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Campanha é considerada a mais agressiva
GABRIELA SCHEINBERG
da Reportagem Local
Se o filme "O Informante", que
denuncia as manobras da indústria do tabaco, tivesse uma continuação, a história relatada na revista "The Lancet" seria o roteiro.
"Nunca vi uma campanha tão
agressiva para desacreditar um
estudo como a que foi feita pela
Philip Morris", disse à Folha
Stanton Glantz, co-autor do estudo divulgado ontem.
Segundo ele, as empresas que
fabricam cigarro já têm a fama de
ser "inescrupulosos" e esse estudo não vai mudar a opinião pública. O principal foco do estudo é a
mudança nas estratégias usadas
pelas indústrias, disse Glantz.
"Antes, as empresas esperavam
o estudo ser publicado para depois refutá-lo", afirmou. "O que
apuramos foi que a Philip Morris
começou a elaborar uma estratégia para acabar com a credibilidade do estudo cinco anos antes de a
pesquisa acabar."
O estudo, realizado pela Agência Internacional de Pesquisas
Contra o Câncer (IARC, na sigla
em inglês), foi o maior já realizado na Europa. A pesquisa investigou mais de 2.000 pessoas durante nove anos. A conclusão, de que
o fumo passivo eleva o risco de
câncer de pulmão em 16%, reforçou outras pesquisas já realizadas
em demais países do mundo.
Mas a Philip Morris queria evitar que esse dado fosse divulgado,
disse Glantz. Em seu estudo, ele
apresenta um memorando da
empresa de relações públicas da
Philip Morris, a Burson-Marsteller, indicando que a melhor tática
para desacreditar o estudo da
IARC seria atrasar a divulgação
dos dados e neutralizar o possível
resultado negativo do estudo.
A imprensa foi escolhida como
uma das armas para pôr em prática esse plano, informaram os autores do estudo.
Após receber informações da
British American Tobacco, outra
empresa do setor de tabaco, vários jornais publicaram que o fumo passivo não apresenta riscos,
informou Elisa Ong, co-autora do
estudo da "The Lancet". "A indústria conseguiu convencer o
público leigo de que o fumo passivo não eleva o risco de câncer de
pulmão. Mas isso não é o que outros estudos indicam", disse Ong.
O pesquisador do estudo original do IARC, Paolo Boffetta, disse
que, na época, em 1998, o impacto
foi enorme. "No curto prazo, o estrago foi devastador", afirmou.
"Mas os nossos estudos não são
direcionados para o público leigo.
Acho que os médicos entenderam
a mensagem: fumo passivo causa
câncer", afirmou.
Segundo a pesquisa, a Philip
Morris chegou a contratar consultores para descobrir o máximo
possível sobre o estudo da IARC
antes mesmo de ser concluído. A
intenção era encontrar o ponto
fraco do estudo, algo que pudesse
ser usado no futuro para desacreditar a pesquisa.
A empresa promoveu também
várias coletivas de imprensa em
muitos países para passar os dados obtidos por meio da espionagem. "Acho que o estudo da "The
Lancet" servirá para alertar os editores de jornais e revistas que nem
todas as pesquisas são idôneas",
disse Glantz.
A indústria de tabaco financia
também estudos que questionam
o efeito do fumo passivo para
confundir as pessoas, informou
Stella Aguinaga-Bialous, brasileira que trabalha na Organização
Mundial da Saúde em pesquisa
sobre política de saúde e controle
de tabagismo em São Francisco,
nos EUA.
"Os dados de instituições grandes, como o IARC, são os que
mais preocupam a indústria, pois
eles têm um peso muito maior e
podem ser extrapolados para outros países", disse.
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