São Paulo, quarta-feira, 07 de abril de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Em Ramadi, ataques podem ter matado até 12 marines; soldados de países aliados dos EUA também são alvos

Sunitas e xiitas atacam forças da coalizão

DA REDAÇÃO

A coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos sofreu uma série de duros ataques ontem em várias regiões do Iraque. Os confrontos foram tanto contra insurgentes sunitas quanto contra xiitas, que desde domingo iniciaram um levante, o que dificulta ainda mais o cumprimento do cronograma estabelecido pelos americanos de restituir a soberania iraquiana em 30 de junho.
Um funcionário do Departamento da Defesa dos EUA disse que "um número significativo" de marines, talvez até 12, morreu em ataque desferido perto do palácio do governador em Ramadi, na Província de Anbar. Segundo fontes do governo, os insurgentes sofreram "pesadas" perdas. Não havia informações sobre a que grupos pertenceriam os agressores nem se o ataque estava relacionado com a batalha que se desenrolava na vizinha Fallujah.
Nesta cidade, onde na semana passada houve o brutal assassinato e a mutilação dos corpos de quatro americanos, colunas de marines, com a proteção de helicópteros, se deslocaram até a área central, mas tiveram de sair antes do anoitecer devido à forte resistência encontrada.
No final do dia, foguetes disparados por aviões americanos destruíram quatro casas. O médico Rafie al Issawi disse que os corpos de 26 iraquianos foram levados ao hospital de Fallujah após os ataques aéreos.

Xiitas
O levante xiita continua se expandindo. Ontem, Karbala e Kut também registraram incidentes.
Um assistente do clérigo radical Moqtada al Sadr, líder da rebelião, disse que o movimento irá continuar até que as tropas estrangeiras saiam das zonas urbanas e os prisioneiros sejam libertados. "Essa insurreição mostra que o povo iraquiano não está satisfeito com a ocupação e não irá aceitar a opressão", afirmou Al Sadr em comunicado lido por um assessor.
Al Sadr anunciou que iria sair da mesquita em que estava na cidade de Kufa por temer que o local fosse danificado por tropas americanas. Os americanos anunciaram que iriam prender Al Sadr -acusado de estar envolvido no assassinato do clérigo Abdul Majid al Khoei, em 2003-, mas não fizeram movimentos nesse sentido.
Ao partir para o confronto aberto com os Estados Unidos, Al Sadr ao mesmo tempo desafia a estratégia pacífica que havia sido adotada por outros líderes mais proeminentes da comunidade xiita.
Al Sadr, 30, sabe que não tem condições de se equiparar à autoridade religiosa do principal clérigo xiita iraquiano, o aiatolá Ali al Sistani. Mesmo assim, não hesita em ignorar o apelo à calma manifestado por seguidores do aiatolá.
A exibição de força de Al Sadr é um problema não apenas para as forças americanas, mas também para os líderes políticos xiitas que têm assento no Conselho de Governo Iraquiano. Sancionado pelos EUA, o órgão é visto por Al Sadr como ilegítimo.
Al Sadr, com sua milícia Exército Mehdi, está, na prática, contestando a autoridade de Ibrahim Jaafari, do Partido Xiita Daawa, e de Abdul Aziz al Hakim, do Conselho Supremo para a Revolução Islâmica no Iraque (CSRII), o maior partido xiita do país -líderes que retornaram do exílio após a derrubada de Saddam Hussein.
Hamid al Bayati, porta-voz do CSRII, afirma que o grupo religioso quer manter relações pacíficas com as forças de ocupação. "É a primeira vez que vemos violência entre xiitas e a coalizão. É uma escalada perigosa", disse Al Bayati.
O establishment xiita expressou suas reservas à Constituição interina aprovada pelo Conselho de Governo Iraquiano no mês passado, mas prefere apostar no caminho das eleições, previstas para o ano que vem.
Como os xiitas representam 60% da população iraquiana, seus principais líderes religiosos acreditam que chegarão ao poder pelo voto, sem a necessidade de recorrer à violência. Alarmados, xiitas moderados querem que Al Sadr contenha-se, a fim de evitar que aconteça, dentro do grupo, a mesma violência que predomina no Triângulo Sunita -região onde se concentra a maior resistência pró-Saddam (que é sunita).

Choques
Além das baixas registradas em Ramadi, o Exército americano informou que três soldados e cinco marines morreram desde anteontem. Os soldados foram mortos em incidentes diferentes na periferia de Bagdá, e os marines, na Província de Anbar.
Em Nassiriah, 15 iraquianos foram mortos quando milicianos atacaram tropas italianas que patrulhavam as ruas e pontes sobre o Eufrates. Um motorista de caminhão búlgaro morreu quando um comboio foi atacado.
A base militar búlgara em Karbala foi submetida a pesado ataque por forças dos insurgentes. Tropas espanholas e polonesas também entraram em choques. Dois soldados poloneses e cinco búlgaros ficaram feridos. Em Kut, um soldado ucraniano morreu e cinco ficaram feridos após ataque contra um veículo blindado.
As forças britânicas foram alvo de rebeldes em Amarah. Não foi registrada a morte de nenhum soldado da coalizão, mas houve 15 vítimas iraquianas.


Com agências internacionais


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