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Aliados iniciam campanha pelo 3º mandato de Uribe
Governistas colherão assinaturas para mudar lei e autorizar "re-reeleição" na Colômbia
Uribe, cuja aprovação é de 80%, foi ambíguo sobre a proposta; para opositor, plano real do presidente é eleger um aliado em 2010
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ
Em meio a uma falta de posicionamento claro de Álvaro
Uribe, um dos principais partidos governistas oficializou anteontem o lançamento de uma
campanha nacional para que o
presidente colombiano possa
tentar sua segunda reeleição. A
iniciativa, anunciada num momento em que a popularidade
do mandatário ronda os 80%,
foi criticada pela oposição e enfrenta resistência também entre apoiadores.
"Uribe é um líder de verdade,
e os líderes não se fazem da noite para o dia", disse à Folha o
senador Carlos García, do direitista Partido de la U (Partido
Social da Unidade Nacional),
responsável pela iniciativa.
"Um país não se ergue facilmente. A Espanha precisou de
14 anos de Felipe González para assentar as bases de uma nova sociedade. Aqui, o presidente Uribe ainda não apresentou
os resultados que o país espera
de sua liderança. Estamos apenas no início de um bom governo", justificou.
García assegura que se trata
de uma "iniciativa popular" para dar a Uribe, 55, a possibilidade de se candidatar de novo
-sem envolvimento direto do
próprio presidente.
Para implantar a "re-reeleição", o Partido de la U diz estar
avaliando dois caminhos: propor uma reforma constitucional ou convocar um referendo.
Para ativar a ambos, é necessário o apoio de 5% dos eleitores
do país, o que representa cerca
de 1,4 milhões de assinaturas.
Projeto de poder
Para o senador oposicionista
Gustavo Petro, do partido esquerdista Pólo Democrático
Alternativo (PDA), a proposta
tenta aproveitar o momento
criado pela grande marcha da
última segunda-feira contra as
Farc, mas não é o principal plano do uribismo para estender
seu tempo no poder.
"É uma proposta previsível,
mas não é realista porque o que
o presidente Uribe está pensando não é em se reeleger para
o período 2010-2014, mas se
reeleger em 2014-2018, com
reeleição até 2022, e tentar ganhar com um de seus amigos
políticos para 2010-2014", disse, em entrevista por telefone.
"É um projeto de grande fôlego, sem modificar a Constituição e sem atrair o temor da comunidade internacional nestes
momentos em que se deve
aprovar o Tratado de Livre Comércio com os EUA e em que
há um duro questionamento
sobre os vínculos com o paramilitarismo", diz Petro, um dos
principais líderes da oposição.
A tese de Petro foi parcialmente confirmada ontem por
uma das pessoas mais próximas de Uribe. O empresário e
ex-assessor presidencial Fabio
Echeverri, idealizador do bem-sucedido movimento que levou
à aprovação da reeleição imediata, disse à rádio "W" que discorda de um terceiro mandato
consecutivo e sugeriu uma candidatura em 2014.
Uribe, por sua vez, tem dado
sinais ambíguos. Em novembro, provocou polêmica ao admitir que poderia concorrer em
2010 caso houvesse uma "hecatombe", definida por ele como a
falta de acordo entre os sete
partidos aliados para escolher
um só candidato.
Eleito em 2002 para quatro
anos, Uribe repetiu outros presidentes da região, como Fernando Henrique Cardoso, e
aprovou a reeleição durante o
seu mandato. Em 2006, venceu
facilmente os demais adversários, tendo como bandeira a sua
política linha-dura de segurança, financiada com ajuda americana, via Plano Colômbia.
Atualmente, sua popularidade ronda os 80%, índice inédito
em seu mandato e atribuído ao
seu desempenho na atual crise
diplomática com a Venezuela.
Se levada adiante, a proposta
do Partido de la U guarda semelhanças com o que ocorreu em
2007 na Venezuela, quando o
desafeto de Uribe, Hugo Chávez, tentou sem sucesso aprovar a reeleição indefinida via
referendo.
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