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São Paulo, sábado, 07 de junho de 2003

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Jornal publica sua própria crise com destaque

DE NOVA YORK

Uma chamada em duas colunas no alto de sua capa, pouco mais de uma página inteira dentro, o principal editorial do dia.
Assim foi a cobertura dada pelo "New York Times" na edição de ontem à sua própria crise.
Assinado pelo jornalista responsável por cobrir a área de mídia, Jacques Steinberg, o texto principal sobre a mudança no comando da Redação foi intitulado "Dois principais editores do Times pedem demissão após furor por fraude de repórter".
Steinberg escreveu na primeira página que seus ex-chefes estavam deixando a casa depois de "eventos que expuseram fissuras na administração e no moral da Redação".
Outras três reportagens completavam a cobertura dada pelo "Times" ao evento interno.
Uma delas traçava o perfil dos dois ex-editores do jornal, sob o título "Uma trajetória formidável [deixada] inacabada por escândalo e descontentamento".
Um quadro mostrava a história do cargo de editor-executivo do "Times", criado em 1964 e desde então ocupado por seis pessoas.
Outro texto relatava o escolhido para ocupar o cargo interinamente, Joseph Lelyveld, que respondeu pela função de 1994 a 2001 e que fora justamente o antecessor de Howell Raines.
Por fim, uma reportagem sob o título "Anunciantes e Wall Street vêem fim do tumulto" trazia as reações à saída dos dois principais editores do "Times" após o escândalo deflagrado pelo repórter Jayson Blair -que se demitiu no mês passado, quando o diário descobriu que ele andara inventando informações.
Mas as ações da companhia que publica o jornal voltaram a cair ontem na Bolsa de Nova York. Fecharam o pregão 0,75% mais baratas do que no dia anterior, o do anúncio das demissões -quando já haviam caído 0,8%.
Em seu principal editorial, o jornal abordou a crise dizendo que ela será positiva no longo prazo.
"O sacrifício [de Raines e de Gerald Boyd] nos dá uma razão a mais para trabalhar em direção ao objetivo perpétuo da reportagem perfeita", opinou o jornal.
Antes de assumir o comando da Redação, Raines era justamente o responsável pelos editoriais do "Times", algo que foi lembrado ontem no mesmo espaço.
"Sob seu mandato, houve ocasiões em que o comitê editorial pediu que um diretor público ou privado renunciasse. Algumas vezes, os funcionários eram pessoas de distintos méritos anteriores, e às vezes as tempestades que surgiram sobre suas cabeças não resultaram primeiramente de seus atos. Mas a luta de um líder para retomar o controle pode tirar energia da instituição que ele está tentando liderar", disse o editorial do jornal.
Ontem, Lelyveld, seu substituto, foi apresentado à Redação lendo um discurso de dez minutos. Disse que as metáforas de futebol americano -preferência de Raines- dão lugar agora às de beisebol -mais a seu gosto. (RD)


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