São Paulo, sábado, 07 de outubro de 2006

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País vive onda crescente de ataques racistas

DA REDAÇÃO

A atual perseguição aos georgianos é mais uma expressão do alarmante crescimento da xenofobia na Rússia, onde convivem 50 nacionalidades e há 17 milhões de imigrantes (numa população de 142 milhões). Em maio, um relatório da Anistia Internacional afirmou que 28 estrangeiros haviam sido mortos em ataques xenófobos no país em 2005. Para a organização, a violência racista na Rússia, na época, já estava "fora de controle".
O problema se agravou neste ano. Segundo reportagem recente do jornal francês "Le Monde", 33 pessoas "de aparência não eslava" foram assassinadas em ataques semelhantes apenas nos primeiros nove meses de 2006.
O mais grave episódio de violência recente entre russos e estrangeiros ocorreu no fim de agosto, quando uma briga de bar se transformou em um grande confronto na cidade de Kondopoga, perto da fronteira com a Finlândia. Um grupo de jovens russos se desentendeu com o dono do café Tchaika, de propriedade de um azerbaijano, que chamou o reforço de conterrâneos. Na pancadaria, dois russos foram mortos.
O incidente levou milhares de pessoas, apoiadas por grupos nacionalistas de Moscou e São Petersburgo, como o Movimento contra a Imigração Ilegal (DPNI), a atacar propriedades dos "tchiornye" (os "morenos"), exigindo a deportação de todos os estrangeiros. Dezenas de tchetchenos, azerbaijanos e georgianos fugiram. "Le Monde" comparou a violência aos pogroms, os ataques contra judeus e outras minorias que eram comuns na Rússia da virada do século 19 para o 20.
O confronto de Kondopoga não foi um fato isolado. Em maio, na cidade de Kharagun (região de Tchita, no sudeste), choques étnicos entre russos e azerbaijanos deixaram um morto. Um mês depois, 75 chineses foram expulsos do povoado de Targuis (região de Irkutsk). Ataques aleatórios a estrangeiros, com a tolerância das autoridades, segundo a Anistia, viraram rotina.
"Algumas autoridades russas estão fazendo vista grossa", disse Karen Allen, diretora da Anistia Internacional. "Em vez de verem como meros atos de vandalismo os bárbaros e organizados ataques contra estudantes de países da África e do sudeste da Ásia e russos não-eslavos, a polícia deveria encarar de frente a crescente onda de racismo violento na Rússia."
Enquanto reprime a ação da imprensa e de organizações não-governamentais, Moscou dá liberdade de ação a grupos ultranacionalistas e neonazistas, como a União Eslava, a Unidade Nacional Russa e o Partido Nacional-Socialista
"A intolerância étnica, o medo dos imigrantes e o ódio aumentaram tanto desde o início da segunda guerra da Tchetchênia, em 1999, que a Rússia se tornou o país mais xenófobo da Europa", disse ao "Monde" o sociólogo Lev Gudko.


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