São Paulo, domingo, 8 de março de 1998

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BIG APPLE
Envelhecimento da maior cidade dos EUA causa problemas
Acidentes mostram que Nova York já sente o peso da idade

RICK HAMPSON
do "USA Today", em Nova York

A criminalidade não é a única coisa em queda na maior cidade dos EUA. Tijolos, muros e guindastes despencaram das alturas no último mês, deixando os nova-iorquinos saudosos dos dias em que só precisavam se preocupar com os assaltantes.
"É melhor manter a cabeça erguida, e não é para admirar os altos prédios", diz Stanley Cohen, 61, publicitário de Manhattan. "Então não somos mais assaltados agora? Mas ainda levamos pauladas na cabeça."
O prefeito Rudy Giuliani desconversa. "A cidade está em boa forma", insiste, repetindo o que havia dito quando os problemas surgiram pouco antes do Natal. Uma tonelada de tijolos despencou da torre de um escritório da avenida Madison, fechando diversas quadras e enfraquecendo as vendas de férias das lojas.
Desde então, a cidade registrou cerca de dez incidentes, incluindo fachadas que caíram, prédios que desabaram e acidentes de construção. O mais fotogênico foi a ruptura de um tubo de água que inundou a Quinta Avenida, gerando uma fossa que quase engoliu um carro e um incêndio de gás natural com chamas da altura de um prédio de dois andares.
Uma menina de 16 anos morreu, atingida por um tijolo que tombou de uma construção no telhado de uma escola do Brooklin que estava sendo reformada. Peritos dizem que acidentes não são coincidência. Ao mesmo tempo em que Nova York comemora o seu centésimo ano como cidade unificada e composta de cinco distritos, ela sente a idade pesar.
Grande parte da cidade foi construída no período que sucedeu a sua consolidação, em 1898. "Chegou a hora", diz Samuel Schwartz, diretor de Transportes da cidade. "A cidade está caindo em pedaços, rangendo e arrebentando. A menos que a porcentagem de substituições mude, a situação permanecerá a mesma."
Os tubos de água, por exemplo, têm vida útil de menos de cem anos. Entre 1910 e 1930, Nova York instalou 4.100 quilômetros de encanamento -quase metade de seu sistema. Grande parte nunca foi reposta. A cidade só instalou cerca de 320 quilômetros de tubos de água na década de 80.
As pontes, ruas e prédios da cidade enfrentam um dilema parecido, de acordo com Clark Wieman, diretor de pesquisa do Cooper Union's Infrastructure Institute: "O que assusta é que muita coisa deve acontecer ao mesmo tempo nos próximos 5, 10 ou 15 anos."
Alguns dos danos, entretanto, vêm da tentativa de escorar essa estrutura envelhecida. Na semana passada, um bonde no East River foi atingido por um guindaste de construção, ferindo 11 passageiros e forçando milhares a encontrar uma outra forma de se locomover entre a ilha Roosevelt e Manhattan.
O guindaste, que participava de consertos na ponte Queensboro, bateu no bonde e o arremessou para frente e para trás nos cabos.
"Parecia uma corrida em Coney Island", comenta o passageiro Eric Trowbridge, cujo casaco ficou encharcado de sangue de um machucado na cabeça. "Pensei que iríamos morrer."
Foi o segundo acidente, nos últimos dias, envolvendo um guindaste.
Na véspera, a lança de um guindaste de 13 metros vergou e bateu na lateral de um prédio em Times Square quando um caminhão que entregava várias toneladas de granito deixou o local antes que o guindaste pudesse içar o fornecimento.
O guindaste estava sendo usado para construir uma nova torre de escritório. Mas a maioria dos problemas envolve prédios no outro extremo do ciclo vital.
No final de janeiro, por exemplo, um pedaço da parede traseira de um prédio na Lower East Side caiu. Autoridades ordenaram a demolição imediata do prédio avariado e declararam que era perigoso demais permitir a entrada dos moradores para recuperar pertences e animais de estimação.
Roberto Carreara, 66, perdeu o gato. "Ele é tudo o que possuo", afirma.
Mas Ted Birkhahm, porta-voz do Departamento de Construção, alerta contra o pânico geral. "Estamos falando de oito ou nove prédios... Temos um milhão ainda em pé."



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