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Ditadura predomina nos países árabes
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 1973, existiam na África do
Norte e no Oriente Médio 14 regimes ditatoriais. Eles ainda totalizavam 13 no início deste ano. A
democracia fez progressos bastante tímidos no mundo árabe ao
longo de três décadas.
É o que revela levantamento do
Instituto Freedom House, entidade norte-americana conservadora que monitora avanços e recuos
mundiais da democracia.
Mas Michael Goldfarb, 32, um
de seus dirigentes, diz não haver
incompatibilidade entre democracia e cultura muçulmana. Tanto que, em termos demográficos,
a maior parte dos muçulmanos
vive em países em que as liberdades políticas e individuais são total ou parcialmente respeitadas.
A Freedom House utiliza critérios bastante rígidos. Marrocos é
"parcialmente livre". O Líbano é
"não-livre". Leia a seguir a entrevista, feita por telefone, de Nova
York.
(JBN)
Folha - Há uma forma de calcular
a evolução democrática nos países
do Oriente Médio?
Michael Goldfarb - A democracia
avançou bastante nos últimos 30
anos. Por nossos levantamentos,
em termos mundiais, ela está hoje
presente em 121 países, num conjunto de 192. São sistemas com calendário eleitoral, o que não significa que eles registrem liberdades
ilimitadas em todos os planos. O
Oriente Médio, no entanto, é a região em que a democracia fez menos progressos.
Folha - Poderia quantificar?
Goldfarb - No Oriente Médio e
na África do Norte temos só um
país em que há liberdades [Israel],
quatro que são parcialmente livres e 13 outros em que os regimes
são "não-livres" (ditatoriais).
Folha - Há incompatibilidade entre a democracia e o islamismo?
Goldfarb - De maneira alguma.
Sempre temos sublinhado, ao
contrário, que a compatibilidade
existe. O que reiteramos com frequência é que a maioria da população islâmica [e não apenas árabe] vive em regimes democráticos. Indonésia, Turquia e os muçulmanos da Índia são exemplos.
Folha - Quais são os progressos
registrados no mundo árabe?
Goldfarb - Nos países do golfo,
como Kuait, Bahrein e Qatar, há
um processo, mesmo tímido, na
direção de monarquias constitucionais. Mais pessoas têm o direito de votar, há uma consciência
de que liberdades devem ser mais
amplamente praticadas.
Folha - Esse quadro é também
confirmado por outras entidades
ou organizações?
Goldfarb - A ONU, por meio do
Relatório Árabe de Desenvolvimento Humano, faz constatações
bem parecidas. E o documento foi
elaborado por estudiosos árabes.
O estudo afirma que o mundo
árabe carece de liberdades, em razão de regimes autocráticos e repressivos, inexistência de liberdade de expressão, dirigismo econômico e ausências de direitos das
mulheres. Mas, reitero, são questões relativas aos governos, não à
cultura árabe ou islâmica.
Folha - Qual a avaliação média
desses países?
Goldfarb - Eles, na média, são ditatoriais, "não-livres", em nossa
terminologia. No Oriente Médio o
único país democrático, em nossa
avaliação, é o único não-muçulmano. Ou seja, Israel.
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