São Paulo, segunda-feira, 08 de março de 2004

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EUA

Estado registra onda de cerimônias, mesmo após veto do procurador-geral, e amplia o debate sobre a legalização da prática

Casamento gay leva NY à desobediência civil

CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK

RAFAEL CARIELLO
ENVIADO ESPECIAL A NEW PALTZ (NY)

"Sim, é um ato de desobediência civil", disse a reverenda Kay Greenleaf anteontem, ao chegar a New Paltz, cidade cerca de 120 km ao norte de Nova York, após ser questionada sobre a legalidade do que vinha fazer: realizar o matrimônio de 13 casais homossexuais. "Estou fazendo aquilo em que acredito", completou.
A desobediência civil passou a ser encarada como opção legítima de pressão por ativistas favoráveis à legalização do casamento gay nos EUA após o procurador-geral de Nova York, Eliot Spitzer, ter declarado na semana passada que casamentos de pessoas do mesmo sexo infringem a lei do Estado. New Paltz foi o pivô da decisão de Spitzer, após seu prefeito, Jason West (Partido Verde), ter realizado matrimônios entre casais homossexuais no último dia 27 de fevereiro.
Na cidade de Nova York, a vereadora democrata Margarita Lopez anunciou que infringirá a lei e será a primeira parlamentar local a casar pessoas do mesmo sexo.
"Eu pedi a licença e devo receber a permissão para celebrar matrimônios em duas semanas. Vou realizar casamentos gays. Vou desobedecer a lei. Uma lei que não respeita a igualdade de direitos é uma lei imoral", disse à Folha.
Os argumentos usados pela vereadora são comuns a muitos dos ativistas, que incluem heterossexuais, e chegam a comparar a atual disputa com lutas passadas por ampliação de direitos civis, como o voto feminino e a igualdade legal entre brancos e negros.
Em editorial ontem, o "New York Times" disse que o atual debate "segue o mesmo padrão da liberação feminina, da integração racial, dos direitos dos deficientes físicos e de toda a caminhada dos americanos marginalizados para dentro do "mainstream'".
No final de 2003, a Suprema Corte de Massachusetts decidiu que não há dispositivo na Constituição dos EUA que impeça homossexuais de se casarem. Desde então, casamentos gays já foram realizados nos Estados da Califórnia, Novo México e Oregon. Em reação, o presidente George W. Bush tem promovido uma campanha para criar uma emenda constitucional, de difícil aprovação, que proíba casamentos gays.

Direitos
Anteontem, em New Paltz, os voluntários que ajudaram a organizar os primeiros casamentos gays a abertamente desafiarem a decisão do procurador-geral de Nova York pareciam dispostos a levar adiante a discussão em termos políticos.
Lizzi Barone, 18, que cursa a universidade local, de pé numa das esquinas da rua principal da cidade, segurava, sob chuva fina, um cartaz indicando o caminho para os forasteiros que procuravam pelo evento. "Sou heterossexual. Acredito nessa causa. Esse deveria ser um país livre."
A ambientalista Kathryn Skolnik, 24, presente à cerimônia, declarou que a orientação sexual não é a principal motivação dos atuais ativistas por ampliação dos direitos civis. Questionada sobre sua sexualidade, afirmou: "Não sou lésbica. Mas não acho que essa seja uma pergunta relevante".
Homossexual, a vereadora Lopez diz que, pessoalmente, é contra o casamento -para ela, uma instituição que "oprime as mulheres". "Não é a minha escolha pessoal, mas defendo o direito de ter escolhas." O prefeito West, que havia celebrado casamentos uma semana antes e prometera voltar a realizá-los no sábado, recuou, mas convidou a reverenda Greenleaf a fazê-lo em seu lugar.



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