São Paulo, quarta-feira, 07 de março de 2007

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China negligenciou investimento rural

Para antropólogo australiano, arrecadação de impostos incipiente também contribui para desigualdade

DENYSE GODOY
DE NOVA YORK

Investimentos irregulares do governo em infra-estrutura -favorecendo as cidades em detrimento do campo- e um sistema tributário imaturo estão entre os fatores responsáveis pela desigualdade social na China. Essa é a avaliação do antropólogo Andrew Kipnis, professor da Escola de Pesquisa de Assuntos do Pacífico e da Ásia da Universidade Nacional da Austrália. Especialista em China, Kipnis afirma que essa desigualdade e a conseqüente insatisfação popular preocupam os líderes do país. Por isso o anúncio, anteontem, do pacote de gastos do governo chinês no montante de US$ 335 bilhões em programas sociais, um aumento de 14,4% em relação a 2006. Abaixo, trechos da entrevista de Kipnis à Folha.  

FOLHA - Por que a China está dando mais atenção ao social?
KIPNIS
- Porque estão crescendo, entre os líderes do Partido Comunista, as preocupações com o aumento da insatisfação da sociedade com a sua qualidade de vida e com as prioridades dos líderes, o primeiro-ministro, Wen Jiabao, e o presidente, Hu Jintao.

FOLHA - A China já havia falado em aumentar o investimento em áreas sociais, como educação e saúde. Quais avanços foram feitos e o que ainda falta fazer?
KIPNIS
- O governo chinês recentemente colocou mais dinheiro em educação, eliminando as tarifas escolares na zona rural a partir deste ano e comprometendo-se a diferenciar os fundos da administração central e das Províncias. Ainda é cedo para saber se funcionará.

FOLHA - Quais são as dificuldades encontradas pelo governo para fazer essas reformas?
KIPNIS
- Primeiro, o dinheiro para as modificações tem que ser colocado no Orçamento, especialmente o que vem dos cofres do governo central e das Províncias. Depois, é preciso esforço para assegurar que os recursos sejam utilizados onde são de fato necessários.

FOLHA - Por que não é a maioria da população da China que desfruta das benesses proporcionadas pelo crescimento econômico?
KIPNIS
- A desigualdade no país está avançando por muitos motivos, incluindo os investimentos irregulares em infra-estrutura -a maior parte dos fundos vai para as grandes cidades-, um sistema tributário imaturo, que diminui os recursos captados entre os indivíduos mais abastados para redistribuição, e o sistema que divide a população entre zona urbana e zona rural, o que limita os direitos civis e o bem-estar de quem mora nas áreas pobres rurais.

FOLHA - Como as diferenças entre a população urbana e a rural afetam o desenvolvimento do país?
KIPNIS
- A desigualdade pode levar à inquietação social, a sérios problemas de saúde entre os pobres e à exacerbação da degradação ambiental. A desigualdade também deve ser considerada um problema em si, não importando se afeta o desenvolvimento ou não.

FOLHA - Como a China pode resolver o problema do abismo entre os ricos e os pobres?
KIPNIS
- Investir mais em educação nas zonas rurais e em saúde pública são passos positivos, e podemos esperar que o governo cumpra suas promessas recentes. E, ainda, reforçar as leis de proteção aos direitos dos trabalhadores migrantes.


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