São Paulo, segunda-feira, 07 de outubro de 2002

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FRANÇA

Bernard Delanoë foi operado e não corre risco de morte; ataque foi na prefeitura, aberta para o público para evento especial

Desempregado esfaqueia prefeito de Paris

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

O prefeito socialista de Paris, Bertrand Delanoë, foi apunhalado na madrugada de ontem dentro da própria prefeitura. Operado pela manhã, ele passa bem e ficará em observação por 48 horas numa unidade de reanimação cirúrgica. Deve continuar hospitalizado por pelo menos oito dias.
A facada atingiu a região do abdome, ferindo o estômago e o tubo digestivo. "O conjunto das lesões intra-abdominais foi tratado com sucesso. Seu estado clínico é satisfatório e o pós-operatório não apresenta complicações", disseram os médicos.
O agressor do prefeito, Azzedine Berkane, 39, foi preso imediatamente após o atentado. Ele é técnico em informática, desempregado, de ascendência árabe e de religião muçulmana, com extensa ficha policial (agressões, roubo, tráfico de drogas) e passagem por hospital psiquiátrico.
A polícia descartou qualquer vínculo entre ele e organizações islâmicas radicais.
Berkane disse que esfaqueou o prefeito porque detesta os "políticos e os homossexuais". Delanoë, 52, tornou público seu homossexualismo em 1998.
Num comunicado público, o presidente Jacques Chirac (centro-direita), que já foi prefeito de Paris, afirmou que "compartilhava com os franceses a emoção dos parisienses" e manifestou sua "indignação com o gesto insensato cometido". O premiê Jean-Pierre Raffarin (centro-direita) transmitiu sua "mensagem de simpatia pessoal" a Delanoë e declarou: "Por várias vezes, na nossa sociedade, nós pudemos medir bem o quanto os políticos estavam expostos a numerosas agressões e numerosos dramas. Essa insegurança coloca evidentemente problemas a nossa democracia".
Berkane se encontrava no meio do público que visitava a prefeitura durante um grande evento cultural que aconteceu entre sábado e domingo em Paris, chamado "Nuit Blanche" (noite em claro). Tratava-se de um projeto da prefeitura, que Delanoë acalentava realizar há tempos e só conseguiu viabilizar agora.
Durante a "Noite em claro", vários estabelecimentos permaneceram abertos na madrugada apresentando atrações culturais.
Segundo o encarregado-adjunto de Cultura da prefeitura, Christophe Girard, o agressor de Delanoë tinha "um comportamento desordenado, a aparência de um pobre sujeito que comete um gesto estúpido de desequilibrado".
O atentado contra o prefeito de Paris causou grande comoção na França. É a quarta agressão a políticos no país em seis meses. Em 27 de abril, uma tragédia ocorreu em Nanterre, cidade ao lado de Paris, quando o desempregado Richard Durn matou oito vereadores dentro da prefeitura.
Em 3 de julho, um homem tentou lançar uma urna contra o primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin na Assembléia Nacional. Em 15 de julho, um militante de extrema direita foi contido pelo público quando se preparava para atirar com um fuzil no presidente Jacques Chirac, durante desfile.


Com agências internacionais


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