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AMÉRICA LATINA
Grupo representa quase metade da população, mas enfrenta falta de políticas e indefinições econômicas
Indígena vê "dança das cadeiras" no Equador
LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A QUITO
Determinantes para a queda dos
ex-presidentes Jamil Mahuad e
Abdalá Bucaram, as populações
indígenas do Equador mantiveram-se à margem do processo
que culminou na destituição de
Lucio Gutiérrez em 20 de abril.
Embora tenham apoiado o protesto, levado às ruas sobretudo
pela classe média de Quito, seu
suporte foi velado e distante, sem
as marchas que caracterizaram os
movimentos anteriores.
"A Conaie não quer se envolver
com os "politiqueiros", e esse processo começou com eles", disse à
Folha Manuel Castro, diretor de
comunicação e um dos dirigentes
da Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador.
Para a confederação, o movimento que tomou corpo nas ruas
de Quito, tirou Gutiérrez do palácio de governo e soprou sobre o
Congresso -de onde foram destituídos nove deputados e outros
seis renunciaram- não foi muito
mais do que uma dança das cadeiras, na qual os mesmo grupos e a
mesma agenda continuam no comando do país.
"Para os indígenas esse governo
de Alfredo Palacio não significa
nenhum conserto ideológico para
o país. Vamos continuar submetidos a um Estado burguês", diz
Castro, que usa os longos cabelos
pretos presos numa trança e o
chapéu preto típico dos nativos
dali. Na Conaie, todos se vestem
assim. Nas ruas de Quito, também é comum ver os indígenas
envergando os ponchos coloridos
típicos da região andina, distinguindo-se da escassa população
branca, dos raros negros e da
maioria mestiça.
Eles são hoje 5 milhões dos 13
milhões de equatorianos, pelas
contas da própria Conaie. Aparecem em todos os setores da sociedade -embora a grande maioria
esteja entre os menos favorecidos
na escala econômica-, atuam
nas mais diferentes áreas, preservam sua cultura e estão organizados. Mas, ainda assim, encontram
pouco lugar nas decisões políticas
do país.
"O maior problema dos indígenas do Equador hoje é a falta de
vontade política dos governantes", diz Castro, afirmando que
todas as propostas apresentadas
pela Conaie ou não chegam a ser
ouvidas ou não são levadas a sério. "A situação econômica das
populações indígenas praticamente não está definida, porque
não existe uma política econômica específica para nós", afirma.
Como conseqüência dessa falta
de políticas, Castro cita a atuação
de empresas estrangeiras em terras indígenas. É o caso da brasileira Petrobras, que tem um bloco
de exploração e produção de petróleo no Parque Yasuní, uma reserva de biodiversidade em terras
indígenas.
"Esse é o nosso problema número dois. Nos lugares que há
atuação de empresas estrangeiras
em terras indígenas, sobretudo
com o petróleo, a biodiversidade e
as condições humanas se deterioraram", afirma. Segundo Castro,
os moradores dessas áreas quase
sempre ficam excluídos do processo de concessão.
Castro acredita que os políticos
equatorianos ainda estejam impregnados de uma mentalidade
colonialista, que os faz ver com
má vontade ou desconfiança as
propostas apresentadas pelo grupo. "Eles acham que a proposta
indígena não serve, é um retrocesso ou tem de ser mais bem organizada. Só que nós já temos as coisas suficientemente definidas e
discutidas", afirma.
Entre os pontos principais, defendem a educação bilíngüe e o
conselho nacional de desenvolvimento para os povos indígenas.
Ainda que não exista um contentamento com Palacio, os integrantes da Conaie celebraram a
destituição de Gutiérrez, a quem
consideram um dos piores presidentes de todos os tempos para
com a população indígena.
Aliadas no início -o presidente
da Conaie, Luiz Macas, chegou a
ser ministro da Agricultura nos
seis primeiros meses de governo-, as duas partes se desentenderam depois de o presidente relegar a causa indígena a segundo
plano.
"A condição era que sentássemos juntos, Gutiérrez, a Conaie e
o Pachakuti [braço político da
Conaie], e traçássemos planos para mudar o país. Mas estávamos
falando sozinhos, então cortamos
a aliança."
A principal crítica é aos acordos
assinado por Gutiérrez com governos e empresas estrangeiras
-como a autorização para a operação da base de Manta, mantida
pelo governo dos EUA em terras
indígenas.
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