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IRAQUE OCUPADO
Presidente afirma que seu secretário, cuja saída é exigida por jornais e congressistas americanos, é "importante"
Bush diz que não vai demitir Rumsfeld
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Os principais jornais americanos exigiram ontem da Casa
Branca a demissão do secretário
da Defesa dos EUA, Donald
Rumsfeld, em razão dos abusos
cometidos contra prisioneiros de
guerra no Iraque.
A mesma exigência saiu estampada em letras garrafais na capa
da influente e liberal revista britânica "The Economist" e foi objeto
de discursos inflamados de deputados e senadores no Congresso
dos EUA -onde Rumsfeld deve
se depor hoje sobre o caso.
Depois de ter deixado vazar na
véspera e de forma deliberada o
seu "descontentamento" com
Rumsfeld, o presidente dos EUA,
George W. Bush, reiterou ontem
o apoio ao seu secretário.
Falando pausadamente e enfatizando as palavras, Bush disse: "O
secretário Rumsfeld serviu bem à
nação. O secretário Rumsfeld foi
secretário em duas guerras e é
parte importante do governo".
Anteontem, assessores de Bush
vazaram à imprensa que o presidente disse a Rumsfeld que estava
"insatisfeito" com a forma como
o secretário lidou com o caso de
maus-tratos de presos iraquianos.
A estratégia da Casa Branca visa
tirar dos ombros de Bush a responsabilidade pela falta de informações e providências sobre o caso, trazido à opinião pública e ao
próprio presidente por meio de
um programa da TV americana
CBS na semana passada.
Bush e Rumsfeld são amigos, e o
chefe do Pentágono tem forte influência sobre o presidente. Há
uma semana, horas depois de
Bush ter se manifestado publicamente pela primeira vez sobre as
torturas, o presidente foi a uma
festa na casa de Rumsfeld, e os
dois passaram horas juntos.
A "reprimenda" de anteontem e
o reiterado "apoio" de ontem só
ocorreram depois que o caso ganhou forte repercussão nos EUA.
Ontem, o mais influente jornal
da capital americana, o "Washington Post", responsabilizou
diretamente Rumsfeld pelo "descontrole" nas prisões mantidas
pelos EUA no Iraque e em Guantánamo (Cuba).
O "USA Today", diário de
maior circulação dos EUA, afirmou que "a cúpula do comando
militar esteve mais preocupada
em abafar o escândalo do que em
punir os responsáveis". No ""New
York Times", o colunista Thomas
Friedman pediu a demissão de
Rumsfeld.
No Congresso, a líder dos deputados democratas, Nancy Pelosi,
pediu a renúncia de Rumsfeld e
afirmou que o secretário ""tentou
acobertar o escândalo".
O senador democrata Tom Harkin foi mais enfático: ""Para o bem
de nosso país, para a segurança de
nossas tropas e para o bem de
nossa imagem ao redor do mundo, Rumsfeld deve renunciar".
Entre os republicanos, correligionários de Bush, o senador John
McCain afirmou que Rumsfeld
"tem muitas coisas a explicar".
Rumsfeld cancelou ontem toda
sua agenda, que incluía uma viagem e discurso na Filadélfia, para
se preparar para depor hoje perante uma comissão mista do
Congresso que vai investigar os
abusos no Iraque e as providências tomadas pelo Pentágono.
Até anteontem, segundo seus
assessores, Rumsfeld não havia lido na íntegra o relatório de 53 páginas que relata os casos de abuso
na prisão de Abu Ghraib. O documento foi finalizado em fevereiro.
A prisão iraquiana também foi
ontem objeto de pedido de congressistas democratas e republicanos para que fosse demolida como forma de "exorcizar" tanto
um símbolo da era Saddam Hussein quanto o escândalo atual.
Além das pressões internas, os
EUA foram cobrados pela Cruz
Vermelha Internacional para detalhar as providências que estão
sendo tomadas. Coube ao secretário de Estado, Colin Powell, responder: "Vamos tomar todas as
providências possíveis", disse.
Aproveitando o novo revés contra Bush, o virtual candidato democrata à eleição presidencial de
novembro, John Kerry, acusou o
presidente e seus assessores de
"omissão e leniência", mas evitou
fazer críticas diretas aos militares.
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