São Paulo, sábado, 07 de fevereiro de 2004

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RÚSSIA

Governo culpa rebeldes tchetchenos, mas porta-voz de líder separatista nega; para Putin, ataque visa prejudicar sua reeleição

Atentado mata 39 no metrô de Moscou

Reprodução/Reuters
Imagem de TV mostra uma mulher ferida por atentado em estação de metrô ontem em Moscou


DA REDAÇÃO

Uma explosão atingiu ontem de manhã um trem de metrô lotado em plena hora do rush em Moscou, matando pelo menos 39 passageiros e ferindo mais de cem. A polícia qualificou a explosão como um "ato terrorista".
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, candidato à reeleição em 14 de março, acusou os rebeldes separatistas da república russa da Tchetchênia, de maioria islâmica, pelo atentado. Para Putin, o ataque teve o objetivo de prejudicar a sua candidatura.
A explosão aconteceu às 8h30 locais (3h30 em Brasília), no segundo vagão, no momento em que o trem se aproximava da estação Paveletskaya, uma das mais movimentadas da capital russa.
Ensangüentados e com os rostos enegrecidos de fumaça, os sobreviventes surgiam das profundezas da estação de metrô em estado de choque. Cerca de 700 pessoas foram retiradas do local pelas equipes de socorro.
"De repente, houve uma grande explosão e o vagão encheu de fumaça. Foi uma total loucura. Tudo aconteceu tão rápido que nem deu tempo de sentir medo", disse o médico Ilya Blokhin.
Após a explosão, o trem ainda seguiu em movimento por algumas centenas de metros até parar completamente. "Não pudemos abrir a porta durante um longo tempo", disse Maria, na faixa dos 20 anos. "Então, finalmente os homens conseguiram abri-las e caminhamos cerca de dois quilômetros pelo túnel", afirmou.
As pessoas que estavam na estação mais próxima ouviram e sentiram a explosão. "Ouvi uma terrível explosão e quase caí. Meu primeiro pensamento foi o de correr para fora para respirar ar fresco, mas, com o choque, não consegui me mover", disse o estudante Alexander Maximov, 18.
O presidente dos EUA, George W. Bush, ligou para Putin para expressar solidariedade e defendeu a união de esforços dos dois países na luta contra o terrorismo.
A polícia atribuiu o atentado a um terrorista suicida. Posteriormente, fontes no governo disseram que uma bomba de até 5 kg pode ter sido colocada no trem.
"Não precisamos de nenhuma confirmação indireta. Sabemos com certeza que Maskhadov [Aslan Maskhadov, ex-presidente da república da Tchetchênia, afastado do poder pelo Exército russo] e seus bandidos estão ligados a esse terrorismo", disse Putin.
Um porta-voz negou que o líder tchetcheno foragido ou membros de seu governo deposto estivessem "conectados com essa provocação sangrenta, à qual condenamos inequivocamente".
Segundo uma descrição da polícia, o suspeito seria um homem de rosto redondo, com idade entre 40 e 45 anos e feição típica de alguém originário do Cáucaso -região montanhosa no sul da Rússia onde fica a Tchetchênia.
Os rebeldes tchetchenos já realizaram diversos atentados -alguns levados a cabo por mulheres-bomba- em Moscou e em outros locais da Rússia. Em julho de 2003, duas mulheres se explodiram durante um festival de música ao ar livre e mataram 14.
Putin, que deve obter um novo mandato em março, foi eleito presidente em 2000 após uma série de atentados contra prédios residenciais, em 1999, causar mais de 200 mortos. Na época, Putin, que ocupava o cargo de premiê, responsabilizou os separatistas tchetchenos. Em resposta, deu início a uma ofensiva militar de grande envergadura contra a Tchetchênia, o que o tornou bastante popular entre os russos.
Em março de 2000, Putin foi eleito para o Kremlin, com a benção de seu padrinho político, o ex-presidente Boris Ieltsin.
Cerca de 8,5 milhões de pessoas utilizam o metrô de Moscou a cada dia. A primeira linha foi fundada em 1935, e o projeto era um dos preferidos do então ditador soviético, Josef Stálin, refletindo os tempos áureos da extinta União Soviética. Diversas estações são decoradas com mármore e mosaicos de soldados, operários e trabalhadores rurais.
Durante a Segunda Guerra Mundial, algumas das estações mais profundas foram usadas como abrigos contra bombardeios.

Com agências internacionais

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