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"A empresa, nossa rádio, tudo foi destruído", diz sindicalista
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FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dos negociadores pelo lado dos trabalhadores sindicalizados ao longo da crise, o secretário-executivo da Central
Obreira da Bolívia (COB) e dirigente mineiro de Huanuni, Pedro Montes, disse que o governo Evo Morales se recusou a
enviar forças de segurança para
evitar o confronto. Leia, a seguir, a entrevista concedida à
Folha por telefone de Oruro, a
30 minutos do local dos confrontos:
FOLHA - Por que há confrontos?
PEDRO MONTES - O que devemos
informar aos companheiros do
Brasil e aos trabalhadores é a
incapacidade do governo Evo
Morales. Temos discutido há
oito a nove meses a situação da
empresa mineira Huanuni. Os
cooperativistas querem tomar
as fontes de trabalho, as minas
dos companheiros assalariados. E os assalariados têm defendido o patrimônio do país e
do Estado. Os cooperativistas
são um braço político do governo e, se aproveitando disso, fizeram um enfrentamento no
distrito mineiro. Neste momento [ontem à tarde], nós da
COB de Oruro declaramos greve geral indefinida. E também à
noite haverá uma assembléia
dos orurenhos para ir em marcha até o distrito de Huanuni.
Nós pedimos a intervenção
das Forças Armadas ou da polícia, e o vice-presidente Álvaro
García Linera, em palavras textuais, disse que não iria mandar
nenhum dos dois para a garantia da empresa. E, quando perguntamos o que faria se alguma
coisa acontecesse conosco, ele
disse que enviaria caixões. Isso
não se pode aceitar.
Nós, como COB, agora vamos
pedir um julgamento da responsabilidade sobre o que está
ocorrendo em Huanuni. A empresa foi totalmente destruída,
a igreja, destruída, há casas destruídas, nossa Rádio Nacional,
histórica, destruída.
FOLHA - Por que a trégua não foi
respeitada?
MONTES - É pela situação da jazida. É bastante rica e totalmente da empresa do Estado. É
a intervenção dos cooperativistas, que quiseram tomá-la, o
que a lei não permite.
FOLHA - O fato de o ministro da Mineração, Walter Vilarroel, ser um
cooperativista dificulta um acordo?
MONTES - Ele é um trabalhador
cooperativista, e o senhor Evo
Morales não resolveu isso durante nove meses.
FOLHA - Como se dão os confrontos em Huanuni?
MONTES - Com tudo.
FOLHA - O que o governo Morales
deve fazer para debelar a crise?
MONTES - A única coisa que tem
de fazer é respeitar o patrimônio do Estado e a fonte de trabalho dos assalariados.
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