São Paulo, Domingo, 07 de Novembro de 1999
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Patriarca russo rejeita diálogo

PAULO DANIEL FARAH
da Redação

A campanha ecumênica e inter-religiosa liderada por João Paulo 2º sofreu mais um revés na semana passada. Após os protestos hindus na Índia, sua tentativa de aproximação com a Igreja Ortodoxa enfrenta novo obstáculo.
A Igreja Católica, sob orientação direta do papa, promove iniciativas em prol da unidade cristã na iminência do Grande Jubileu do ano 2000.
Mas o patriarca ortodoxo russo, Alexis 2º, rechaçou um encontro com o papa. "Se o papa fosse à Rússia, não poderíamos reunir-nos", declarou anteontem.
A Igreja Ortodoxa, cuja liturgia normalmente recorre a mais ritos que a católica, não reconhece a primazia do papa. Seu líder acusa o Vaticano de proselitismo num espaço "naturalmente ortodoxo": Rússia, Ucrânia e Belarus.
Um dos principais entraves para a reaproximação se refere à conturbada relação entre ortodoxos e uniatas, que disputam paróquias na Ucrânia desde 1991. Após a independência, nesse ano, as autoridades devolveram parte das propriedades aos uniatas, cristãos de rito ortodoxo que reconhecem a autoridade do papa.
Muitas igrejas uniatas tinham sido entregues à força para a Igreja Ortodoxa Russa por Josef Stálin na década de 40. No regime comunista (oficialmente ateu), as autoridades prenderam padres e bispos e fecharam seminários.
O patriarca russo havia sinalizado, no início do ano, estar aberto ao diálogo ecumênico. A partir de março, no entanto, o ataque da Otan (aliança militar ocidental) contra a Iugoslávia, país de maioria cristã ortodoxa, aumentou o distanciamento entre essas igrejas. O patriarca russo cancelou um encontro com o papa, que condenou os bombardeios, mas também a "limpeza étnica" comandada pelos iugoslavos contra os kosovares de etnia albanesa.
O papa realizou a primeira visita de um chefe da Igreja Católica a um país de maioria ortodoxa no último mês de maio: a Romênia (onde 87% da população é ortodoxa). Na época, analistas e membros do clericato afirmaram que o Vaticano tinha esperança de que a viagem histórica abrisse caminho para uma reconciliação entre católicos e ortodoxos, que incluiria a Rússia no roteiro.
Após o fim do comunismo, a Rússia vem vivenciando um renascimento do fervor religioso.
A passagem do papa pela Geórgia (com maioria ortodoxa), após a Índia, insere-se nesse esforço conciliador. Boa parte da liturgia será em georgiano. Russo, armênio, azerbaijano e siríaco, além de latim, comporão ainda o mosaico linguístico, dada a diversidade de comunidades presentes.


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