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CÚPULA
Países da região e Turquia se reúnem no Cazaquistão, sob olhar atento de Moscou e Washington
Ásia Central debate óleo e extremismo
RODRIGO UCHÔA
especial para a Folha
Começa hoje, em Baku, capital
do Cazaquistão, uma reunião de
seis países da Ásia Central com a
Turquia. O encontro objetiva, oficialmente, estreitar os laços entre
os países que falam turco, mas vai
mesmo é tratar de assuntos menos amistosos: a produção de petróleo e o crescimento das guerrilhas islâmicas extremistas.
Os resquícios da Guerra Fria devem ditar as negociações. Moscou
observa atentamente: a região é
formada por ex-Repúblicas soviéticas, e o Kremlin a vê como área
estratégica e de influência natural
-a Tchetchênia está ali perto.
Os EUA capitalizaram a necessidade de investimentos que a
quebrada Rússia não pôde suprir.
O governo azerbaijano, por
exemplo, está construindo oleodutos e gasodutos com financiamentos norte-americanos.
"Washington pretende levar o
petróleo direto ao Mediterrâneo,
eliminando o intermediário russo", disse à Folha Nursulan Surayev, especialista em Ásia Central
da "Far Eastern Economic Review", publicação de Hong Kong.
Azerbaijão, Cazaquistão e Turcomenistão têm, juntos, a terceira
maior reserva de petróleo do
mundo, atrás apenas do Oriente
Médio e do golfo do México. Tadjiquistão, Quirguistão e Uzbequistão têm grandes reservas de
urânio -necessário para a produção de material nuclear.
A Turquia, nesse meio, quer se
tornar o escoadouro do petróleo
do mar Cáspio.
Os laços de amizade entre os
seis realmente não se sustentam.
Antes do começo da cúpula, o
presidente turcomeno, Saparmurat Niyazov, já anunciou que não
vai comparecer, pois não quer se
sentar com o presidente do Azerbaijão, Haydar Aliev. O pomo da
discórdia é a disputa pelo uso dos
oleodutos da região.
Democracia não será tema, apesar de todos quererem ganhar um
verniz de respeitabilidade nesse
campo. Os números demonstram
como funcionam os regimes
"eleitos". Niyasov teve 99,9% dos
votos na eleição presidencial de
94 -na anterior, teve 99,5%.
O presidente do Quirguistão,
Askar Akayev, passou esta semana liberando presos políticos para
demonstrar boa vontade.
"Tanto a Rússia quanto os EUA
querem conservar esses governos
fortes como forma de barrar o extremismo vindo do Afeganistão",
afirma Surayev.
Caldeirão
Essa região da Ásia Central tem
um emaranhado de 300 etnias e
mais de 60 milhões de habitantes
-mais de 120 milhões, se contada a Turquia. É a região do mundo em que o islã cresce mais rápido (cerca de 85% dos habitantes
são muçulmanos).
"Porém a religião, com seus
preceitos morais e éticos, não é
um ponto de união", diz Anthony
Pinter, cientista político da Universidade de Maryland (EUA).
"O fundamentalismo wahhabita (movimento originário da Arábia do século 18) cresce no vale de
Ferghana e tem ajuda do regime
do Taleban (que governa 90% do
Afeganistão) contra a maioria sunita." A fronteira do Tadjiquistão
com o Afeganistão é patrulhada
por 20 mil soldados russos.
A região é a confluência histórica de três impérios em combate
por influência: o Turco-Otomano, o Russo e o Chinês. Hoje, todos esses Estados são Repúblicas,
mas continuam com um ranço de
política imperial. Até a China enfrenta o separatismo muçulmano,
na Província de Xinjiang.
A reunião, que vai até segunda-feira, estará sentada sobre um
barril de pólvora -clichê que poderia ser substituído por barril de
petróleo. Muitos tentam atear fogo ao pavio.
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