São Paulo, segunda-feira, 08 de março de 2004

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ORIENTE MÉDIO

Incursão em campo palestino, que matou 3 crianças, é a mais violenta desde 2002; Hamas ameaça retaliar

Operação de Israel em Gaza deixa 14 mortos e 81 feridos

DA REDAÇÃO

O Exército de Israel realizou ontem sua incursão mais violenta pelos territórios ocupados em um ano e meio, matando 14 palestinos e ferindo mais de 80 pessoas em seis horas de confronto. Entre os mortos há três crianças.
Munidos de fuzis, mísseis antitanque e lança-granadas, centenas de palestinos confrontaram helicópteros, tanques e franco-atiradores israelenses nos campos de refugiados de Bureij e Nusseirat. Centenas de crianças participaram do confronto, perseguindo tanques com pedras nas mãos.
O ataque de ontem ilustra a recente intensificação da violência na faixa de Gaza -principalmente após a promessa do premiê israelense, Ariel Sharon, de desmantelar os assentamentos judaicos no território- e ocorre num momento em que a Autoridade Nacional Palestina enfrenta uma crise econômica e política, sobretudo em Gaza, onde nos últimos meses vem se travando um embate grupos policiais e recém-surgidos paramilitares.
Segundo os militares israelenses, a operação de ontem serviu para "colocar os palestinos na defensiva e evitar que executem novos ataques contra Israel", além de ter como objetivo a busca de armas -ainda que nenhuma tenha sido encontrada.
"O terrorismo está borbulhando nesses campos de refugiados, e nós temos que acabar com isso", disse o porta-voz do governo israelense, Avi Pazner. "Acreditamos que, com essa ação, evitamos atos de terror em Israel e salvamos muitas vidas."
Após o ataque, Saeb Erekat, o principal negociador palestino, pediu a retomada dos diálogos para a paz na região patrocinados pelos EUA. "Ao mesmo tempo em que eles [israelenses] falam em se retirar de Gaza, eles destroem Gaza", afirmou Erekat. Mas Pazner negou que a operação tivesse relação com a retirada. "Combatemos o terrorismo."
Já o gabinete do premiê palestino, Ahmed Korei, chamou os ataques de "terrorismo de Estado".

Retaliação
A operação de ontem foi a mais violenta conduzida por Israel desde outubro de 2002, quando 19 palestinos morreram em uma ação israelense contra o campo de Khan Younis (Gaza). Durante a tarde, dezenas de milhares de pessoas participaram dos funerais, entoando palavras de ordem contra os israelenses e pregando uma guerra santa contra Israel.
Entre os mortos, estão nove membros do grupo terrorista Hamas, que já prometeu retaliar, e mais um atirador. Os outros quatro mortos eram civis, incluindo três meninos de 15, 12 e oito anos.
"O Hamas confirma que Sharon vai pagar um alto preço, se Deus quiser, e só deixará a faixa de Gaza derrotado", disse o grupo em um comunicado.
A operação começou antes do amanhecer, quando as forças israelenses chegaram aos campos de Bureij e Nusseirat com ao menos dois helicópteros Apache, e só terminou no meio da manhã, com a retirada das tropas, perseguidas por militantes munidos com granadas-foguetes.
Segundo os palestinos, com o ataque, as ligações telefônicas e elétricas do campo com a região central de Gaza foram cortadas.
Anteontem, três grupos palestinos tentaram executar um ataque contra os soldados do posto de controle de Erez, entre Gaza e Israel. Um homem-bomba e atiradores dentro de veículos disfarçados como táxis e jipes militares israelenses foram enviados ao local -entretanto nenhum israelense foi ferido, ao passo que quatro dos terroristas e dois policiais palestinos morreram. Como resposta, Israel fechou o posto, por onde passam diariamente 19 mil palestinos que trabalham em Israel.
Um comandante israelense, general Yosef Mishlav, recomendou que Israel use os cerca de US$ 8,4 milhões confiscados de bancos palestinos no último dia 25 para reforçar a segurança nos postos de controle. Israel alega que o dinheiro foi depositado por grupos iranianos, sírios e libaneses para custear ataques terroristas, o que os palestinos negam.


Com agências internacionais


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