São Paulo, sábado, 07 de agosto de 2004

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ARGENTINA

Ministro criticara "violência"

"Música de rua" traz problemas a Kirchner

CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES

A discussão sobre os efeitos da "cumbia villera" na sociedade argentina chegou à Casa Rosada. Música urbana com letras de protestos de conteúdo quase sempre violento ou com conotação sexual, como os funks brasileiros, a "cumbia villera" virou discussão dentro do governo nesta semana.
O presidente Néstor Kirchner teve de sair em defesa da "música de rua", como é conhecida, para aliviar um mal-estar causado por críticas do chefe-de-gabinete Alberto Fernandez.
Na quarta-feira, Fernandez traçou um paralelo entre o aumento da violência na Argentina nos últimos dez anos e as transformações da sociedade, entre elas, o surgimento da cumbia villera. A alta da criminalidade é um dos principais temas da atual agenda política argentina.
"Há dez anos não havia um programa de televisão durante cinco horas difundindo um tipo de música que, em grande medida, acaba elogiando a ação delinqüente, como é todo esse movimento da cumbia villera, esse movimento social entre aspas", disse ele.
O ministro se referia ao programa "Paixão de Sábado", comandado pelo apresentador Daniel Santillan que promove o estilo musical nas tardes de sábado pela TV América 2.

Críticas
A declaração do ministro na Rádio Uno foi o suficiente para a mídia local afirmar que Fernandez havia relacionando o aumento da violência na Argentina com o surgimento das cumbias villeras.
Programa de sucesso entre os jovens, principalmente da periferia, o governo deu uma resposta rápida às críticas que começavam a aparecer.
O presidente convidou Santillán para ir à Casa Rosada na quinta-feira. "Eu banco a cumbia villera. Quem ainda não viu "Paixão de Sábado'?", teria dito Kirchner ao apresentador do popular programa, segundo disse Santillán ao deixar a sede do governo argentino, onde esteve por poucos minutos.
"Eu perguntei ao presidente se ele nunca tinha dançado cumbia e ele disse que seu filho havia telefonado para ele para perguntar o que Fernandez quis dizer", disse Santillán.

Interpretação
No mesmo dia, o ministro que causou a polêmica disse que foi mal interpretado e que suas declarações não eram "atos de censura" conta o gênero musical e que "nunca quis relacionar o aumento da violência ao surgimento da cumbia villera".
A cumbia villera ganhou espaço na mídia nos últimos anos. Na opinião do especialista em educação da Universidade Torquato Di Tela, Mariano Narodowski, é um gênero que faz sucesso entre jovens que se sentem excluídos do sistema de consumo.
A música passou a ter mais força com o aumento de jovens inativos e desemprego no país, que chegou a atingir 20% da população no auge da crise, em 2002.
Segundo a consultoria Equis, nos últimos quatro anos o número de jovens entre 15 e 24 anos inativos, que não trabalham nem estudam, aumentou 38% na Argentina.


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