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Morte choca extremistas europeus
DA REDAÇÃO
Partidos de extrema direita da
Europa condenaram ontem o assassinato de Pim Fortuyn, na Holanda, afirmando que as pessoas deveriam acertar suas diferenças
políticas apenas nas urnas.
"Isso é uma loucura", disse Karl
Schweitzer, porta-voz do Partido
da Liberdade, do extremista Jörg
Haider, que faz parte do governo
da Áustria. "Isso sempre começa
com violência verbal. Vai chegar
num ponto em que um sério desarmamento terá de ser feito."
O Vlaams Blok, bloco de extrema direita da Bélgica, se disse
"chocado" com a morte. "O ataque só foi possível num crescente
clima de hostilidade contra qualquer um disposto a questionar o
politicamente correto", disse
Frank Vanhecke, líder do partido,
popular na porção belga de fala
holandesa. Na Dinamarca, Pia
Kaersgaard, do Partido do Povo
Dinamarquês -grupo contra
imigrantes que apóia o governo liberal de direita- declarou: "Isso
é terrível. (...) Vivemos numa democracia, e é preciso que se respeite a democracia".
Avanço na Europa
Nem mesmo a Holanda -país
conhecido pelo respeito às liberdades individuais e às diferenças
culturais e religiosas de seus habitantes- conseguiu escapar do
avanço da extrema direita na Europa nos últimos anos.
Assim como na França, na Áustria e na Itália, o país tem registrado um aumento nos índices de
criminalidade ao mesmo tempo
em que cresce o número de imigrantes -sobretudo muçulmanos- vivendo em suas grandes
cidades. Especialistas questionam
a relação entre imigrantes e criminalidade, mas a extrema direita
tem sido habilidosa ao conquistar
apoio associando as duas.
O discurso que fez a fama do líder de extrema direita Pim Fortuyn na Holanda -uma mistura
de xenofobia, críticas à cultura islâmica e ataques aos partidos políticos tradicionais- contém ingredientes que fizeram a receita
do sucesso de cerca de uma dezena de partidos extremistas em ascensão no continente.
O caso em maior evidência no
momento é o da França, da Frente
Nacional (FN) de Jean-Marie Le
Pen. Apesar de derrotado por ampla margem de votos por Jacques
Chirac no pleito presidencial de
domingo, a sua chegada ao segundo turno -em que recebeu
apoio de 18% dos franceses- o
coloca como importante força
política no país.
Extremistas no governo
Além do caso francês, no qual o
projeto da extrema direita de chegar ao poder ainda não se concretizou, partidos de orientação parecida já participam ou sustentam
o governo de pelo menos outros
quatro países europeus: Itália,
Áustria, Dinamarca e Noruega.
Em 1999, o Partido da Liberdade austríaco obteve 27% dos votos
no pleito legislativo. Credenciou-se como principal parceiro na
coalizão liderada pelo premiê de
direita Wolfgang Schuessel. Pela
primeira vez desde a Segunda
Guerra, um país europeu teve a
extrema direita no governo.
À época, a União Européia (UE)
anunciou sanções contra a Áustria. Mas acabou suspendendo o
boicote, ao perceber que ele não
surtia efeitos e após questionamentos em razão de o Partido da
Liberdade ter chegado ao poder
pela via democrática.
Essa é, aliás, outra característica
da nova extrema direita européia
a incomodar as lideranças políticas tradicionais. Apesar de contrariar com a retórica racista alguns dos pilares do Estado liberal
moderno, extremistas austríacos,
italianos (como a Liga Norte e a
Aliança Nacional, que sustentam
o premiê Silvio Berlusconi) ou
noruegueses chegaram aonde estão participando do jogo democrático.
Ganharam, assim, legitimidade
no processo político -mesma legitimidade que os seguidores holandeses de Pim Fortuyn esperam conquistar no âmbito nacional nas eleições parlamentares do
próximo dia 15.
Com agências internacionais
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