São Paulo, sexta-feira, 07 de junho de 2002

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ORIENTE MÉDIO

Ataque, em represália a atentado suicida que matou 17, destruiu prédios e danificou o quarto do líder palestino

Israel deixa QG de Arafat após 6 horas

DA REDAÇÃO

Tropas israelenses deixaram ontem o quartel-general do líder palestino Iasser Arafat, em Ramallah, seis horas após terem invadido o local. Com tanques e tratores, destruíram edifícios do complexo e danificaram o quarto onde dorme o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP) -que não ficou ferido na ação.
Segundo fontes locais, dois palestinos morreram na operação, lançada em resposta a atentado suicida do Jihad Islâmico com carro-bomba, que matou 17 passageiros de um ônibus no cruzamento Meguido (norte do país). O premiê Ariel Sharon acusa Arafat de estar ligado ao terrorismo e, por isso, decidiu retaliar contra o seu QG -mesmo local em que o havia sitiado por 34 dias em ofensiva "contra o terrorismo na Cisjordânia", entre março e maio.
Cercado de jornalistas, Arafat visitou seus aposentos destruídos. Observou a poeira e os destroços sobre a sua cama. Na parede, um espelho estilhaçado. Um disparo de tanque abriu um buraco na parede, a cerca de 1,5 metro da cama. "Deveria ter dormido aqui, mas tive que trabalhar lá embaixo e não fui dormir. Eles bombardearam querendo que eu estivesse aqui", disse ele, segundo a agência palestina Wafa.
O Exército negou que Arafat fosse o alvo. Porta-voz dos EUA disse que seu país não sabia qual era o objetivo da ação. Para analistas políticos, Sharon quis dar o recado de que, se ele não cooperar no combate ao terrorismo, pode ser exilado dos territórios.
Como da última vez, Arafat deixou o palácio fazendo com os dedos o símbolo do "V" da vitória. Acusou Israel de "fascismo" e afirmou que "ninguém pode derrotar o povo palestino".
Segundo o ministro da Defesa israelense, Binyamin Ben Eliezer, o ataque teve a intenção de "concentrar o foco na responsabilidade e no comportamento da ANP com relação ao terror".
"Continuaremos com essa batalha da maneira que acharmos mais apropriado. E venceremos", declarou Sharon, que embarca no fim de semana para discutir a crise no Oriente Médio com o presidente dos EUA, George W. Bush.
Após o atentado de ontem, Arafat prometeu prender os responsáveis. O líder do Jihad Islâmico, xeque Abdallah al Shami, porém, continuava livre em Gaza ontem.
Em entrevista ao "New York Times", Al Shami disse que não temia represálias. "A ANP está quebrada. Suas instituições, destruídas. Como pode garantir a segurança de Israel se não pode proteger nem mesmo o seu povo?", disse, prometendo novos ataques.
Ciente da falta de condições e empenho de Arafat para cumprir papel visto pelos palestinos como o de "polícia de Israel", o Exército segue buscando suspeitos. Prendeu ontem dois militantes do Hamas, em Beitunia e Ramallah. Fez também incursões em Hebron.
Nem a operação no QG de Arafat nem as incursões militares trouxeram a segurança desejada por Sharon: um jovem de 18 anos morreu ontem ao ser baleado num carro perto da colônia judaica de Ofra, na Cisjordânia.


Com agências internacionais

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