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São Paulo, sábado, 06 de dezembro de 2003

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ANÁLISE

Putin é o verdadeiro alvo

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

O ataque de ontem, que ocorreu dois dias antes da eleição legislativa russa, matou dezenas de pessoas e repôs na pauta da cena política do país a questão da república secessionista da Tchetchênia, foi grave, porém não constituiu o pior pesadelo de Vladimir Putin.
Este tentará amanhã fortalecer seu poder centralizador na Rússia, obtendo maioria folgada na Duma (a Câmara Baixa do Parlamento), o que, na prática, o deixaria livre para buscar a aprovação de qualquer projeto que venha a apresentar ao Legislativo.
Ironicamente, Putin conseguiu consolidar sua posição política graças a uma onda de atentados, atribuída à guerrilha tchetchena, ocorrida em 1999. Com mão-de-ferro, o ex-chefe da FSB (sucessora da KGB) lançou uma violenta ofensiva contra os rebeldes na república caucasiana, exterminando qualquer veleidade de resolver pacificamente a questão.
Com isso, paradoxalmente, também colocou sua administração (à época, ele era premiê do então presidente, Boris Ieltsin) numa situação delicada, já que provocou a radicalização do conflito. Por outro lado, tornou-se o político mais popular da Rússia, obtendo uma fácil vitória na eleição presidencial de março de 2000.
Esmagados em sua terra natal, os guerrilheiros tchetchenos, que defendem a criação de um Estado islâmico na república caucasiana e refutam a acusação de ter ligação com terroristas internacionais, decidiram agir em outras regiões, cometendo atentados onde quer que tivessem oportunidade.
Essa radicalização dos rebeldes levou o terrorismo a Moscou. Assim, em outubro de 2002, guerrilheiros tchetchenos tomaram um teatro na capital, fazendo cerca de 700 reféns. Na retomada do teatro pelas forças russas, 129 reféns e 41 rebeldes tchetchenos morreram. Em julho último, duas terroristas suicidas mataram 15 pessoas num festival de rock, perto de Moscou.
Nos últimos meses, a maior preocupação de Putin, que tem enormes chances de reeleger-se em março próximo, foi impedir a ocorrência de novos atentados nas grandes cidades russas. Estes, sim, seriam o pior pesadelo do presidente russo, cuja popularidade atinge hoje níveis elevados em parte graças à sua cruzada contra os chamados "oligarcas".
Ciente disso e em situação desesperadora, a guerrilha (que também comete atrocidades) tenta dificultar a vitória dos candidatos ligados a Putin no pleito de amanhã, mostrando à população russa que o presidente mentiu ao sustentar que o problema tchetcheno estava "resolvido". Ante esse quadro, uma coisa é certa: aos olhos dos rebeldes, a eleição legislativa é um ótimo momento para uma nova onda de ataques.


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