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EUA
Estado registra onda de cerimônias, mesmo após veto do procurador-geral, e amplia o debate sobre a legalização da prática
Casamento gay leva NY à desobediência civil
CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK
RAFAEL CARIELLO
ENVIADO ESPECIAL A NEW PALTZ (NY)
"Sim, é um ato de desobediência
civil", disse a reverenda Kay Greenleaf anteontem, ao chegar a New
Paltz, cidade cerca de 120 km ao
norte de Nova York, após ser
questionada sobre a legalidade do
que vinha fazer: realizar o matrimônio de 13 casais homossexuais.
"Estou fazendo aquilo em que
acredito", completou.
A desobediência civil passou a
ser encarada como opção legítima
de pressão por ativistas favoráveis
à legalização do casamento gay
nos EUA após o procurador-geral
de Nova York, Eliot Spitzer, ter
declarado na semana passada que
casamentos de pessoas do mesmo
sexo infringem a lei do Estado.
New Paltz foi o pivô da decisão de
Spitzer, após seu prefeito, Jason
West (Partido Verde), ter realizado matrimônios entre casais homossexuais no último dia 27 de
fevereiro.
Na cidade de Nova York, a vereadora democrata Margarita Lopez anunciou que infringirá a lei e
será a primeira parlamentar local
a casar pessoas do mesmo sexo.
"Eu pedi a licença e devo receber a permissão para celebrar matrimônios em duas semanas. Vou
realizar casamentos gays. Vou desobedecer a lei. Uma lei que não
respeita a igualdade de direitos é
uma lei imoral", disse à Folha.
Os argumentos usados pela vereadora são comuns a muitos dos
ativistas, que incluem heterossexuais, e chegam a comparar a
atual disputa com lutas passadas
por ampliação de direitos civis,
como o voto feminino e a igualdade legal entre brancos e negros.
Em editorial ontem, o "New
York Times" disse que o atual debate "segue o mesmo padrão da
liberação feminina, da integração
racial, dos direitos dos deficientes
físicos e de toda a caminhada dos
americanos marginalizados para
dentro do "mainstream'".
No final de 2003, a Suprema
Corte de Massachusetts decidiu
que não há dispositivo na Constituição dos EUA que impeça homossexuais de se casarem. Desde
então, casamentos gays já foram
realizados nos Estados da Califórnia, Novo México e Oregon. Em
reação, o presidente George W.
Bush tem promovido uma campanha para criar uma emenda
constitucional, de difícil aprovação, que proíba casamentos gays.
Direitos
Anteontem, em New Paltz, os
voluntários que ajudaram a organizar os primeiros casamentos
gays a abertamente desafiarem a
decisão do procurador-geral de
Nova York pareciam dispostos a
levar adiante a discussão em termos políticos.
Lizzi Barone, 18, que cursa a
universidade local, de pé numa
das esquinas da rua principal da
cidade, segurava, sob chuva fina,
um cartaz indicando o caminho
para os forasteiros que procuravam pelo evento. "Sou heterossexual. Acredito nessa causa. Esse
deveria ser um país livre."
A ambientalista Kathryn Skolnik, 24, presente à cerimônia, declarou que a orientação sexual
não é a principal motivação dos
atuais ativistas por ampliação dos
direitos civis. Questionada sobre
sua sexualidade, afirmou: "Não
sou lésbica. Mas não acho que essa seja uma pergunta relevante".
Homossexual, a vereadora Lopez diz que, pessoalmente, é contra o casamento -para ela, uma
instituição que "oprime as mulheres". "Não é a minha escolha
pessoal, mas defendo o direito de
ter escolhas." O prefeito West,
que havia celebrado casamentos
uma semana antes e prometera
voltar a realizá-los no sábado, recuou, mas convidou a reverenda
Greenleaf a fazê-lo em seu lugar.
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