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ANÁLISE
Guerrilha visa atingir Putin
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Como no início de dezembro último, quando um ataque a um
trem de passageiros ocorrido perto da Tchetchênia deixou dezenas
de mortos, o terrível atentado de
ontem serviu, aos olhos dos rebeldes tchetchenos, para repor na
pauta da cena política russa a
questão da república separatista.
Afinal, surpreendentemente, a
cinco semanas da eleição presidencial, o assunto não é um tema
central da campanha. Na realidade, nem há verdadeira campanha,
visto que Putin conta com o apoio
de cerca de 80% da população e
seus adversários são risíveis.
Contudo essa ausência da questão tchetchena das discussões políticas frustra os guerrilheiros, que
acabam optando por soluções extremas. Eles crêem que, diferentemente do que se produziu há quatro anos, suas ações possam minar as chances do presidente.
Isso não ocorrerá, pois, cansada
de um conflito distante e aparentemente interminável, a população russa não mais dá grande valor à guerra. Esta, em mais de quatro anos, deixou dezenas de milhares de mortos de ambos os lados, mas não contribuiu para
acalmar os ânimos no Cáucaso.
Pelo contrário, a sangrenta
ofensiva russa, que aniquilou toda
a infra-estrutura da republica separatista, serviu para tornar as
posições ainda mais radicais.
Assim, nos últimos meses, a
grande preocupação de Putin tem
sido evitar atentados nas grandes
cidades russas, já que, em tese,
eles poderiam minar sua popularidade -que está em alta também graças à sua cruzada contra
os chamados "oligarcas".
Ciente disso, a guerrilha (que
também comete atrocidades, como ataques a alvos civis) tenta dificultar a vitória de Putin, mostrando à população que ele mentiu ao afirmar que o problema
tchetcheno estava "resolvido".
Todavia atentados sangrentos
só fortalecerão a determinação de
Moscou de exterminar os rebeldes. Por outro lado, não deixa de
ser curioso que, num país supostamente democrático, a guerra na
Tchetchênia não seja um dos temas da campanha presidencial.
Alguém imagina uma disputa
eleitoral nos EUA em que a Guerra do Iraque não seja abordada?
Bem, Putin já disse que não participará dos debates na Rússia.
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