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MÉXICO
O excêntrico prefeito de Cidade do México se fortalece como presidenciável após denúncias que quase o derrubaram
López consolida favoritismo após crise
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL À CIDADE DO MÉXICO
Desde que assumiu a Prefeitura
da Cidade do México, em 2000, o
esquerdista Andrés Manuel López Obrador concede diariamente uma entrevista coletiva no Palácio do Governo. Tão raro quanto
a freqüência é o horário estabelecido para o encontro com os jornalistas: 6h30.
Na última terça-feira, a reportagem da Folha e mais 30 colegas
madrugadores da imprensa mexicana lotavam a pequena sala
destinada às entrevistas, dentro
do Palácio de Governo, na histórica praça Zócalo, centro da capital.
Caminhando rapidamente, López, 51, terno impecável e cabelo
cuidadosamente penteado, chega
à sala e logo começa a responder
às perguntas, gritadas pelos jornalistas como se estivessem dando lances num leilão.
Naquele dia, e provavelmente
durante todo o mês de abril, López não ouviu nenhuma pergunta
sobre a sua administração ao longo dos 40 minutos da coletiva,
apesar de governar a maior cidade da América Latina. A entrevista não era com o prefeito da Cidade do México. Estava ali o líder
mais popular do país, favorito para as eleições presidenciais do ainda distante 2 de julho de 2006, e
que, dias atrás, conseguira reverter um processo político que o
ameaçava colocar na cadeia e tirá-lo da disputa presidencial.
Vários jornalistas queriam detalhes antecipados do encontro
marcado para anteontem à noite
com o presidente Vicente Fox.
Também houve perguntas sobre
quando ele se desincompatibilizaria do cargo para disputar as prévias do seu partido, o PRD (Partido da Revolução Democrática).
Considerada uma excentricidade do ex-prefeito, a "mañanera"
foi uma das principais armas de
López nos meses em que se arrastou a crise política, iniciada em 17
de maio do ano passado, quando
a Procuradoria Geral da República pediu à Câmara dos Deputados
sua perda da imunidade para poder processá-lo criminalmente.
"Pessoalmente, ele conversa
normalmente. Para a imprensa,
fala muito devagar, porque pensa
duas, três vezes", disse à Folha o
analista político Lorenzo Meyer.
"Não conheço ninguém que dê
coletivas diárias. Mas, como estava sob ataque, elas faziam sentido.
Era uma guerra de guerrilhas, e
ele era o guerrilheiro na notícia."
A crise atingiu o ápice no início
de abril, quando López, acusado
de desobedecer a uma ordem judicial ao construir uma pequena
via de acesso na periferia da cidade, perdeu a imunidade após um
acordo na Câmara entre o tradicional PRI, que governou o país
por quase todo o século passado,
e o PAN, do presidente Fox.
Criticada dentro e fora do país, a
decisão provocou uma rápida
reação de López. Em entrevistas,
comparou-se a Gandhi e a Martin
Luther King e disse que faria a
campanha de dentro da cadeia.
Mas a grande demonstração foi
quando o prefeito conseguiu reunir na praça Zócalo cerca de 1 milhão de pessoas no dia 24 de abril,
na maior manifestação realizada
nos últimos anos no país.
Após defender o processo dizendo que "no México ninguém
está acima da lei", Fox, acuado e
sob pressão, aceitou a demissão
do procurador-geral Rafael Macedo de la Concha, principal impulsionador do processo contra
López. No lugar, nomeou Daniel
Cabeza de Vaca com a incumbência de encerrá-lo -ou seja, desfazer tudo o que o antecessor fizera.
Tentando encerrar de vez o caso, Fox recebeu López para uma
reunião a sós. Na saída da conversa, que durou 20 minutos, o prefeito disse que expressou a Fox
sua disposição para "contribuir
para que as eleições de 2006 sejam
livres, limpas e em paz". Fox não
havia se pronunciado até o fechamento desta edição.
"Todos os partidos perderam
nesse processo", afirma o analista
Gabriel Guerra. "O que menos
perdeu foi o PRD, pois mostra
que tem um certo nível de ordem
e coesão. Isso, para qualquer partido político de esquerda na América Latina, já é uma grande vantagem. Segundo, López demonstrou um poder muito importante
de convocação. Terceiro, conseguiu manter a ordem na mobilização. Isso foi muito importante
para sua imagem em muitos setores de classe média alta".
López saiu da crise com uma
popularidade ainda maior e lidera
todas as pesquisas de intenção de
votos. Para analistas, não é suficiente. O PRD, fundado em 1989,
ainda tem pouca penetração, e o
PRI voltou a ganhar espaço nos
Estados. Apesar da confusão, a
campanha está só começando.
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