São Paulo, quinta-feira, 08 de abril de 2004

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IRAQUE OCUPADO

EUA bombardeiam prédio dentro de complexo de mesquita; segundo testemunhas, pode haver de 25 a 46 mortos

EUA admitem "problema" e atacam mesquita

Patrick Baz/France Presse
Soldado patrulha diante de cartaz do líder Al Sadr, em Bagdá


DA REDAÇÃO

No dia que registrou os confrontos mais violentos desde a queda de Saddam Hussein, há um ano, forças dos EUA bombardearam ontem o complexo que abriga uma mesquita em região sunita do país e enfrentaram rebeldes xiitas em várias cidades.
O secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, reconheceu que há "um problema sério" no Iraque e que a cidade sagrada de Najaf está dominada por rebeldes, mas disse que a coalizão continua controlando o país.
Na batalha de seis horas no complexo de uma mesquita em Fallujah -cidade em que foram mutilados os corpos de quatro americanos na semana passada-, marines lançaram duas bombas de 225 kg sobre um prédio de onde, segundo os EUA, foram disparados foguetes contra suas tropas. Segundo fontes hospitalares, de 25 a 46 iraquianos teriam morrido; para os americanos, houve uma vítima. Dois marines morreram na cidade.
"Quando se usa locais religiosos para fins militares, eles perdem seu status de protegidos", disse o general dos EUA Mark Kimmit.
No seu rancho em Crawford (Texas), o presidente George W. Bush teve conversas por videoconferência com assessores de segurança. Também falou por telefone durante 30 minutos com o premiê britânico, Tony Blair. Bush teme que a situação no Iraque ameace sua reeleição.
Ontem, o virtual candidato democrata, John Kerry, qualificou a ocupação americana do Iraque como um "desastre". "O presidente deve reconhecer que há dificuldades. Deve modificar sua política", disse. Propôs que os EUA transfiram a "uma entidade internacional" a "responsabilidade de reconstrução e de estabelecimento de um novo governo".
Já Rumsfeld disse que os EUA podem adiar a volta de alguns soldados "experientes" em razão do crescimento da violência. Atualmente há cerca de 130 mil soldados americanos no Iraque, além de cerca de 26 mil de outros países da coalizão, alguns dos quais começam a manifestar preocupação.
O Pentágono tentou minimizar o alcance do levante xiita. O general Richard Myers, comandante das Forças Armadas dos EUA, disse que o líder da revolta xiita, o radical Moqtada al Sadr, e sua milícia teriam poucos seguidores.
Rumsfeld admitiu que os lugares santos do Iraque não estão seguros, temendo distúrbios em peregrinações xiitas nos próximos dias. A atual onda de violência teve início no domingo, com os protestos de xiitas comandados por Al Sadr. Eles foram detonados pela prisão de um assessor do clérigo e pelo fechamento de um jornal de seu grupo em Bagdá que, segundo os americanos, estaria incitando à violência anti-EUA.
Antes, os principais focos de resistência contra a ocupação encontravam-se no Triângulo Sunita -principal bastião do ex-ditador Saddam Hussein- , no centro-norte do país. Agora, os EUA enfrentam rebeldes no sul, habitados majoritariamente por xiitas (cerca de 60% da população).
Em Karbala, militares poloneses mataram um auxiliar de Al Sadr e envolveram-se em choques com rebeldes. Integrantes da milícia xiita Exército Mehdi movem-se livremente pela cidade. Em Bagdá, um soldado americano morreu em ataque com granada.
Soldados ucranianos foram obrigados a se retirar de Kut por milicianos xiitas. Os EUA também confirmaram a morte de 12 marines anteontem em Ramadi. Desde domingo, pelo menos 35 soldados americanos e aliados e 200 iraquianos morreram.

Com agências internacionais


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