São Paulo, sábado, 07 de novembro de 2009

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Zelaya declara rompimento de acordo

Anúncio foi feito após Micheletti formar novo gabinete para cumprir prazo de instalação de "governo de unidade nacional"

Líder deposto de Honduras rejeita apelo de embaixador americano para não deixar diálogo e diz que "só Deus sabe" o que ocorrerá agora


FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA

O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, rompeu na madrugada de ontem o acordo assinado há uma semana com o governo interino, de Roberto Micheletti, que pouco antes havia anunciado unilateralmente um "gabinete de unidade e reconciliação".
Zelaya exigia que o Congresso aprovasse até anteontem a sua restituição para que ele encabeçasse o governo de unidade. Micheletti e seus aliados, no entanto, protelaram a votação no Parlamento e afirmaram que a formação de um novo governo independe da volta de Zelaya.
O acordo assinado no último dia 30 previa a formação de um governo de unidade nacional até anteontem. Previa também que o Congresso fizesse uma votação para decidir sobre a volta de Zelaya ao poder.
A noite de anteontem foi repleta de ansiedade e tensão em Honduras. Por volta das 23h50 locais (3h50 de ontem em Brasília), a dez minutos do fim do prazo de criação de um governo de unidade e sem acordo com Zelaya, Micheletti convocou uma cadeia obrigatória de rádio e TV para informar que havia formado um novo gabinete "representativo de amplo espectro ideológico e político de nosso país, cumprindo estritamente pela letra do acordo".
O presidente interino disse ainda que esperaria a indicação de dez nomes de Zelaya para formar um novo governo.
"Que o senhor Micheletti pretenda, sem que ninguém o reconheça, legitimar ministros e presidir o governo de integração é uma chacota. Esse acordo, assinado de boa-fé, tem como espírito que o Congresso resolvesse a crise. A partir deste momento, o acordo não foi cumprido, e nós o declaramos fracassado", reagiu Zelaya, em entrevista à Folha de madrugada na embaixada brasileira, onde está refugiado há 47 dias.
Zelaya reiterou que ele e seus aliados políticos "desconhecerão totalmente as eleições sob um regime de repressão". Dois dos seis candidatos a presidente afirmam que só participam do pleito do dia 29 caso o presidente deposto tenha sido restituído. Vários outros candidatos a deputado e prefeito devem seguir a mesma decisão.
Por volta do meio-dia, em conversa com cerca de 20 militantes que o acompanham na embaixada, um desanimado Zelaya disse que "só Deus sabe" o que ocorrerá a partir de agora. O presidente disse ainda que o embaixador americano em Honduras, Hugo Llorens, lhe telefonou para pedir que não rompesse o acordo pelo menos até segunda-feira, mas Zelaya afirmou que não dialogará mais com Micheletti.
A falta de perspectiva de uma solução e a pressão do enviado do Itamaraty, Lineu de Paula, deram início a uma debandada entre os 36 assessores e militantes abrigados por Zelaya na embaixada. Desses, 25 manifestaram a vontade de deixar o prédio diplomático.
Zelaya, no entanto, determinou que eles saiam em grupos de 3 a 4 por dia, para que a "imprensa não diga que eu estou sendo abandonado por vocês". E pediu aos militantes: "Continuem a luta do lado de fora".


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