São Paulo, Sábado, 08 de Janeiro de 2000


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DIPLOMACIA DA PAZ
Biógrafo do líder sírio deu mensagem a Israel
Assad admite devolver restos de espião morto

MARCELO STAROBINAS
da Redação

Pela primeira vez em mais de 30 anos, o governo da Síria enviou, no final do ano passado, uma resposta aos apelos da família do mais famoso espião israelense, Eli Cohen, preso, torturado e enforcado em Damasco em 1965.
Maurice Cohen, irmão do espião, disse em entrevista à Folha, por telefone, que o presidente sírio, Hafez al Assad, enviou-lhe verbalmente um recado afirmando que "não obstruirá a devolução dos restos mortais de Eli, no momento devido".
O recado lhe foi dado por meio do jornalista Patrick Seale, biógrafo e confidente de Assad.
Altos funcionários do governo de Israel vêm pedindo aos sírios que entreguem os restos do agente como gesto de boa vontade, uma prova de que o país está mesmo disposto a fazer a paz.
Mais do que um indício de boas intenções, a devolução do corpo de Eli Cohen teria um efeito político importante: aumentaria as chances de um acordo de paz ser aprovado em plebiscito pela população de Israel.
O ato poderia mudar o voto de parte dos israelenses que se opõem à devolução a Damasco das colinas do Golã.
Ontem, o rabino Ovadia Yosef, líder do partido ultra-ortodoxo Shas, se encontrou com a viúva de Eli Cohen, Nádia, e disse que seu partido não apoiará nenhum tratado com a Síria a não ser que ele determine o retorno a Israel dos restos mortais do espião.
O Shas tem o apoio de cerca de 15% do eleitorado israelense. Elegeu, no ano passado, 17 parlamentares (de um total de 120).
Segundo Maurice Cohen, Nádia já esteve com premiê Ehud Barak, de quem recebeu a promessa de que uma cláusula relativa a seu marido seria incluída em um eventual tratado com os sírios.
"Só uma decisão generosa do presidente Assad, ele próprio um pai dedicado que perdeu um filho querido, trará para casa os restos mortais de Eli", diz Maurice, que tem um filho e outros familiares vivendo no Brasil e fala português.
Maurice vem se dedicando nas últimas três décadas a convencer Damasco a devolver o corpo do espião ou permitir que seus familiares viajem à capital síria para rezar o "kadish" (oração judaica dos enlutados) ao lado de seu túmulo.
Eli Cohen foi enterrado no cemitério judaico de Damasco. Mas, afirma seu irmão, seu corpo foi retirado de lá pelo Exército, que o mantém em local desconhecido.
"Há rumores de que o corpo teria sido queimado", conta. "Mas não acredito, pois a Síria tem interesse em guardá-lo para usá-lo como moeda de troca em negociações."
Ele afirma já ter reunido cerca de 40 mil assinaturas em um abaixo-assinado endereçado a Assad disponível em seu web site (www.elicohen.com).

Desaparecidos
Além de Eli Cohen, Israel deve incluir nas negociações com a Síria a devolução de pelo menos quatro militares desaparecidos em combate no país.
Em 1982, durante a invasão israelense ao Líbano, os militares Zachary Baumel, Yehuda Katz e Zvi Feldman não voltaram após uma batalha no vilarejo de Sultan Ya'akub, próximo à fronteira sírio-libanesa, contra uma milícia palestina apoiada por Damasco.
Israel também deve pedir informações sobre o paradeiro do piloto Ron Arad, que se ejetou do avião durante missão no Líbano em 1986 e foi capturado pelo grupo extremista Amal (apoiado pela Síria e pelo Irã).


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