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ANÁLISE
Bush e Blair devem admitir seus erros
ROBIN COOK
DO "INDEPENDENT"
Já se passou quase um ano desde que o presidente dos EUA,
George W. Bush, anunciou o fim
das ""grandes operações de combate" no Iraque. No entanto, as
TVs exibem imagens violentas
que se parecem estranhamente
com grandes operações de combate. Conquistar o Iraque pode
ter sido fácil, mas governá-lo como país ocupado é um desafio
muito mais difícil de enfrentar.
Não que aqueles que criaram o
problema já estejam dispostos a
admitir que erraram nos cálculos.
O discurso de Bush e de todos os
seus generais, nos últimos dias,
tem sido o da negação. As variações sobre o tema da decisão de
""manter o rumo" visam desviar
de antemão qualquer tentativa de
questionar se a escalada do confronto não seria evidência de que
estão no rumo errado. É difícil
sentir qualquer confiança na possibilidade de a liderança atual da
coalizão encontrar uma solução,
quando ela parece ser incapaz de
admitir que tem um problema.
Graças a revelações recentes, sabemos agora que o premiê britânico, Tony Blair, e Bush começaram a discutir a possibilidade de
invadir o Iraque duas semanas
após o 11 de Setembro, um ano e
meio antes de a invasão se concretizar. É notável, e prova de negligência proposital, que o período
entre uma coisa e outra tenha sido
utilizado para planejar uma operação militar nos mínimos detalhes, mas que não se tenha pensado nos problemas previsíveis e assustadores de se reconstruir todo
o aparato do governo civil.
Fica difícil propor um programa de estabilidade após um ano
inteiro repleto de erros de proporções épicas, tais como a demissão
precipitada do Exército iraquiano
inteiro sem oferecer a seus homens qualquer alternativa de emprego, mas deixando que levassem suas armas. Mas respondamos aos pedidos repetidos de ""seguir em frente" e oferecer à coalizão uma saída do buraco.
Os EUA devem parar de agravar
a situação com suas tentativas de
esmagar qualquer resistência
com força avassaladora. Bombardear vizinhanças miseráveis e superpovoadas a partir de helicópteros Apache só convence a maior
parte da população de que os
americanos vêem todos os iraquianos como inimigos. É uma
ironia cruel que, tendo prometido
que a vitória no Iraque levaria à
paz no Oriente Médio, a administração Bush tenha, na prática, levado a Bagdá as táticas militares
que o premiê israelense, Ariel
Sharon, aplica contra os palestinos, com precisamente o mesmo
resultado no que diz respeito a
consolidar a oposição local.
É necessário legitimar o governo do Iraque junto à população.
Seria um erro adiar a transição
política planejada para 30 de junho. Seria igualmente equivocado
exagerar seu significado. Não
houve nenhum processo representativo para a criação do novo
governo interino, que vai se parecer muito com o atual Conselho
de Governo escolhido a dedo pelo
Pentágono. Ninguém sabe exatamente que poderes serão de fato
transferidos para o governo interino, já que, inacreditavelmente,
faltando apenas dois meses, suas
funções ainda não foram decididas. Sabe-se, porém, que o Exército iraquiano vai operar ""sob comando unificado", ou seja, sob o
comando de um general americano de quatro estrelas, algo que
confere todo um novo sentido às
afirmações de suposta transferência de soberania nacional.
Robin Cook, 58, é parlamentar trabalhista desde 1974 e foi chanceler do Reino Unido de 1997 a 2001.
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