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Migrantes chineses retidos no Ano Novo desfrutam de tratamento inédito
TOM MITCHELL
DO "FINANCIAL TIMES", EM
DONGGUAN, CHINA
As piores tempestades de
neve e gelo em 50 anos na
China fizeram mais do que
derrubar grandes trechos da
malha elétrica do país e paralisar sua rede de transportes durante a temporada de
pico das viagens de férias.
Elas também jogaram por
terra o acordo implícito que
une milhões de trabalhadores migrantes na Província
meridional de Guangdong e
seus empregadores. Em contrapartida por trabalhar duro o ano inteiro, freqüentemente separados de filhos e
cônjuges, os proletários esperam com ansiedade passar
uma semana de férias em
suas casas de origem durante
o feriadão do Ano Novo lunar, que começou ontem.
Desesperado para aliviar a
pressão sobre a malha ferroviária, o governo persuadiu
centenas de milhares de migrantes a devolver suas passagens e voltar às fábricas no
feriado. Agora, as empresas
estão tentando ajudar os trabalhadores a suportar a perda. A fábrica de roupas Luen
Thai está promovendo uma
festa típica de Ano Novo chinês em sua Cidade Cadeia de
Abastecimento, em Dongguan, no delta do rio Pérola.
"Meus pais choraram
quando eu disse que não
conseguiria voltar para casa", contou Lu Jin, 17 anos,
natural da Província de Henan, que passa o primeiro
Ano Novo longe da família.
Os 19 milhões de migrantes em Guangdong não estão
acostumadas a serem paparicados. Ganham pouco e
trabalham duro para produzir calçados, brinquedos e
inúmeros outros bens baratos consumidos no Ocidente.
Também conduzem táxis,
trabalham como garçons e
fazem os trabalhos sujos que
a população nativa da região
já se nega a fazer. Sua recompensa habitual por tudo isso
é a discriminação sistêmica,
especialmente em escolas e
hospitais, de preços inacessíveis aos "waidiren", ou "gente de fora".
Nesta temporada de férias,
porém, um cartão de identificação de uma Província externa garante a seu dono
uma série de mordomias, incluindo ingressos gratuitos
ou mais baratos em cinemas,
parques e cruzeiros com jantar no rio Pérola. A representação de Guangdong da Federação de Sindicatos da
China estima que 600 locais
de lazer foram montados em
toda a Província expressamente para serem usados
por trabalhadores migrantes
nesta semana.
Para muitos, porém, nada
compensa o fato de não estarem com suas famílias. "Tenho dois filhos, um de dez
anos e outro de apenas um",
disse na semana passada
Zhang Mei, da Província de
Hubai, enquanto tentava
abrir caminho pela multidão
na estação de Cantão. "Sinto
saudades deles."
Tradução de CLARA ALLAIN
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