|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Zelaya declara rompimento de acordo
Anúncio foi feito após Micheletti formar novo gabinete para cumprir prazo de instalação de "governo de unidade nacional"
Líder deposto de Honduras rejeita apelo de embaixador americano para não deixar diálogo e diz que "só Deus sabe" o que ocorrerá agora
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA
O presidente deposto de
Honduras, Manuel Zelaya,
rompeu na madrugada de ontem o acordo assinado há uma
semana com o governo interino, de Roberto Micheletti, que
pouco antes havia anunciado
unilateralmente um "gabinete
de unidade e reconciliação".
Zelaya exigia que o Congresso aprovasse até anteontem a
sua restituição para que ele encabeçasse o governo de unidade. Micheletti e seus aliados, no
entanto, protelaram a votação
no Parlamento e afirmaram
que a formação de um novo governo independe da volta de
Zelaya.
O acordo assinado no último
dia 30 previa a formação de um
governo de unidade nacional
até anteontem. Previa também
que o Congresso fizesse uma
votação para decidir sobre a
volta de Zelaya ao poder.
A noite de anteontem foi repleta de ansiedade e tensão em
Honduras. Por volta das 23h50
locais (3h50 de ontem em Brasília), a dez minutos do fim do
prazo de criação de um governo
de unidade e sem acordo com
Zelaya, Micheletti convocou
uma cadeia obrigatória de rádio
e TV para informar que havia
formado um novo gabinete "representativo de amplo espectro
ideológico e político de nosso
país, cumprindo estritamente
pela letra do acordo".
O presidente interino disse
ainda que esperaria a indicação
de dez nomes de Zelaya para
formar um novo governo.
"Que o senhor Micheletti
pretenda, sem que ninguém o
reconheça, legitimar ministros
e presidir o governo de integração é uma chacota. Esse acordo,
assinado de boa-fé, tem como
espírito que o Congresso resolvesse a crise. A partir deste momento, o acordo não foi cumprido, e nós o declaramos fracassado", reagiu Zelaya, em entrevista à Folha de madrugada
na embaixada brasileira, onde
está refugiado há 47 dias.
Zelaya reiterou que ele e seus
aliados políticos "desconhecerão totalmente as eleições sob
um regime de repressão". Dois
dos seis candidatos a presidente afirmam que só participam
do pleito do dia 29 caso o presidente deposto tenha sido restituído. Vários outros candidatos
a deputado e prefeito devem
seguir a mesma decisão.
Por volta do meio-dia, em
conversa com cerca de 20 militantes que o acompanham na
embaixada, um desanimado
Zelaya disse que "só Deus sabe"
o que ocorrerá a partir de agora. O presidente disse ainda
que o embaixador americano
em Honduras, Hugo Llorens,
lhe telefonou para pedir que
não rompesse o acordo pelo
menos até segunda-feira, mas
Zelaya afirmou que não dialogará mais com Micheletti.
A falta de perspectiva de uma
solução e a pressão do enviado
do Itamaraty, Lineu de Paula,
deram início a uma debandada
entre os 36 assessores e militantes abrigados por Zelaya na
embaixada. Desses, 25 manifestaram a vontade de deixar o
prédio diplomático.
Zelaya, no entanto, determinou que eles saiam em grupos
de 3 a 4 por dia, para que a "imprensa não diga que eu estou
sendo abandonado por vocês".
E pediu aos militantes: "Continuem a luta do lado de fora".
Texto Anterior: Atirador mata um e fere cinco em uma empresa em Orlando Próximo Texto: Frase Índice
|