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PERU
Para candidata à Presidência, que defende a integração econômica de setores defasados, a população saberá votar
Frustração beneficia Humala, afirma Flores
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LIMA
Depois de liderar a maior parte
da campanha presidencial peruana, a candidata de direita Lourdes
Flores, 46, passou as últimas semanas combatendo em duas
frentes. De um lado, não conseguiu evitar que o candidato-surpresa, Ollanta Humala, lhe tomasse o primeiro lugar. Do outro,
tentou se defender do terceiro colocado, o ex-presidente Alan García, que a fez seu alvo preferencial
e conseguiu colar-lhe o rótulo de
"candidata dos ricos".
Ex-deputada, solteira e terceira
colocada nas eleições de 2001, Flores enfrenta o dilema de buscar
um discurso de mudança, como
exige o eleitorado, ao mesmo
tempo em que defende a abertura
econômica e recebe o apoio do
empresariado e da maior parte da
grande imprensa peruana.
Não por acaso, o principal calcanhar-de-aquiles de sua candidatura foi a escolha do controvertido empresário Arturo Woodman para primeiro vice-presidente (há dois vices no Peru). Ex-presidente da poderosa Confiep -o
sindicato das indústrias peruano-, Woodman se envolveu em
um caso de tráfico de influência
com o ex-chefe de inteligência
Vladimiro Montesinos, pivô do
escândalo de corrupção que marcou o fim do autoritário governo
Alberto Fujimori (1990-2000).
Leia a entrevista que Flores concedeu à Folha ontem.
Folha - Segundo as últimas pesquisas, a sra. está na liderança ou
em empate técnico com o ex-presidente Alan García. A sra. se considera no segundo turno?
Lourdes Flores - Sou uma pessoa
muito otimista, acredito que existam razões para estar no segundo
turno. Estou à espera da decisão
do povo, mas confiante.
Folha - A sra. acredita que Humala tenha conseguido impor a agenda dele durante a campanha?
Flores - Eu diria que, de alguma
maneira, o povo, que tem alguma
razão para estar incomodado,
frustrado e desencantado, canalizou inicialmente essa frustração
nesse sentido. Mas acredito que o
país vá meditar muito serenamente até domingo e, à luz dessa
análise, tomar a sua decisão.
Folha - Um problema de sua campanha foi transmitir a imagem de
mudança sem uma visão econômica diferente da que tem o atual governo. Foi a principal dificuldade?
Flores - Lamentavelmente, tenho de reconhecer que os meus
adversários, sem ter o que dizer
de mim, usaram a mentira como
um instrumento para desprestigiar minha candidatura. Mas
acredito que o Peru vai nos dar essa oportunidade e que essas mentiras serão desfeitas. O país sabe
que estou propondo, sim, uma
mudança econômica, com a inclusão da micro e da pequena empresa, do pequeno agricultor, do
trabalhador rural. Ou seja, dando
oportunidade aos setores que não
viram a modernidade de uma forma muito determinante. Em segundo lugar, tenho uma proposta
social renovadora.
Folha - Mas, na macroeconomia,
há diferenças em relação ao governo Alejandro Toledo?
Flores - Minha tese é que não
basta esperar que a economia despenque e que os grandes investimentos sejam a base da nossa
economia. É preciso buscar, em
nosso país, a oportunidade para
que os setores menos modernos
se integrem ao mercado.
Folha - Humala, durante a campanha, foi recebido pelos presidentes Chávez e Lula. Foi uma intromissão em temas peruanos?
Flores - No caso de Chávez, isso
foi descarado. No caso do presidente Lula, ele teve a gentileza de
nos convidar a todos. Nessa primeira etapa, eu declinei esse convite. Para mim, será ótimo poder
visitá-lo. E não descarto que, no
caminho até o segundo turno, eu
faça uma viagem curtíssima para
dar a mão ao presidente Lula.
Folha - A sra. foi duramente criticada pela escolha do empresário
Arturo Woodman. Não faltou um
equilíbrio mais ao centro em sua
candidatura?
Flores - Destaco nessa pessoa
seus méritos de serviço ao país.
Acredito que houve um pouco de
mesquinharia contra ele.
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