São Paulo, sábado, 08 de abril de 2000


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MASSACRE
Premiê discursa seis anos após o massacre de tutsis e hutus
Bélgica assume responsabilidade pelo genocídio em Ruanda

STEPHEN SMITH
do "Libération"

No dia do sexto aniversário do genocídio em Ruanda, o primeiro-ministro belga pediu perdão publicamente em Kigali. "Em nome do meu país, me inclino diante das vítimas do genocídio", declarou ontem Guy Verhofstadt, durante uma cerimônia em Gisozi, subúrbio da capital ruandesa.
"Em nome do meu país, do meu povo, eu lhes peço perdão. Para que Ruanda (colônia belga até 1962) possa pensar no futuro, na reconciliação, devemos antes de mais nada assumir nossa responsabilidade e reconhecer nossa culpa. Toda a comunidade internacional carrega uma imensa e pesada responsabilidade", acrescentou o primeiro-ministro.
Verhofstadt, que antes de se tornar premiê, em junho de 1999, fez parte de uma comissão parlamentar de inquérito sobre o papel de seu país no genocídio em Ruanda, discursou no lugar onde se localiza um memorial inacabado, cujas salas acolhem ossadas de vítimas do genocídio, provenientes de todas as partes do país.
Como a cada ano, a comemoração do início do genocídio, no qual mais de 500 mil tutsis perderam a vida, foi acompanhada de exumações de cadáveres de valas comuns. Desde março, cerca de 52 mil corpos foram desenterrados só nos arredores da capital.
De 7 de abril de 1994, quando um atentado matou os presidentes de Ruanda Juvenal Habyarimana e do Burundi Cyprien Ntaryamira, até julho, a comunidade hutu, maioria no país, perseguiu e matou perto de 500 mil membros da minoria tutsi.
Porém os tutsis tomaram então o poder e começaram a perseguir os hutus. Entre agosto de 1996 e maio de 1997, cerca de 200 mil hutus, que haviam se refugiado no então Zaire (atual República Democrática do Congo), foram assassinados.
Antes de visitar o memorial, o primeiro-ministro belga homenageou dez soldados belgas assassinados em 7 de abril de 1994, numa base militar em Kigali. Encarregados de proteger o então primeiro-ministro ruandês, Agathe Uwilingiyimana, eles haviam sido desarmados e fuzilados pela Guarda Presidencial do antigo regime hutu.
Na Bélgica, a viagem de Verhofstadt criou controvérsias, pois pode ser usada pelo atual regime tutsi ruandês para culpar a comunidade internacional do ocorrido e fechar as portas a uma eventual reconciliação com a maioria hutu.
Ruanda mandou milhares de soldados ao Congo, ex-Zaire, desde 1996, e é a força motriz da rebelião que começou em 1998. O país apoiou o golpe liderado por Laurent Kabila em 1997, mas parou de fazê-lo, em seguida, e passou a auxiliar os rebeldes. Há denúncias de que buscam vantagens financeiras.


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