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São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2003

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SAÚDE

Sob pressão no Reino Unido, empresas se isentam e dizem que pior são os alimentos vendidos como "saudáveis"

Fabricantes negam que fast food e doces causem obesidade

MAXINE FRITH
DO "INDEPENDENT"

Executivos do McDonald's, da Cadbury e da Pepsi declararam na última quinta-feira que seus produtos não são culpados pela epidemia de obesidade cada vez mais intensa que afeta o Reino Unido.
Os principais diretores das três empresas alegaram que o marketing pesado de comida pouco saudável, as porções reforçadas e as ofertas de brinquedos em promoções que atraem crianças tinham pouco efeito sobre as escolhas de alimentos da maioria das pessoas.
Andrew Cosslett, diretor-executivo da Cadbury Schweppes, disse que "não existe correlação entre o consumo de confeitos e a obesidade". "Todos os indícios apontam que as pessoas comem os nossos produtos de maneira muito sensata. O problema é que as pessoas estão comprando coisas que, para elas, têm baixo valor calórico, produtos que se fingem de saudáveis usando rótulos enganosos."
Cosslett alegou que produtos como os iogurtes com baixo teor de gordura eram mais culpados do que os doces pelo aumento nos índices de obesidade.
"Um Curlywurly [barra de chocolate ao leite com recheio de caramelo] não tem nada de perigoso", disse.
Cosslett e outros dirigentes de importantes fabricantes britânicos de alimentos prestaram depoimento ao Comitê de Saúde da Câmara dos Comuns, que investiga sobre a obesidade.
O influente comitê está estudando a possibilidade de recomendar a proibição da publicidade televisiva de alimentos com alto teor de gordura e açúcar durante os horários mais assistidos por crianças e de introduzir rótulos de advertência, semelhantes aos usados nos maços de cigarro, para os alimentos considerados menos saudáveis.

Tamanho do hambúrguer
Segundo autoridades de saúde do país, 1 em 5 pessoas é classificada como obesa ou acima do peso no Reino Unido, e os índices de obesidade triplicaram entre as crianças.
Os ativistas afirmam que o marketing agressivo feito para doces, salgadinhos e refrigerantes, usando heróis dos esportes como o ex-jogador de futebol Gary Lineker para os salgadinhos Walkers e personagens de desenho animado para embalar o McLanche Feliz, do McDonald's, está encorajando as pessoas a comer inadequadamente.
O tamanho maior das porções, como hambúrgueres e barras de chocolate tamanho extragrande, também é apontado como responsável pela tendência.
Mas os dirigentes das três empresas rejeitaram essas alegações. Cosslett afirmou que pesquisas da Cadbury indicam que pessoas obesas comem menos doces do que a população em geral.
Julian Hilton-Johnson, vice-presidente do McDonald's no Reino Unido, negou a sugestão de que rótulos de advertência deveriam ser usados para os hambúrgueres, ou que os funcionários dos restaurantes de sua empresa deveriam impedir que clientes obesos comprassem refeições extragrandes.
"Não creio que nos caiba a presunção de dizer aos consumidores o que deveriam comer", disse.
Hilton-Johnson alegou que as refeições extragrandes respondiam por apenas 3% das vendas do McDonald's e que a empresa agora oferece saladas saudáveis, frutas para acompanhar o McLanche Feliz e leite orgânico semidesnatado.
Os três executivos insistiram que seu mercado estava "estático" e que a publicidade e a promoção não haviam gerado vendas mais elevadas, mas simplesmente encorajado os consumidores a trocar de marcas.
É o mesmo argumento usado pela indústria do tabaco para justificar a publicidade de seus produtos.
O Comitê de Saúde deve publicar suas recomendações no começo do ano que vem, e já ficou claro que o grupo pluripartidário está dividido entre alguns parlamentares trabalhistas que apóiam a proibição de publicidade e os parlamentares conservadores que se opõem a qualquer idéia de legislação que dê ao Estado a função de "babá".


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