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SUCESSÃO NOS EUA / BIOGRAFIA
Obama tem sete meio-irmãos na África
Em história que une continentes, pai do pré-candidato democrata teve filhos antes e depois do casamento com mãe dele
O senador e a meia-irmã africana se viram pela primeira vez nos anos 80, depois que o americano enviou carta ao Quênia
ROGER COHEN
DO "NEW YORK TIMES", EM NYANGOMA-KOGELO, QUÊNIA
Juntar o quebra-cabeça da
família de Barack Obama é como fazer o mesmo com o quebra-cabeça do mundo. Ao final
de uma rua de terra vermelha
em Nyangoma-Kogelo, no
Quênia, encontramos Auma
Obama, a meia-irmã mais velha
do senador, sentada à sombra
de mangueiras.
Atrás dela, está a lápide do
pai deles: "Barack Hussein
Obama, nascido em 1936, morto em 1982". Ele é o mistério.
"Começamos a nos corresponder quando meu pai morreu", me diz Auma, nascida um
ano antes de seu irmão famoso.
"A letra de Barack é exatamente igual a de meu pai. Ele escreveu para mim nas folhas de papel almaço grandes e amarelas
que os americanos usam e que
meu pai também usava."
As palavras dele lançaram
uma ponte entre universos, interligando irmãos que não se
conheciam. A mãe de Auma, a
queniana Grace Kezia, que hoje
vive no Reino Unido, estava
grávida quando Obama pai a
deixou, em 1959, para estudar
no Havaí. Ali, ele conheceu a
americana Ann Dunham, de
Wichita, Kansas, e em 1961,
nasceu o filho deles, o atual pré-candidato democrata.
Auma ficou no Quênia com
um irmão mais velho. Mais tarde, em meados dos anos 1960,
depois de Obama pai retornar
ao Quênia com diplomas da
Universidade do Havaí e de
Harvard, Grace teve dois outros filhos com ele. Três outros
meninos, também meio-irmãos do senador Obama, nasceram de duas outras mulheres
antes de Obama pai morrer
num acidente automobilístico
em Nairóbi.
Os pais do senador Obama
morreram jovens: seu pai aos
46, sua mãe aos 52. Não surpreende que, como descreveu
em seu primeiro livro, "Dreams
From My Father" (Sonhos herdados de meu pai), ele tenha
partido em busca de um passado. E Auma foi o caminho para
encontrá-lo.
Ela estudou lingüística em
Heidelberg, Alemanha, viveu
muitos anos no Reino Unido e
tem uma filha britânica de 10
anos de idade, Akinyi. Mas o
Quênia é o seu lar. "Minha família atravessa todos os continentes", ela observa.
Partindo desse ponto, os
Obama se projetaram para fora.
Acho convincente o argumento
de Auma: que seu irmão é uma
"figura unificadora" que representa "a transformação que as
pessoas querem ver acontecer
no mundo"; um homem de pai
"preto como breu" e mãe
"branca como leite", como escreveu Obama, cuja exposição a
vários continentes lhe proporcionou uma compreensão de
um mundo em que convivem
divisão e miscigenação.
Auma me conta que, antes de
encontrar Obama pela primeira vez, em Chicago, nos anos
1980, ficou preocupada. "Eu
não tinha certeza de que iria
funcionar. Nós nos dávamos
bem ao telefone, mas, quando
sua expectativa é tão especial,
você pode se decepcionar."
Então ela foi adiando o encontro. Auma foi visitar uma
amiga alemã, Elke, em Carbondale, no sul de Illinois, e depois
viajou sete horas num ônibus
da Greyhound para encontrar
seu irmão. Se não desse certo,
pensou, poderia retornar. Mas,
ela me conta, "foi fácil, muito
fácil -como poder soltar a respiração, finalmente".
Dela, finalmente, veio a chave do mistério: as histórias sobre "o velho", o pai que morreu
cedo demais -seus problemas
políticos por ser membro do
grupo étnico luo, seu alcoolismo, suas mulheres, sua carreira
que avançou aos trancos e barrancos, seu desaparecimento
angustiante. Eram informações que o senador democrata
vinha procurando.
Um fato estranho é que Obama descreve seu primeiro encontro com Auma como tendo
ocorrido no aeroporto de Chicago, e não no terminal rodoviário da Greyhound, como ela
conta. "Cheguei ao estacionamento do aeroporto às 15h15 e
corri para o terminal", escreve
Obama em "Dreams". "Ofegante, descrevi várias voltas de 360
graus." Então ele viu "uma mulher africana emergindo do
portão da alfândega".
Esse parece ser um dos casos
de "lapsos de memória" pelos
quais Obama pede desculpas na
introdução do livro. Mas o desculpo; a coragem com a qual ele
partiu em busca de memórias
dolorosas é singular. "Pode-se
confiar em Obama para se
manter em diálogo com o mundo", afirma Auma.
Tradução de CLARA ALLAIN
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