São Paulo, sexta-feira, 08 de fevereiro de 2008

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Migrantes chineses retidos no Ano Novo desfrutam de tratamento inédito

TOM MITCHELL
DO "FINANCIAL TIMES", EM DONGGUAN, CHINA

As piores tempestades de neve e gelo em 50 anos na China fizeram mais do que derrubar grandes trechos da malha elétrica do país e paralisar sua rede de transportes durante a temporada de pico das viagens de férias.
Elas também jogaram por terra o acordo implícito que une milhões de trabalhadores migrantes na Província meridional de Guangdong e seus empregadores. Em contrapartida por trabalhar duro o ano inteiro, freqüentemente separados de filhos e cônjuges, os proletários esperam com ansiedade passar uma semana de férias em suas casas de origem durante o feriadão do Ano Novo lunar, que começou ontem. Desesperado para aliviar a pressão sobre a malha ferroviária, o governo persuadiu centenas de milhares de migrantes a devolver suas passagens e voltar às fábricas no feriado. Agora, as empresas estão tentando ajudar os trabalhadores a suportar a perda. A fábrica de roupas Luen Thai está promovendo uma festa típica de Ano Novo chinês em sua Cidade Cadeia de Abastecimento, em Dongguan, no delta do rio Pérola.
"Meus pais choraram quando eu disse que não conseguiria voltar para casa", contou Lu Jin, 17 anos, natural da Província de Henan, que passa o primeiro Ano Novo longe da família. Os 19 milhões de migrantes em Guangdong não estão acostumadas a serem paparicados. Ganham pouco e trabalham duro para produzir calçados, brinquedos e inúmeros outros bens baratos consumidos no Ocidente. Também conduzem táxis, trabalham como garçons e fazem os trabalhos sujos que a população nativa da região já se nega a fazer. Sua recompensa habitual por tudo isso é a discriminação sistêmica, especialmente em escolas e hospitais, de preços inacessíveis aos "waidiren", ou "gente de fora".
Nesta temporada de férias, porém, um cartão de identificação de uma Província externa garante a seu dono uma série de mordomias, incluindo ingressos gratuitos ou mais baratos em cinemas, parques e cruzeiros com jantar no rio Pérola. A representação de Guangdong da Federação de Sindicatos da China estima que 600 locais de lazer foram montados em toda a Província expressamente para serem usados por trabalhadores migrantes nesta semana.
Para muitos, porém, nada compensa o fato de não estarem com suas famílias. "Tenho dois filhos, um de dez anos e outro de apenas um", disse na semana passada Zhang Mei, da Província de Hubai, enquanto tentava abrir caminho pela multidão na estação de Cantão. "Sinto saudades deles."


Tradução de CLARA ALLAIN


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