São Paulo, sábado, 07 de fevereiro de 2004

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ANÁLISE

Guerrilha visa atingir Putin

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Como no início de dezembro último, quando um ataque a um trem de passageiros ocorrido perto da Tchetchênia deixou dezenas de mortos, o terrível atentado de ontem serviu, aos olhos dos rebeldes tchetchenos, para repor na pauta da cena política russa a questão da república separatista.
Afinal, surpreendentemente, a cinco semanas da eleição presidencial, o assunto não é um tema central da campanha. Na realidade, nem há verdadeira campanha, visto que Putin conta com o apoio de cerca de 80% da população e seus adversários são risíveis.
Contudo essa ausência da questão tchetchena das discussões políticas frustra os guerrilheiros, que acabam optando por soluções extremas. Eles crêem que, diferentemente do que se produziu há quatro anos, suas ações possam minar as chances do presidente.
Isso não ocorrerá, pois, cansada de um conflito distante e aparentemente interminável, a população russa não mais dá grande valor à guerra. Esta, em mais de quatro anos, deixou dezenas de milhares de mortos de ambos os lados, mas não contribuiu para acalmar os ânimos no Cáucaso.
Pelo contrário, a sangrenta ofensiva russa, que aniquilou toda a infra-estrutura da republica separatista, serviu para tornar as posições ainda mais radicais.
Assim, nos últimos meses, a grande preocupação de Putin tem sido evitar atentados nas grandes cidades russas, já que, em tese, eles poderiam minar sua popularidade -que está em alta também graças à sua cruzada contra os chamados "oligarcas".
Ciente disso, a guerrilha (que também comete atrocidades, como ataques a alvos civis) tenta dificultar a vitória de Putin, mostrando à população que ele mentiu ao afirmar que o problema tchetcheno estava "resolvido".
Todavia atentados sangrentos só fortalecerão a determinação de Moscou de exterminar os rebeldes. Por outro lado, não deixa de ser curioso que, num país supostamente democrático, a guerra na Tchetchênia não seja um dos temas da campanha presidencial.
Alguém imagina uma disputa eleitoral nos EUA em que a Guerra do Iraque não seja abordada? Bem, Putin já disse que não participará dos debates na Rússia.


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