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MASSACRE
Premiê discursa seis anos após o massacre de tutsis e hutus
Bélgica assume responsabilidade pelo genocídio em Ruanda
STEPHEN SMITH
do "Libération"
No dia do sexto aniversário do
genocídio em Ruanda, o primeiro-ministro belga pediu
perdão publicamente em Kigali.
"Em nome do meu país, me inclino diante das vítimas do genocídio", declarou ontem Guy
Verhofstadt, durante uma cerimônia em Gisozi, subúrbio da
capital ruandesa.
"Em nome do meu país, do
meu povo, eu lhes peço perdão.
Para que Ruanda (colônia belga
até 1962) possa pensar no futuro, na reconciliação, devemos
antes de mais nada assumir nossa responsabilidade e reconhecer nossa culpa. Toda a comunidade internacional carrega uma
imensa e pesada responsabilidade", acrescentou o primeiro-ministro.
Verhofstadt, que antes de se
tornar premiê, em junho de
1999, fez parte de uma comissão
parlamentar de inquérito sobre
o papel de seu país no genocídio
em Ruanda, discursou no lugar
onde se localiza um memorial
inacabado, cujas salas acolhem
ossadas de vítimas do genocídio, provenientes de todas as
partes do país.
Como a cada ano, a comemoração do início do genocídio, no
qual mais de 500 mil tutsis perderam a vida, foi acompanhada
de exumações de cadáveres de
valas comuns. Desde março,
cerca de 52 mil corpos foram
desenterrados só nos arredores
da capital.
De 7 de abril de 1994, quando
um atentado matou os presidentes de Ruanda Juvenal Habyarimana e do Burundi Cyprien
Ntaryamira, até julho, a comunidade hutu, maioria no país,
perseguiu e matou perto de 500
mil membros da minoria tutsi.
Porém os tutsis tomaram então o poder e começaram a perseguir os hutus. Entre agosto de
1996 e maio de 1997, cerca de
200 mil hutus, que haviam se refugiado no então Zaire (atual
República Democrática do
Congo), foram assassinados.
Antes de visitar o memorial, o
primeiro-ministro belga homenageou dez soldados belgas assassinados em 7 de abril de 1994,
numa base militar em Kigali.
Encarregados de proteger o então primeiro-ministro ruandês,
Agathe Uwilingiyimana, eles
haviam sido desarmados e fuzilados pela Guarda Presidencial
do antigo regime hutu.
Na Bélgica, a viagem de Verhofstadt criou controvérsias,
pois pode ser usada pelo atual
regime tutsi ruandês para culpar a comunidade internacional
do ocorrido e fechar as portas a
uma eventual reconciliação
com a maioria hutu.
Ruanda mandou milhares de
soldados ao Congo, ex-Zaire,
desde 1996, e é a força motriz da
rebelião que começou em 1998.
O país apoiou o golpe liderado
por Laurent Kabila em 1997,
mas parou de fazê-lo, em seguida, e passou a auxiliar os rebeldes. Há denúncias de que buscam vantagens financeiras.
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