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São Paulo, sábado, 07 de junho de 2003

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MÍDIA

"NY Post", jornal de Murdoch, ironiza a crise no diário após fraudes; "Wall Street Journal" vê problemas de credibilidade

Concorrentes atacam o "New York Times"

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

Concorrentes do diário "The New York Times" aproveitaram a notícia da demissão de seus dois principais editores para atacar duramente o jornal.
Dois tablóides nova-iorquinos chamaram-no de "jornal dos destroços" ("paper of wreckage", parodiando a expressão "paper of record", algo como "jornal de registro histórico", frequentemente utilizada como aposto ao nome do diário).
O mais virulento golpe veio do "New York Post", controlado pelo empresário de origem australiana Rupert Murdoch.
Em sua capa, o jornal publicou um irônico e crítico anúncio de classificado em busca de candidatos para a vaga de Howell Raines, que deixou anteontem o cargo de editor-chefe do "Times" após crise interna deflagrada por fraudes em reportagens do jornal.
O texto do anúncio definiu assim as características procuradas: "Editor-executivo para jornal de registro histórico baseado em Manhattan. Francófilo esquerdista com obsessão pela diversidade e jeito para tapar buracos de circulação. Alérgico a republicanos. Tolerância a altos impostos é necessária. Criticismo à América é adicional. Respeito pelos fatos é opcional".
A atitude do tablóide complementa um ataque recentemente desferido por outra publicação de Murdoch, a revista "Weekly Standard" -esta voltada para um público mais qualificado e hoje considerada a leitura preferida no governo americano.
Sob o título "O próximo grande jornal da América", William Kristol, uma das principais cabeças do neoconservadorismo do país, defendeu a tese de que o "Times" não estaria à altura do grande diário de que os EUA precisariam.
"As últimas semanas deixaram claro que não há nenhuma esperança real de que o "Times", sob seu atual regime, possa se tornar esse jornal", disse Kristol.
Escrito antes da saída de Raines e do secretário de Redação, Gerald Boyd, o texto dizia que nem mesmo a demissão dos dois seria capaz de consertar o jornal. "Tudo que sabemos sobre Sulzberger sugere que sua próxima escolha não significaria avanço. A mudança fundamental de regime no "Times" não está nas cartas. O "Times" é incorrigível. A questão é se um novo jornal de registro histórico vai substituí-lo."
Além das publicações de Murdoch, o diário sofreu críticas ontem também de um importante concorrente, o jornal "The Wall Street Journal".
"Como competidor, tínhamos nos mantido circunspectos sobre os recentes conflitos no "New York Times". Mas a demissão de seus dois principais editores ontem é uma chance de discutir padrões de jornalismo em geral", escreveu o "WSJ" em editorial.
O diário reclamou principalmente do que considera notícias enviesadas publicadas pelo mais famoso jornal americano.
"Nossa visão é que o que temos vistos em sua primeira página nos últimos anos é menos reportagem objetiva e mais jornalismo advocatório. Nesse sentido, o escândalo com as invenções de Jayson Blair é sintomático de um problema maior de credibilidade que não se vai com o sr. Raines."
Por outro lado, o "Times" recebeu afagos do "Chicago Tribune", que escreveu em editorial: "A demissão dos dois principais editores do "New York Times" reflete em grande medida quão seriamente as pessoas que trabalham naquela instituição valorizam sua credibilidade".


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