São Paulo, quinta-feira, 07 de outubro de 2004

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EUROPA

Com reservas, Executivo da União Européia aconselha países-membros a tratar da eventual adesão da Turquia ao bloco

Comissão da UE aprova diálogo com turcos

DA REDAÇÃO

Com reservas e a promessa de monitorar o progresso das várias reformas que o país ainda deverá realizar, a Comissão Européia deu ontem luz verde ao início das negociações da Turquia com a União Européia, um considerável avanço após quatro décadas de persistentes dúvidas.
Contudo o sinal positivo do Executivo da UE foi acompanhado de uma extensa lista de condições, incluindo a possibilidade de suspender as conversas se o governo turco não cumprir suas promessas no que tange aos critérios de Copenhague (sobretudo avanços democráticos e direitos humanos) e à contenção do fluxo migratório em direção aos países-membros do bloco europeu uma vez concluídas as negociações.
"Ao menos dar início às negociações com a Turquia constitui um dever moral da UE após tanto tempo de tergiversação e a introdução, por parte de Ancara, de uma série de reformas exigidas pelo bloco. É importante ressaltar que nunca Bruxelas foi tão exigente com um país e que jamais um candidato respondeu com tanta presteza e com tão poucas reclamações às exigências européias", analisou para a Folha Anne-Marie Le Gloannec, diretora do Centro Marc Bloch, um instituto de pesquisas de Berlim.
O presidente da Comissão Européia, Romano Prodi, que deixará seu posto em breve, foi cauteloso ao anunciar a posição do órgão. "A resposta da comissão hoje [ontem] é sim... Entretanto se trata de um "sim qualificado". Estamos dando crédito aos turcos, mas não se trata de um cheque em branco", declarou Prodi.
Este exortou Ancara a ter paciência, já que "as negociações serão longas e difíceis", embora a Europa não tenha "nada a temer" em relação ao diálogo com a Turquia. Esta já faz parte da Otan (aliança militar ocidental). O premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, por sua vez, saudou o texto "equilibrado" da comissão e prometeu manter o curso das reformas.
"Uma nova diretiva da UE diz que ela será bastante rigorosa a partir de agora no que concerne ao cumprimento das exigências européias. Cabe lembrar que alguns dos dez Estados que aderiram ao bloco em maio, como a Polônia e Eslováquia, não tinham terminado suas reformas quando de sua entrada no bloco. Bruxelas não quer mais que isso ocorra, já que põe em risco a estabilidade européia", explicou Le Gloannec.
Ainda não foi definida uma data para o início das negociações. Porém Ben Bot, chanceler da Holanda, que ocupa a presidência rotativa do bloco, disse crer que elas deverão começar em meados de 2005. Em dezembro, os chefes de Estado e de governo dos 25 países da UE definirão o cronograma.
A entrada da Turquia preocupa muitos europeus, pois sua cultura e suas tradições, além do tamanho de sua população (70 milhões de habitantes) e de seu atraso econômico em relação aos outros membros do bloco, são consideradas muito distantes das "européias tradicionais", apontou Le Gloannec, por telefone.
(MÁRCIO SENNE DE MORAES)


Com agências internacionais


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