São Paulo, sexta-feira, 08 de fevereiro de 2008

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Aliados iniciam campanha pelo 3º mandato de Uribe

Governistas colherão assinaturas para mudar lei e autorizar "re-reeleição" na Colômbia

Uribe, cuja aprovação é de 80%, foi ambíguo sobre a proposta; para opositor, plano real do presidente é eleger um aliado em 2010

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ

Em meio a uma falta de posicionamento claro de Álvaro Uribe, um dos principais partidos governistas oficializou anteontem o lançamento de uma campanha nacional para que o presidente colombiano possa tentar sua segunda reeleição. A iniciativa, anunciada num momento em que a popularidade do mandatário ronda os 80%, foi criticada pela oposição e enfrenta resistência também entre apoiadores.
"Uribe é um líder de verdade, e os líderes não se fazem da noite para o dia", disse à Folha o senador Carlos García, do direitista Partido de la U (Partido Social da Unidade Nacional), responsável pela iniciativa.
"Um país não se ergue facilmente. A Espanha precisou de 14 anos de Felipe González para assentar as bases de uma nova sociedade. Aqui, o presidente Uribe ainda não apresentou os resultados que o país espera de sua liderança. Estamos apenas no início de um bom governo", justificou.
García assegura que se trata de uma "iniciativa popular" para dar a Uribe, 55, a possibilidade de se candidatar de novo -sem envolvimento direto do próprio presidente.
Para implantar a "re-reeleição", o Partido de la U diz estar avaliando dois caminhos: propor uma reforma constitucional ou convocar um referendo. Para ativar a ambos, é necessário o apoio de 5% dos eleitores do país, o que representa cerca de 1,4 milhões de assinaturas.

Projeto de poder
Para o senador oposicionista Gustavo Petro, do partido esquerdista Pólo Democrático Alternativo (PDA), a proposta tenta aproveitar o momento criado pela grande marcha da última segunda-feira contra as Farc, mas não é o principal plano do uribismo para estender seu tempo no poder.
"É uma proposta previsível, mas não é realista porque o que o presidente Uribe está pensando não é em se reeleger para o período 2010-2014, mas se reeleger em 2014-2018, com reeleição até 2022, e tentar ganhar com um de seus amigos políticos para 2010-2014", disse, em entrevista por telefone.
"É um projeto de grande fôlego, sem modificar a Constituição e sem atrair o temor da comunidade internacional nestes momentos em que se deve aprovar o Tratado de Livre Comércio com os EUA e em que há um duro questionamento sobre os vínculos com o paramilitarismo", diz Petro, um dos principais líderes da oposição.
A tese de Petro foi parcialmente confirmada ontem por uma das pessoas mais próximas de Uribe. O empresário e ex-assessor presidencial Fabio Echeverri, idealizador do bem-sucedido movimento que levou à aprovação da reeleição imediata, disse à rádio "W" que discorda de um terceiro mandato consecutivo e sugeriu uma candidatura em 2014.
Uribe, por sua vez, tem dado sinais ambíguos. Em novembro, provocou polêmica ao admitir que poderia concorrer em 2010 caso houvesse uma "hecatombe", definida por ele como a falta de acordo entre os sete partidos aliados para escolher um só candidato.
Eleito em 2002 para quatro anos, Uribe repetiu outros presidentes da região, como Fernando Henrique Cardoso, e aprovou a reeleição durante o seu mandato. Em 2006, venceu facilmente os demais adversários, tendo como bandeira a sua política linha-dura de segurança, financiada com ajuda americana, via Plano Colômbia.
Atualmente, sua popularidade ronda os 80%, índice inédito em seu mandato e atribuído ao seu desempenho na atual crise diplomática com a Venezuela.
Se levada adiante, a proposta do Partido de la U guarda semelhanças com o que ocorreu em 2007 na Venezuela, quando o desafeto de Uribe, Hugo Chávez, tentou sem sucesso aprovar a reeleição indefinida via referendo.


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