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Ato pune violação da ordem democrática, diz testemunha
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Membro da equipe de jornalistas que descobriu e investigou o massacre de La Cantuta,
Ricardo Uceda avalia que a sentença contra Fujimori avança
ao demonstrar a culpa do líder
de um regime ditatorial. Mas
diz que sua vitória sobre o Sendero Luminoso e as reformas
econômicas continuarão lhe
dando força política. Uceda, 55,
é autor do livro "Morte no Pentagonito: Os Cemitérios Secretos do Exército Peruano", e
participou do processo contra
Fujimori na condição de testemunha. Leia, a seguir, a entrevista à Folha, por telefone:
FOLHA - Qual é a importância da condenação?
RICARDO UCEDA - Tem importância jurídica, política e histórica. Significa uma mudança na
forma de administração de Justiça na América Latina para
mandatários que violaram a ordem constitucional. A decisão
demonstra como, num sistema
ditatorial, quem está no topo é
responsável por tudo. O importante é a culpabilidade de alguém que subverteu a ordem
democrática para poder governar, abrindo espaço para que
esses crimes fossem possíveis.
FOLHA - O sr. foi testemunha do
processo. Qual é o grau de envolvimento do ex-presidente nos casos
de La Cantuta e Barrios Altos?
UCEDA - Eu me limitei a relatar
o que ocorreu nos mandos executores dos crimes. Eu não tinha provas do nível de conhecimento de Fujimori. O tema de
quanto Fujimori sabia da organização desses crimes era muito importante e tomou boa parte do processo. Mas há abundante informação sobre o que
Fujimori encobriu e deixou de
fazer depois dos crimes.
FOLHA - O seu livro descreve crimes militares no primeiro mandato
de Alan García (1985-1990), atual
presidente. Ele poderia ser julgado?
UCEDA - É um risco remoto. A
acusação contra García está
bloqueada pelo tema da prescrição. Mas a discussão sobre a
pertinência desse julgamento
ainda está viva. Não estou dizendo que esses políticos [anteriores a Fujimori] deveriam ser
declarados culpados, mas que
deveria haver um processo para determinar sua participação.
A verdade que está ficando é
que só houve atos isolados das
forças militares ou policiais,
quando há muitos casos de povoados inteiros eliminados por
serem considerados comprometidos com a subversão.
FOLHA - Fujimori, além da condenação, também será lembrado pela
vitória sobre o Sendero Luminoso.
Qual é o seu legado ao país?
UCEDA - A sua comunicação
política com o povo, o fato de
ter se dedicado a fazer obras em
povoados isolados e o ordenamento da economia são feitos
positivos. Parte desse legado foi
a decisão de tomar as rédeas da
luta contra a subversão. Mas
tudo isso foi ofuscado pelo golpe de Estado que rompeu a ordem democrática e alimentou
uma corrupção inaceitável.
FOLHA - A Comissão da Verdade relata a morte de quase 70 mil pessoas. Qual é o próximo passo?
UCEDA - Lamentavelmente, há
uma divisão ideológica em relação ao que ocorreu na luta contra o terrorismo. O relatório da
comissão -exaustivo e honesto- é contestado por setores
responsáveis pelas violações.
Mas também é certo que o fato
de que houve um setor político
[de esquerda] preponderante
na comissão abre espaço para
que haja uma discussão cheia
de ódio sobre o trabalho.
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