São Paulo, sábado, 08 de abril de 2006

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PERU

Para candidata à Presidência, que defende a integração econômica de setores defasados, a população saberá votar

Frustração beneficia Humala, afirma Flores

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LIMA

Depois de liderar a maior parte da campanha presidencial peruana, a candidata de direita Lourdes Flores, 46, passou as últimas semanas combatendo em duas frentes. De um lado, não conseguiu evitar que o candidato-surpresa, Ollanta Humala, lhe tomasse o primeiro lugar. Do outro, tentou se defender do terceiro colocado, o ex-presidente Alan García, que a fez seu alvo preferencial e conseguiu colar-lhe o rótulo de "candidata dos ricos".
Ex-deputada, solteira e terceira colocada nas eleições de 2001, Flores enfrenta o dilema de buscar um discurso de mudança, como exige o eleitorado, ao mesmo tempo em que defende a abertura econômica e recebe o apoio do empresariado e da maior parte da grande imprensa peruana.
Não por acaso, o principal calcanhar-de-aquiles de sua candidatura foi a escolha do controvertido empresário Arturo Woodman para primeiro vice-presidente (há dois vices no Peru). Ex-presidente da poderosa Confiep -o sindicato das indústrias peruano-, Woodman se envolveu em um caso de tráfico de influência com o ex-chefe de inteligência Vladimiro Montesinos, pivô do escândalo de corrupção que marcou o fim do autoritário governo Alberto Fujimori (1990-2000).
Leia a entrevista que Flores concedeu à Folha ontem.

 

Folha - Segundo as últimas pesquisas, a sra. está na liderança ou em empate técnico com o ex-presidente Alan García. A sra. se considera no segundo turno?
Lourdes Flores -
Sou uma pessoa muito otimista, acredito que existam razões para estar no segundo turno. Estou à espera da decisão do povo, mas confiante.

Folha - A sra. acredita que Humala tenha conseguido impor a agenda dele durante a campanha?
Flores -
Eu diria que, de alguma maneira, o povo, que tem alguma razão para estar incomodado, frustrado e desencantado, canalizou inicialmente essa frustração nesse sentido. Mas acredito que o país vá meditar muito serenamente até domingo e, à luz dessa análise, tomar a sua decisão.

Folha - Um problema de sua campanha foi transmitir a imagem de mudança sem uma visão econômica diferente da que tem o atual governo. Foi a principal dificuldade?
Flores -
Lamentavelmente, tenho de reconhecer que os meus adversários, sem ter o que dizer de mim, usaram a mentira como um instrumento para desprestigiar minha candidatura. Mas acredito que o Peru vai nos dar essa oportunidade e que essas mentiras serão desfeitas. O país sabe que estou propondo, sim, uma mudança econômica, com a inclusão da micro e da pequena empresa, do pequeno agricultor, do trabalhador rural. Ou seja, dando oportunidade aos setores que não viram a modernidade de uma forma muito determinante. Em segundo lugar, tenho uma proposta social renovadora.

Folha - Mas, na macroeconomia, há diferenças em relação ao governo Alejandro Toledo?
Flores -
Minha tese é que não basta esperar que a economia despenque e que os grandes investimentos sejam a base da nossa economia. É preciso buscar, em nosso país, a oportunidade para que os setores menos modernos se integrem ao mercado.

Folha - Humala, durante a campanha, foi recebido pelos presidentes Chávez e Lula. Foi uma intromissão em temas peruanos?
Flores -
No caso de Chávez, isso foi descarado. No caso do presidente Lula, ele teve a gentileza de nos convidar a todos. Nessa primeira etapa, eu declinei esse convite. Para mim, será ótimo poder visitá-lo. E não descarto que, no caminho até o segundo turno, eu faça uma viagem curtíssima para dar a mão ao presidente Lula.

Folha - A sra. foi duramente criticada pela escolha do empresário Arturo Woodman. Não faltou um equilíbrio mais ao centro em sua candidatura?
Flores -
Destaco nessa pessoa seus méritos de serviço ao país. Acredito que houve um pouco de mesquinharia contra ele.


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