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entrevista
Brasil aceita negociar tudo, menos retorno
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
O Brasil aceita negociar
todos os pontos do Acordo
de San José, menos um: a
volta de Manuel Zelaya à
Presidência. O acordo tem
como pontos principais,
além da volta de Zelaya, a
anistia para todas as partes e a garantia de que o
presidente deposto não
tentará promover uma Assembleia Constituinte.
Quem diz isso é Ruy Casaes, embaixador do Brasil
na Organização dos Estados Americanos, que falou
à Folha enquanto arrumava as malas para embarcar com a missão que
começa hoje novas negociações em Tegucigalpa:
FOLHA - A presença do Brasil
na missão não pode complicar
o trato com os golpistas?
RUY CASAES - Não, é uma
percepção equívoca. Como já se disse, o Brasil não
teve nenhuma participação no regresso dele. O fato de ele estar na embaixada pode ser visto por dois
ângulos. Ficamos com o
positivo. Estava-se entrando num cenário de
acomodação, e o retorno
dele no fundo acabou produzindo isso que vai acontecer nos próximos dias.
FOLHA - O sr. terá objeção de
falar com Roberto Micheletti?
CASAES - Não vejo nenhuma dificuldade. Isso não
significa o reconhecimento da legitimidade do regime atual. Independentemente da nossa vontade,
ele existe e não deixa de
ser um ator, legítimo ou
não. Então, temos de conversar com ele.
FOLHA - O secretário-geral da
OEA, José Miguel Insulza, disse
que o Acordo de San José é a
base, mas que tudo é negociável. O Brasil concorda?
CASAES - Há uma cláusula
que não é absolutamente
negociável: o retorno do
presidente Zelaya às funções para as quais foi eleito
pelo povo hondurenho.
FOLHA - As condições dessa
volta podem ser negociadas?
CASAES - Aí já estamos
saindo um pouco do terreno onde se justifica a presença da comunidade internacional e os próprios
hondurenhos passam a integrar esse espaço de maneira bem mais clara. No
fundo, são eles que têm de
buscar a solução.
FOLHA - Uma das hipóteses
levantadas por Zelaya é uma
compensação pelos cem dias
em que ficou fora do poder. O
Brasil fecha com isso?
CASAES - Acho muito complicado, porque envolveria
até uma reforma da Constituição. Embora possa ser
um desejo dele, é um desejo difícil de ser alcançado.
FOLHA - O sr. disse há nove
dias que a OEA caminhava para absoluto estado de irrelevância. Ainda acha isso?
CASAES - Meu discurso
continha uma mensagem:
de que a OEA não poderia
ficar sem reagir a uma situação cada vez mais complexa. Quem tem o mandato no sistema interamericano para tutelar a democracia é a OEA. Então, é necessário que ela ao menos tente. Se fracassar, fracassou, é parte da vida.
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