São Paulo, quarta-feira, 07 de abril de 2004

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"É o Vietnã de Bush", diz Ted Kennedy

DA REDAÇÃO

Em sincronia com o levante xiita, ressurgem com mais força nos Estados Unidos as comparações entre o Iraque e o Vietnã. O senador democrata por Massachusetts Ted Kennedy, um dos maiores críticos do presidente republicano George W. Bush, disse que "o Iraque é o Vietnã" de Bush.
"Esse presidente criou a maior fissura de credibilidade desde que Richard Nixon destruiu o laço básico de confiança com o público americano", disse o senador, referindo-se ao presidente (1969-75) que renunciou após o escândalo de Watergate, em que republicanos espionaram democratas.
O secretário de Estado, Colin Powell, disse que Kennedy "devia ser um pouco mais cauteloso em seus comentários, porque estamos em guerra". "O debate é apropriado, e essa é a beleza do nosso sistema, aberto e democrático, mas creio que também é hora de unir a nação no desafio que enfrentamos no Iraque, no Afeganistão e em outros lugares do mundo", acrescentou Powell.
Cerca de 58 mil soldados americanos morreram no Vietnã desde que tropas começaram a ser mandadas para o país asiático no meio da década de 60 -a guerra acabou só em 1975. Os protestos da população contra a participação americana no conflito foram decisivos para a vitória do republicano Nixon na eleição presidencial de 1968 (a guerra foi iniciada durante um governo democrata).
No Iraque, até agora, morreram menos de 650 militares americanos. Mas a possibilidade de envio de mais tropas ao país por causa da violência incontrolável lembra o crescente envolvimento dos EUA no Vietnã.
O porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, disse que Bush vai deixar aos comandantes militares a decisão sobre um eventual aumento do número de tropas. Os EUA têm atualmente cerca de 130 mil homens no país.
No Reino Unido, auxiliares de Tony Blair informaram que o premiê viajará a Washington na semana que vem para discutir a situação do Iraque com Bush.
O virtual candidato democrata na eleição presidencial dos EUA em novembro, John Kerry, fez novas críticas à Casa Branca. Kerry disse que o governo errou ao marcar uma data arbitrária para a devolução da soberania aos iraquianos e sugeriu que a decisão tenha sido tomada por razões políticas. "Espero que a data não tenha nada a ver com a eleição aqui nos EUA."
O jornal "The New York Times" também criticou Bush no editorial "Obsessão com o calendário". "Seria estimulante ver o presidente gastando menos tempo defendendo seu cronograma e mais tempo preparando uma real transferência de poder. Especificamente, criar um plano que traga a ONU de volta ao país".

Vietnã
Terry Anderson, historiador da Universidade A&M do Texas que estudou a opinião pública durante a Guerra do Vietnã, disse que cerca de dois terços do público americano apoiavam a guerra em 1965 e que somente depois de dois anos houve o surgimento de um grande movimento antiguerra.
"No atual conflito, tivemos dezenas de milhares de pessoas saindo às ruas em protestos antes de Bush ter dado a ordem para o ataque. Agora, mais pessoas estão começando a ver o Iraque como um atoleiro. Elas acham que estamos sendo impelidos a uma situação que não tem uma estratégia de saída", afirmou Anderson.


Com agências internacionais


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