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CUBA
Para diplomata americano ridicularizado em vinhetas, ataques mostram que o regime vê transição como "inevitável"
Desenho animado é nova arma cubana contra os EUA
MARINA DELLA VALLE
DA REDAÇÃO
Apontado por Fidel Castro como o pivô da onda de repressão
em Cuba em 2003 -com saldo de
75 dissidentes condenados a até
28 anos de prisão e o fuzilamento
de três homens que seqüestraram
uma lancha-, o chefe da Seção
de Interesses dos EUA em Havana, James Cason, enfrenta desde
fevereiro outro "round" de ataques, desta vez em forma de desenhos animados na TV estatal que
o ridicularizam diretamente.
São seis animações abordando
assuntos como vacinação, educação e direitos humanos. Neles, "el
cabo Cason"- a versão do governo cubano para o diplomata-
aparece, por exemplo, como uma
fada madrinha que transforma a
escola José Martí na Richard Nixon High School, que apresenta
um ostensivo detector de metais
na entrada. Em todos, Cason termina perseguido e escorraçado.
"Realmente não me importa
que o governo cubano me use para aterrorizar o público cubano.
Tenho certeza de que eles entendem muito bem o que está por
trás disso", diz Cason à Folha. "Os
desenhos demonstram que o regime está preocupado com tanta
falação entre os cubanos sobre
um futuro sem Fidel, democrático. Reconhecem que uma transição é inevitável, queiram ou não."
Cason reconhece que os desenhos animados divertem o público e já está acostumado a respostas do estilo. No Natal de 2004, enfeitou o prédio da Seção de Interesses dos EUA com um luminoso na forma do número 75 -alusão aos dissidentes presos por
participarem de atividades na representação americana. Fidel respondeu com um outdoor diante
do prédio da representação com
fotos dos maus-tratos cometidos
por soldados dos EUA contra presos em Abu Ghraib, no Iraque.
O local ainda foi palco de uma
marcha contra a política norte-americana em relação a Cuba que
reuniu de 1,2 milhão de pessoas,
segundo os organizadores. Observadores avaliaram a multidão
em "centenas de milhares".
O ato foi visto por alguns analistas como uma das maiores manifestações pró-Fidel nos últimos
anos. Cason duvida. "Se fosse
possível falar com o povo cubano
fora do alcance do governo, acredito que diriam que participam
das marchas por serem obrigados", diz. "Somente se um cidadão cubano participa da vida política como o governo pede poderá
estudar em uma universidade, ter
uma carreira que lhe agrade..."
O estilo combativo de Cason,
aliado ao endurecimento da política americana em relação a Cuba,
causou reações inflamadas. O ex-diplomata americano Wayne
Smith, que chefiou a representação em Havana de 1979 a 1982 antes de deixar a carreira por discordar da política dos EUA sobre a
ilha, classifica Cason como "provocador" e diz que as atitudes do
diplomata derivam de instruções
detalhadas de Washington, tese
corroborada por Fidel.
"Fidel considera "provocativa"
qualquer ação que não esteja dentro de suas preferências", diz Cason. "É o regime de Fidel que provoca o resto do mundo com suas
violações dos direitos humanos
de cubanos indefesos."
Ele acabou deflagrando uma escalada de repressão com a prisão
de 75 dissidentes, acusados de serem "mercenários" por supostamente aceitar dinheiro dos EUA
distribuído pelo diplomata. Catorze foram libertados. Cason distribuiu milhares de rádios e cópias da Declaração Universal dos
Direitos Humanos aos cubanos.
Fidel acusa Cason de ser enviado por Washington com o propósito de provocar Cuba e forçar
uma invasão americana à ilha, citando uma conjunção entre as atividades da comunidade dissidente e de opositores ao regime na
Flórida e a política de imigração
facilitada para cubanos nos EUA
como o combustível para o incidente do seqüestro da lancha, em
abril de 2003, e de supostos ataques a aviões cubanos ao estilo do
11 de Setembro.
"O ditador Fidel insiste em aterrorizar o povo cubano com uma
iminente invasão americana.
Funcionários de vários níveis do
governo dos EUA já disseram e eu
repito: os EUA não têm intenção
de invadir Cuba. Claro que, para
Fidel, não é conveniente acreditar
em nossas afirmações", diz. "Se os
EUA não existissem, Fidel diria
que os marcianos invadiriam Cuba. O fim é claro: encontrar um
inimigo externo que justifique
controlar e manter oprimidos os
cubanos. Fidel está aferrado ao
poder no qual se converteu no
"grande ditador", não só do continente, mas do mundo."
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