São Paulo, terça-feira, 07 de maio de 2002

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Morte choca extremistas europeus

DA REDAÇÃO

Partidos de extrema direita da Europa condenaram ontem o assassinato de Pim Fortuyn, na Holanda, afirmando que as pessoas deveriam acertar suas diferenças políticas apenas nas urnas.
"Isso é uma loucura", disse Karl Schweitzer, porta-voz do Partido da Liberdade, do extremista Jörg Haider, que faz parte do governo da Áustria. "Isso sempre começa com violência verbal. Vai chegar num ponto em que um sério desarmamento terá de ser feito."
O Vlaams Blok, bloco de extrema direita da Bélgica, se disse "chocado" com a morte. "O ataque só foi possível num crescente clima de hostilidade contra qualquer um disposto a questionar o politicamente correto", disse Frank Vanhecke, líder do partido, popular na porção belga de fala holandesa. Na Dinamarca, Pia Kaersgaard, do Partido do Povo Dinamarquês -grupo contra imigrantes que apóia o governo liberal de direita- declarou: "Isso é terrível. (...) Vivemos numa democracia, e é preciso que se respeite a democracia".

Avanço na Europa
Nem mesmo a Holanda -país conhecido pelo respeito às liberdades individuais e às diferenças culturais e religiosas de seus habitantes- conseguiu escapar do avanço da extrema direita na Europa nos últimos anos.
Assim como na França, na Áustria e na Itália, o país tem registrado um aumento nos índices de criminalidade ao mesmo tempo em que cresce o número de imigrantes -sobretudo muçulmanos- vivendo em suas grandes cidades. Especialistas questionam a relação entre imigrantes e criminalidade, mas a extrema direita tem sido habilidosa ao conquistar apoio associando as duas.
O discurso que fez a fama do líder de extrema direita Pim Fortuyn na Holanda -uma mistura de xenofobia, críticas à cultura islâmica e ataques aos partidos políticos tradicionais- contém ingredientes que fizeram a receita do sucesso de cerca de uma dezena de partidos extremistas em ascensão no continente.
O caso em maior evidência no momento é o da França, da Frente Nacional (FN) de Jean-Marie Le Pen. Apesar de derrotado por ampla margem de votos por Jacques Chirac no pleito presidencial de domingo, a sua chegada ao segundo turno -em que recebeu apoio de 18% dos franceses- o coloca como importante força política no país.

Extremistas no governo
Além do caso francês, no qual o projeto da extrema direita de chegar ao poder ainda não se concretizou, partidos de orientação parecida já participam ou sustentam o governo de pelo menos outros quatro países europeus: Itália, Áustria, Dinamarca e Noruega.
Em 1999, o Partido da Liberdade austríaco obteve 27% dos votos no pleito legislativo. Credenciou-se como principal parceiro na coalizão liderada pelo premiê de direita Wolfgang Schuessel. Pela primeira vez desde a Segunda Guerra, um país europeu teve a extrema direita no governo.
À época, a União Européia (UE) anunciou sanções contra a Áustria. Mas acabou suspendendo o boicote, ao perceber que ele não surtia efeitos e após questionamentos em razão de o Partido da Liberdade ter chegado ao poder pela via democrática.
Essa é, aliás, outra característica da nova extrema direita européia a incomodar as lideranças políticas tradicionais. Apesar de contrariar com a retórica racista alguns dos pilares do Estado liberal moderno, extremistas austríacos, italianos (como a Liga Norte e a Aliança Nacional, que sustentam o premiê Silvio Berlusconi) ou noruegueses chegaram aonde estão participando do jogo democrático.
Ganharam, assim, legitimidade no processo político -mesma legitimidade que os seguidores holandeses de Pim Fortuyn esperam conquistar no âmbito nacional nas eleições parlamentares do próximo dia 15.


Com agências internacionais

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