessoas num
festival de rock, perto de Moscou.
Nos últimos meses, a maior
preocupação de Putin, que tem
enormes chances de reeleger-se
em março próximo, foi impedir a
ocorrência de novos atentados
nas grandes cidades russas. Estes,
sim, seriam o pior pesadelo do
presidente russo, cuja popularidade atinge hoje níveis elevados
em parte graças à sua cruzada
contra os chamados "oligarcas".
Ciente disso e em situação desesperadora, a guerrilha (que
também comete atrocidades) tenta dificultar a vitória dos candidatos ligados a Putin no pleito de
amanhã, mostrando à população
russa que o presidente mentiu ao
sustentar que o problema tchetcheno estava "resolvido". Ante esse quadro, uma coisa é certa: aos
olhos dos rebeldes, a eleição legislativa é um ótimo momento para
uma nova onda de ataques.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Oriente Médio: Vice de Sharon fala em saída unilateral dos territórios Índice
|