São Paulo, quarta-feira, 07 de outubro de 2009

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entrevista

Brasil aceita negociar tudo, menos retorno

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

O Brasil aceita negociar todos os pontos do Acordo de San José, menos um: a volta de Manuel Zelaya à Presidência. O acordo tem como pontos principais, além da volta de Zelaya, a anistia para todas as partes e a garantia de que o presidente deposto não tentará promover uma Assembleia Constituinte.
Quem diz isso é Ruy Casaes, embaixador do Brasil na Organização dos Estados Americanos, que falou à Folha enquanto arrumava as malas para embarcar com a missão que começa hoje novas negociações em Tegucigalpa:

 

FOLHA - A presença do Brasil na missão não pode complicar o trato com os golpistas?
RUY CASAES
- Não, é uma percepção equívoca. Como já se disse, o Brasil não teve nenhuma participação no regresso dele. O fato de ele estar na embaixada pode ser visto por dois ângulos. Ficamos com o positivo. Estava-se entrando num cenário de acomodação, e o retorno dele no fundo acabou produzindo isso que vai acontecer nos próximos dias.

FOLHA - O sr. terá objeção de falar com Roberto Micheletti?
CASAES
- Não vejo nenhuma dificuldade. Isso não significa o reconhecimento da legitimidade do regime atual. Independentemente da nossa vontade, ele existe e não deixa de ser um ator, legítimo ou não. Então, temos de conversar com ele.

FOLHA - O secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, disse que o Acordo de San José é a base, mas que tudo é negociável. O Brasil concorda?
CASAES
- Há uma cláusula que não é absolutamente negociável: o retorno do presidente Zelaya às funções para as quais foi eleito pelo povo hondurenho.

FOLHA - As condições dessa volta podem ser negociadas?
CASAES
- Aí já estamos saindo um pouco do terreno onde se justifica a presença da comunidade internacional e os próprios hondurenhos passam a integrar esse espaço de maneira bem mais clara. No fundo, são eles que têm de buscar a solução.

FOLHA - Uma das hipóteses levantadas por Zelaya é uma compensação pelos cem dias em que ficou fora do poder. O Brasil fecha com isso?
CASAES
- Acho muito complicado, porque envolveria até uma reforma da Constituição. Embora possa ser um desejo dele, é um desejo difícil de ser alcançado.

FOLHA - O sr. disse há nove dias que a OEA caminhava para absoluto estado de irrelevância. Ainda acha isso?
CASAES
- Meu discurso continha uma mensagem: de que a OEA não poderia ficar sem reagir a uma situação cada vez mais complexa. Quem tem o mandato no sistema interamericano para tutelar a democracia é a OEA. Então, é necessário que ela ao menos tente. Se fracassar, fracassou, é parte da vida.


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