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São Paulo, terça-feira, 08 de abril de 2003

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FRENTE SUL

Tropas fazem incursão ao centro da cidade e não encontram resistência de paramilitares

Britânicos dizem ter tomado Basra

David Guttenfelder/Associated Press
Iraquianos se movimentam para pegar autógrafos de uma combatente britânica sentada em um tanque em Basra, no sul do país


DA REDAÇÃO

Amparados por tanques e helicópteros, soldados britânicos fizeram ontem a primeira incursão à região central de Basra, no que seria a tomada definitiva da principal cidade do sul do Iraque.
De acordo com relatos das agências Reuters e Associated Press, os britânicos não encontraram resistência em sua investida.
Centenas de pessoas teriam se postado na principal via da cidade para saudar os invasores, segundo a AP. No relato da Reuters, a reação dos moradores foi moderada -alguns se aproximaram dos cerca de 700 soldados para pedir água. A situação da cidade é classificada como caótica, segundo a Cruz Vermelha Internacional, com o corte da maioria dos serviços essenciais.
O marechal-do-ar Brian Burridge afirmou que os britânicos ainda esperavam encontrar na incursão de ontem resistência por parte de combatentes ligados ao partido Baath. "As forças britânicas estão completando o processo de liberação da cidade, depois de décadas sob o regime de Saddam", disse Burridge. "Haverá dias difíceis pela frente, mas o regime do Baath terminou em Basra."
Desde o início da guerra, 19 dias antes, os britânicos travavam combates com membros do partido e paramilitares nos subúrbios da cidade de 1,3 milhão de habitantes. Como parte da estratégia de guerra definida pelo comando da coalizão anglo-americana, os soldados britânicos cercaram Basra, a mais importante porta de entrada no Iraque pelo sul, enquanto as tropas norte-americanas rumaram para Bagdá.
O que deveria ser um cerco se converteu em duros combates com tropas fiéis a Saddam Hussein. De forma paralela, as condições sociais (como no resto do Iraque) se deterioram. Pelo menos 50% da cidade permanece sem água, a despeito de os britânicos terem anunciado seguidas vezes o restabelecimento do serviço. A Cruz Vermelha mantém repetidos alertas para uma crise humanitária em Basra.
A preparação para a tomada definitiva começou anteontem, quando colunas de tanques percorreram as vias principais para combater focos de resistência. O Ministério da Defesa britânico informou que três soldados foram mortos em choques naquele dia.
Oficiais britânicos disseram que o principal desafio passa a ser agora obter a confiança da população. Em 1991, encorajados pelos norte-americanos, os habitantes de Basra, de maioria muçulmana xiita, ensaiaram uma revolta contra Bagdá. Foram brutalmente reprimidos por Saddam.
Para tanto, os britânicos se apoiavam ontem em um suposto trunfo: anunciaram ter encontrado o corpo de Ali Hassan al Majid, o Ali Químico, que comandara o massacre dos curdos (no norte) ao final da primeira Guerra do Golfo, e era governador da região sul do Iraque, que compreende a cidade de Basra.
Não bastasse a crise humanitária (e a desconfiança), a Basra que os britânicos agora dizem ter sob controle é uma cidade sem lei.
Um enviado da Reuters afirmou ter visto ontem moradores saqueando as dependências de um hotel e do prédio do Banco Central iraquiano. Tapetes, mesas e até um piano foram retirados do hotel Sheraton no centro. "A menos que vejamos alguém fazendo isso na nossa frente, não tomamos parte. Não temos como lidar com esse problema agora", disse um capitão britânico.
O general Tommy Franks (comandante das operações no golfo Pérsico e que está baseado no Qatar) visitou tropas americanas ontem em Najaf (centro do Iraque) e duas outras localidades não reveladas pelo Pentágono.


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