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Morales troca ministro após 16 mortes
Governo foi criticado por gestão da crise que levou a confrontos entre mineiros cooperativist as e funcionários do Estado
Depois de novos choques, ontem de manhã, 700 policiais foram enviados para assumir o controle
de minas de estanho
DA REDAÇÃO
O presidente da Bolívia, Evo
Morales, demitiu ontem à noite
o ministro da Mineração, Walter Villarroel, depois que o número de mortos em dois dias de
confrontos entre mineiros rivais pelo controle de uma jazida de estanho em Huanuni, no
altiplano boliviano, aumentou
para 16. O governo vinha sendo
criticado pela gestão da crise.
Três dos mineiros que morreram ontem haviam sido feridos nos choques de quinta-feira. Mais quatro morreram em
confrontos ontem de manhã,
segundo a Polícia Nacional boliviana. Outros 61 ficaram feridos. O conflito opõe mineiros
organizados em cooperativas
privadas e os trabalhadores sindicalizados da empresa estatal
Comibol (Corporação Mineira
da Bolívia).
Em seu primeiro pronunciamento desde o início da crise,
Morales reconheceu que houve
falhas do governo. "Decidi mudar nossas autoridades para
que possam servir melhor, reconhecendo que até agora, no
tema da mineração, não atendemos ao povo boliviano", disse Morales, que também trocou
o presidente da Comibol.
Ele repetiu que há "uma
conspiração interna e externa
contra a democracia", por grupos que não aceitam "este movimento de mudança, não aceitam a nacionalização dos hidrocarbonetos".
Villarroel, ligado às cooperativas privadas, foi substituído
por Guillermo Dalence, um ex-mineiro de passado maoísta,
que vinha trabalhando com comunidades indígenas. Foi a segunda mudança importante no
ministério de Morales, depois
da saída, no mês passado, do
ministro dos Hidrocarbonetos
Andrés Soliz Rada. Hugo Molina substituiu Antonio Revollo
na Comibol.
Desde quinta-feira o governo
tenta negociar o fim da violência. No início da crise, procurou
evitar o envio de reforços militares e policiais e costurou uma
trégua frágil, rompida ontem
de manhã. Depois dos enfrentamentos de ontem, finalmente decidiu enviar um contingente de 700 policiais à região.
Ontem à tarde, a ABI, agência
de notícias oficial, informou
que os policiais haviam retomado o controle da região e encerrado o confronto.
Os confrontos ocorrem no
distrito mineiro de Huanuni,
de 14 mil habitantes, a cerca de
280 km ao sul de La Paz e a
mais de 4.000 metros de altura.
A jazida local produz 315 toneladas de estanho de alta qualidade por mês, e os choques
ocorrem no momento em que o
preço internacional do metal
está em alta -quase seis vezes o
valor de dois anos atrás.
Ontem de manhã, os mineiros de ambos os lados explodiam dinamite e bombas caseiras uns contra os outros, algumas vezes separados por apenas 15 metros de distância. Mas
a maioria das mortes foi causada por armas de fogo.
O conflito teve início anteontem, quando os mineiros de
cooperativas privadas tentaram tomar as instalação da mina Posokoni -a mais rica de
Huanuni-, onde trabalham
mineiros assalariados da Comibol e ligados à Central Obreira
da Bolívia (COB), que tem feito
uma oposição à esquerda ao governo Morales, embora sem
muito sucesso.
Em abril, por exemplo, a
COB tentou realizar uma greve
geral no país em protesto contra o atraso na nacionalização
dos hidrocarbonetos, mas o
movimento acabou fracassando em toda a Bolívia. Já os cooperativas têm sido bem mais
próximas de Morales. Com o
novo governo, elas já haviam
conseguido o direito de explorar uma parte da jazida.
O principal líder da oposição,
o ex-presidente Jorge "Tuto"
Quiroga" (do partido conservador Podemos), atribuiu os choques "ao discurso de confrontação" de governo Morales.
Na quinta-feira, o vice-presidente, Álvaro García Linera,
dissera que o confronto ocorreu apesar dos esforços do governo ao longo de 16 reuniões
promovidas desde março e que
a última tentativa fracassou na
véspera dos incidentes, mas
não apontou culpados. "O que
deveria ser uma bênção para o
país [a alta do preço do estanho] se converteu numa maldição", disse García Linera.
Com agências internacionais
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