São Paulo, sábado, 07 de outubro de 2006

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Parlamento respalda premiê, e húngaros voltam às ruas

Joe Klamar/France Presse
Manifestantes protestam diante do congresso, em Budapeste


Governo deve manter reformas; 80 mil protestam

RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 80 mil manifestantes, reunidos em frente ao Parlamento húngaro, em Budapeste, pediram ontem a renúncia do premiê Ferenc Gyurcsany, poucas horas depois de ele ter recebido um voto de confiança dos deputados.
Gyurcsany, cujo Partido Socialista (ex-comunista) tem maioria parlamentar, recebeu 207 votos a favor e 165 contra. Ele pediu aos parlamentares que não aceitassem "a chantagem dos protestos nas ruas" promovidos pela oposição e prometeu manter seu plano econômico de austeridade.
Há protestos contra o premiê desde que foram vazadas no mês passado gravações onde Gyurcsany dizia que mentiu sobre números da economia do país para vencer a eleição de abril passado.
A gravação foi feita em uma reunião fechada do premiê com deputados de seu partido. Ele disse que o país estava quebrado e pedia apoio a reformas. "Não fizemos nada, nada nos últimos quatro anos."

Medidas impopulares
Nos últimos meses, o governo adotou uma série de medidas impopulares, como o aumento de impostos (como o de valor agregado, equivalente ao ICMS brasileiro), e cobrança de mensalidades dos estudantes nas universidades públicas. Para o orçamento de 2007, foram anunciados cortes equivalentes a US$ 4,6 bilhões.
Há mais protestos agendados para o próximo dia 23, o 50º aniversário da rebelião anti-soviética de 1956. Segundo analistas, a oposição não será capaz de derrubar o governo.
Os protestos cresceram, mas ainda não são majoritários na sociedade húngara. Boa parte dos manifestantes são convocados pelos partidos conservadores, ou são de extrema-direita", disse à Folha o professor Kalman Deszeri, do Instituto para a Economia Mundial, um centro de estudos da Academia Húngara de Ciências. "Há grupos agressivos, mas não são majoritários."
Para ele, muitos húngaros ainda não se deram conta que "não dá para manter todos os serviços públicos que foram gratuitos por 40 anos de socialismo". "As universidades públicas terão que cobrar mensalidades para manter a qualidade, e o sistema de pensões e de saúde está no vermelho há anos. Alguém tem que pagar a conta", diz Deszeri.
Gyurcsany disse aos parlamentares que ele manteria os planos para reduzir o déficit público da Hungria, o maior da União Européia (10,1%) até 2009, deixando o país mais próximo das metas exigidas para a adesão ao euro (déficit de até 3% do PIB).
A Hungria é um dos novos membros da União Européia e, graças a seu crescimento econômico, era considerada um modelo entre os antigos países da Europa comunista.
"Não há outro plano econômico à vista, ainda que ninguém goste de ajustes. A direita é populista. O mercado financeiro e os empresários apóiam Gyurcsany. Ele não está tão forte, mas está longe de ficar fraco", diz Deszeri.


Com agências internacionais


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