São Paulo, terça-feira, 08 de fevereiro de 2005

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TECNOLOGIA

Idéia visa combater envelhecimento do arsenal americano; críticos temem corrida armamentista

EUA começam a redesenhar armas atômicas

WILLIAM J. BROAD
DO ""NEW YORK TIMES"

Preocupados com a idéia de que o arsenal nuclear americano está envelhecendo e se enfraquecendo, cientistas americanos estão começando a desenhar uma nova geração de armas nucleares que sejam mais fortes, mais confiáveis e de vida mais longa.
As autoridades dizem que o programa pode ajudar a reduzir as dimensões do arsenal nuclear americano e diminuir o alto custo de sua manutenção. Para os críticos, porém, ele pode desencadear uma nova corrida armamentista.
Até agora o esforço envolve apenas US$ 9 milhões para os projetistas de ogivas nos três laboratórios americanos de armas nucleares: Los Alamos, Livermore e Sandia. Especialistas que trabalham nos três locais protegidos por forte segurança estão analisando dados sigilosos sobre armas, coletados ao longo de meio século, em busca de idéias sobre como alcançar as metas de confiabilidade.
O programa inicial, relativamente pequeno e envolvendo menos de cem pessoas, deve crescer e render projetos terminados nos próximos cinco a dez anos, culminando na produção de protótipos de ogivas, se a aprovação para eles for pedida e obtida. Mais importante do que isso, porém, dizem as autoridades, é o fato de que o programa assinala uma mudança fundamental na filosofia por trás do desenho das armas nucleares.
Durante décadas os criadores das bombas buscaram fazer uso da tecnologia. As ogivas resultantes eram leves, muito poderosas e, em alguns casos, tão pequenas que uma dúzia podia caber num míssil delgado. O estilo americano de ogiva era distinto dos de outros países. A maioria das outras potências nucleares, com anos de atraso atômico em relação aos EUA e muitas vezes sem dispor dos melhores materiais e da melhor mão-de-obra especializada, se contentava com menos. Suas armas nucleares tendiam a ser pesadas, embora confiáveis -mais como Chevrolets do que como carros de corrida.
Agora, os projetistas americanos estudam como inverter essa tendência, para produzir armas que sejam mais robustas, sob alguns aspectos imitando seus rivais, numa tentativa de evitar as incertezas e a deterioração da velhice nuclear. Especialistas federais temem que, caso fosse preciso fazer uso do arsenal nuclear, partes críticas dele poderiam falhar.
Originalmente, o tempo de vida previsto das cerca de 10 mil ogivas que compõem o arsenal americano era de cerca de 15 anos. Hoje estão com 20 anos de idade, em média, e algumas são muito mais velhas ainda. Os especialistas dizem que o programa federal de avaliação e manutenção dessas ogivas não tem como confirmar se elas estão em estado de uso, devido à proibição de realização de testes nucleares subterrâneos.
No final de novembro o Congresso aprovou um item orçamentário pequeno, e que passou em grande medida despercebido, lançando o novo programa de projetos de ogivas. Autoridades federais dizem que o programa pode, com o tempo, ajudar a recompor o arsenal com ogivas que sejam mais resistentes e tenham tempo de vida muito mais longo.
""É importante" que isso seja feito, disse John Harvey, diretor de planejamento político da Administração Nacional de Segurança Nuclear, que fiscaliza o arsenal. Ele declarou que o objetivo do novo programa é criar armas que, além de ser ""inerentemente confiáveis", sejam mais fáceis de fabricar e certificar como sendo potentes.""Nossos laboratórios vêm estudando esse problema há 20 anos", disse Harvey. ""A meta é criar desenhos mais inteligentes, baratos e fáceis de manufaturar, que possamos facilmente certificar como sendo seguros e confiáveis por tempo indeterminado -e fazê-lo sem realizar testes."
O deputado republicano David Hobson, presidente do Subcomitê de Apropriações sobre Desenvolvimento Energético e Hídrico da Câmara dos Representantes, elogiou o programa e disse que ele pode abrir a oportunidade de serem feitos cortes drásticos no arsenal nuclear americano.
""Uma ogiva mais robusta e confiável", disse Hobson, ""pode garantir a proteção hoje proporcionada pela manutenção de milhares de ogivas desnecessárias."
Mas defensores do controle de armas disseram que o programa é provavelmente desnecessário e perigoso. Para eles, o programa corre o risco de dar início a uma nova corrida armamentista, se reativar os testes subterrâneos, e pode levar à criação de ogivas dotadas de novas capacidades militares, o que poderia aumentar a tentação de se fazer uso delas em guerras.


Tradução de Clara Allain

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