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OEA transige com golpistas, acusa deposto
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A
TEGUCIGALPA
A um dia da chegada da
comitiva de alto nível da
OEA (Organização dos Estados Americanos), o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya,
acusou a entidade interamericana e "subalternos"
de Barack Obama de serem "complacentes" com
o governo interino por supostamente aceitarem
prolongar as negociações
para seu retorno ao poder.
"Alertamos a comunidade internacional, os chanceleres, que não continuem sendo levados pelas
manobras cada vez mais
evidentes de prolongar a
ditadura estabelecida em
Honduras por mais de
cem dias", disse, demonstrando muito mais irritação do que nos últimos
dias. "É uma armadilha a
mais para prolongar a agonia e o sofrimento do povo
hondurenho."
A avaliação de Zelaya é a
de que o seu retorno à Presidência já é irreversível,
mas que o governo interino tentará adiá-lo ao máximo. Por isso, a exigência
de que o Acordo de San José, proposta que prevê a
sua volta condicionada ao
poder, seja assinado antes
das negociações em si.
"Acredito que a OEA deve esclarecer a sua posição", disse Zelaya, para
quem a entidade interamericana age com muita
"suavidade, muita complacência com o regime".
Questionado a esclarecer a "complacência", Zelaya disse que "a OEA, cuja
sede é em Washington,
tem a presença de todos os
países da América, mas
também dos EUA. Estou
muito feliz com as declarações do presidente Obama, da secretária Clinton,
mas considero que os seus
subalternos estão fazendo
mais a política dos velhos
republicanos do que a democracia que o presidente
quer impulsionar".
Segundo Zelaya, os "subalternos" estão fazendo
um jogo duplo: "Dão espaços, tréguas, para iniciar
outra vez um processo de
diálogo que havíamos concluído em San José. Iniciar
um processo de diálogo
após tudo que se havia
avançado me parece um
retrocesso criminoso".
Refugiado na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa há 17 dias, Zelaya está
impedido de se reunir com
seus delegados para as negociações intermediadas
pela OEA. O governo interino não autoriza que eles
entrem na representação.
Os problemas de coordenação de Zelaya com
seus representantes são
visíveis. À tarde, ele divulgou uma lista que inclui
dois candidatos a presidente anti-Micheletti.
Momentos após o anúncio, porém, o candidato
Carlos H. Reyes disse à
Folha, por telefone, que
não sabia da sua indicação
e que não aceita ser delegado nas reuniões de hoje.
Sem acesso aos seus colaboradores, Zelaya recebeu a visita ontem de quatro eurodeputados, que
não participam das negociações da OEA.
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