São Paulo, sábado, 07 de agosto de 2004

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REVOLUÇÃO

Segundo organizadores, setor movimentou US$ 12 bilhões em 2003; principal mercado ainda é o estrangeiro

China abre sua 1ª feira de produtos sexuais

CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM

As contradições da modernização chinesa ultrapassaram as barreiras da economia e chegaram ao sexo.
Ao mesmo tempo em que o governo realiza campanha contra sites pornográficos na internet, a China estreou ontem sua primeira feira internacional de "brinquedos adultos e saúde reprodutiva" - com direito a vibradores, estimuladores anais, bonecas de borracha, lingerie erótica e instrumentos para os adeptos do sadomasoquismo.
"É revolucionário", entusiasmou-se Wu Xiao, gerente da Wenzhou Lover, a maior produtora chinesa daqueles que são chamados no país, eufemisticamente, de "produtos de saúde adulta".
Xie Huazhen viajou da Província de Guangdong (sul) só para ver a feira. "Não tenho um desses", disse, entre risadinhas, observando uma coleção de brinquedos sexuais. Depois admitiu, timidamente: "Na verdade, tenho vários".
Até a imprensa oficial chinesa está se rendendo ao que até há pouco tempo era visto como "degradação ocidental". O "China Daily", jornal econômico do governo, estampou recentemente em sua primeira página reportagem sobre consumidores que sofrem com a baixa qualidade de produtos vendidos em sex-shops.
O texto era ilustrado com o caso de um homem que não conseguia fazer sexo com sua mulher de borracha sem que ela explodisse constantemente e o de uma mulher cujo vibrador quebrou na primeira noite de uso.
Segundo os organizadores da Adult Expo, o mercado de acessórios e estimulantes sexuais movimentou US$ 12 bilhões no país em 2003, com alta de 30% em relação ao ano anterior.
"Com o desenvolvimento econômico, os chineses começaram a prestar mais atenção à qualidade de sua vida cotidiana, incluindo sexo e saúde reprodutiva", diz texto no site oficial da feira. "As massas chinesas", afirmam os organizadores, querem uma "vida civilizada, saudável e feliz."
Com entrada gratuita, a exposição vai até amanhã em Xangai, cidade com maior renda per capita da China continental.
São 60 expositores, de acordo com Liang Helin, do China International Exhibition Center Group, um dos organizadores. Do total, 90% são fabricantes chineses e apenas 10% estrangeiros.
A feira é voltada para a realização de negócios, mas, no último dia, o público poderá comprar alguns produtos diretamente dos fabricantes.

Avanço tímido
Apesar da maior abertura, os sex-shops ainda estão longe de se destacar na paisagem das cidades chinesas. Em Pequim, eles são estimados em 600. A maioria prima pela discrição e é identificada por pequenas placas nas quais está escrito "sex care" (cuidado sexual).
"Ainda vendemos 90% dos nossos produtos no exterior", disse Fang Hong, diretor da empresa Shaki Shenzhen, presente na feira. "Levará pelo menos dez anos para que isso se reverta e passarmos a vender mais na China. Os chineses ainda não pegaram o conceito de diversão ainda", reclamou.


Com agências internacionais

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