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São Paulo, sexta-feira, 07 de novembro de 2003

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Ditadura predomina nos países árabes

DA REPORTAGEM LOCAL

Em 1973, existiam na África do Norte e no Oriente Médio 14 regimes ditatoriais. Eles ainda totalizavam 13 no início deste ano. A democracia fez progressos bastante tímidos no mundo árabe ao longo de três décadas.
É o que revela levantamento do Instituto Freedom House, entidade norte-americana conservadora que monitora avanços e recuos mundiais da democracia.
Mas Michael Goldfarb, 32, um de seus dirigentes, diz não haver incompatibilidade entre democracia e cultura muçulmana. Tanto que, em termos demográficos, a maior parte dos muçulmanos vive em países em que as liberdades políticas e individuais são total ou parcialmente respeitadas.
A Freedom House utiliza critérios bastante rígidos. Marrocos é "parcialmente livre". O Líbano é "não-livre". Leia a seguir a entrevista, feita por telefone, de Nova York. (JBN)
 

Folha - Há uma forma de calcular a evolução democrática nos países do Oriente Médio?
Michael Goldfarb -
A democracia avançou bastante nos últimos 30 anos. Por nossos levantamentos, em termos mundiais, ela está hoje presente em 121 países, num conjunto de 192. São sistemas com calendário eleitoral, o que não significa que eles registrem liberdades ilimitadas em todos os planos. O Oriente Médio, no entanto, é a região em que a democracia fez menos progressos.

Folha - Poderia quantificar?
Goldfarb -
No Oriente Médio e na África do Norte temos só um país em que há liberdades [Israel], quatro que são parcialmente livres e 13 outros em que os regimes são "não-livres" (ditatoriais).

Folha - Há incompatibilidade entre a democracia e o islamismo?
Goldfarb -
De maneira alguma. Sempre temos sublinhado, ao contrário, que a compatibilidade existe. O que reiteramos com frequência é que a maioria da população islâmica [e não apenas árabe] vive em regimes democráticos. Indonésia, Turquia e os muçulmanos da Índia são exemplos.

Folha - Quais são os progressos registrados no mundo árabe?
Goldfarb -
Nos países do golfo, como Kuait, Bahrein e Qatar, há um processo, mesmo tímido, na direção de monarquias constitucionais. Mais pessoas têm o direito de votar, há uma consciência de que liberdades devem ser mais amplamente praticadas.

Folha - Esse quadro é também confirmado por outras entidades ou organizações?
Goldfarb -
A ONU, por meio do Relatório Árabe de Desenvolvimento Humano, faz constatações bem parecidas. E o documento foi elaborado por estudiosos árabes. O estudo afirma que o mundo árabe carece de liberdades, em razão de regimes autocráticos e repressivos, inexistência de liberdade de expressão, dirigismo econômico e ausências de direitos das mulheres. Mas, reitero, são questões relativas aos governos, não à cultura árabe ou islâmica.

Folha - Qual a avaliação média desses países?
Goldfarb -
Eles, na média, são ditatoriais, "não-livres", em nossa terminologia. No Oriente Médio o único país democrático, em nossa avaliação, é o único não-muçulmano. Ou seja, Israel.


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