|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DIPLOMACIA DA PAZ
Biógrafo do líder sírio deu mensagem a Israel
Assad admite devolver restos de espião morto
MARCELO STAROBINAS
da Redação
Pela primeira vez em mais de 30
anos, o governo da Síria enviou,
no final do ano passado, uma resposta aos apelos da família do
mais famoso espião israelense, Eli
Cohen, preso, torturado e enforcado em Damasco em 1965.
Maurice Cohen, irmão do espião, disse em entrevista à Folha,
por telefone, que o presidente sírio, Hafez al Assad, enviou-lhe
verbalmente um recado afirmando que "não obstruirá a devolução dos restos mortais de Eli, no
momento devido".
O recado lhe foi dado por meio
do jornalista Patrick Seale, biógrafo e confidente de Assad.
Altos funcionários do governo
de Israel vêm pedindo aos sírios
que entreguem os restos do agente como gesto de boa vontade,
uma prova de que o país está mesmo disposto a fazer a paz.
Mais do que um indício de boas
intenções, a devolução do corpo
de Eli Cohen teria um efeito político importante: aumentaria as
chances de um acordo de paz ser
aprovado em plebiscito pela população de Israel.
O ato poderia mudar o voto de
parte dos israelenses que se
opõem à devolução a Damasco
das colinas do Golã.
Ontem, o rabino Ovadia Yosef,
líder do partido ultra-ortodoxo
Shas, se encontrou com a viúva de
Eli Cohen, Nádia, e disse que seu
partido não apoiará nenhum tratado com a Síria a não ser que ele
determine o retorno a Israel dos
restos mortais do espião.
O Shas tem o apoio de cerca de
15% do eleitorado israelense. Elegeu, no ano passado, 17 parlamentares (de um total de 120).
Segundo Maurice Cohen, Nádia
já esteve com premiê Ehud Barak,
de quem recebeu a promessa de
que uma cláusula relativa a seu
marido seria incluída em um
eventual tratado com os sírios.
"Só uma decisão generosa do
presidente Assad, ele próprio
um pai dedicado que perdeu
um filho querido, trará para casa os restos mortais de Eli", diz
Maurice, que tem um filho e
outros familiares vivendo no
Brasil e fala português.
Maurice vem se dedicando
nas últimas três décadas a convencer Damasco a devolver o
corpo do espião ou permitir
que seus familiares viajem à capital síria para rezar o "kadish"
(oração judaica dos enlutados)
ao lado de seu túmulo.
Eli Cohen foi enterrado no
cemitério judaico de Damasco.
Mas, afirma seu irmão, seu corpo foi retirado de lá pelo Exército, que o mantém em local
desconhecido.
"Há rumores de que o corpo
teria sido queimado", conta.
"Mas não acredito, pois a Síria
tem interesse em guardá-lo para usá-lo como moeda de troca
em negociações."
Ele afirma já ter reunido cerca de 40 mil assinaturas em um
abaixo-assinado endereçado a
Assad disponível em seu web
site (www.elicohen.com).
Desaparecidos
Além de Eli Cohen, Israel deve incluir nas negociações com
a Síria a devolução de pelo menos quatro militares desaparecidos em combate no país.
Em 1982, durante a invasão
israelense ao Líbano, os militares Zachary Baumel, Yehuda
Katz e Zvi Feldman não voltaram após uma batalha no vilarejo de Sultan Ya'akub, próximo à fronteira sírio-libanesa,
contra uma milícia palestina
apoiada por Damasco.
Israel também deve pedir informações sobre o paradeiro
do piloto Ron Arad, que se ejetou do avião durante missão no
Líbano em 1986 e foi capturado
pelo grupo extremista Amal
(apoiado pela Síria e pelo Irã).
Texto Anterior: Rabinos vetam devolução do Golã à Síria Próximo Texto: Saiba mais sobre a história de Eli Cohen Índice
|